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Quem entrou na roda foi uma boneca

Foi uma boneca doutô

Foi uma boneca

Reunidos em uma roda, o grupo de estados batia palma e acompanhava o cantador, Pernambuco, enquanto a baiana sambava e rodava no meio da roda.

As pernas se moviam com rapidez, com a certeza de quem sabia o que estava fazendo.

Encantado, um pequeno RJ entrou na roda e depois de alguns segundo olhando para as pernas da baiana tentou imitar os movimentos.

Spoiler: suas pernas eram curtas demais para isso, e ele ficou frustrado. 


*

— Oi santinha!

A voz de Luciano é ouvida logo após a câmera apontar para uma menina.

Uma pequenina com uma coroa de flores na cabeça e várias flores coladas no vestidinho. Seus cachinhos vão até a metade das suas costas. No olhar, ela exibe aquela expressão travessa de quem acabou de aprontar alguma coisa.

— Oi papi!

— O que você tá fazendo?

— Nada. — Ela responde rápido.

— Tem certeza?

— Tenho.

ES coloca as mãos para trás e se balança de leve. Ela solta um risinho travesso e leva um dos dedinhos na boca.

— Então por que o Paulo tá assim?

A câmera aponta para um menino de cabelos pretos e cara emburrada. Ele segura uma caneca de plástico e a sua frente tem um pratinho com alguns biscoitos (ou bolachas). Seu cabelo preto com franja de emo está enfeitado com uma coroa de flores semelhante à de ES.

— Eu queria deixar ele fofo. — Responde a pequena.

A risada de Luciano é escutada.

— Você gostou Paulinho? — Ele pergunta.

— Não. 


* 

A imagem é um pouco escura, mas graças a uma lanterna de um celular, é visível um menino de cabelos loiros e um pijama com estampa de ondas.

— Uma hora da manhã, — a voz de PE se faz presente — a gente aqui no milésimo sono — a câmera vira para a baiana ao lado de seu namorado — do nada o menino chega pedindo o que? Fala o que tu quer.

— Qué cucuz. — O pequeno sussurra.

— É o que? — A baiana pergunta mais uma vez.

— Eu quélo cucuz.

— Tu quer cuscuz? — Pernambuco pergunta e o pequeno assente — Uma hora dessas tu quer comer cuscuz.

Mais uma vez o menino balança a cabeça em confirmação.

A câmera aponta novamente para a baiana, agora esfregando os olhos.

— Eu faço ou você faz? — O pernambucano pergunta.

— Par. — Diz a baiana mostrando a mão em punho fechado.

— Ímpar. — PE faz o mesmo que a namorada — Um, dois, três e já.

Bahia mostra três dedo e Pernambuco coloca quatro. Para variar, ele perdeu.

— Mas que po-



Luciano posiciona a câmera em um lugar aonde ela finalmente não irá cair. Sério, ele já rodou a casa toda, pegou diversas coisas que podia utilizar para apoiar, mas a câmera sempre caia. Como não havia quebrado até agora? Bem, vai saber.

Ele se abaixou e voltou a visão da câmera segurando uma criança pequena no colo. Para variar, Luciano o vestiu com uma camisa preta e branca listrada, uma jaquetinha vermelha e com calça e gorro preto. E é claro, a franja de emo de SP estava ali.

O cenário é a sala de jantar da casa, e Paulo não podia estar com uma cara mais de tédio do que agora. Até sua chupeta trevosa do Batman estava mais interessante do que Luciano arrumando as coisas em volta.

Sua ideia era gravar um vídeo igual aos de PE fazendo penteado no cabelo de Paulo. Mas ele esqueceu o mais importante: os materiais para fazer o penteado. Por isso ele voltou correndo.

— Fica quietinho viu Paulo.

Paulo o encarou com cara de tédio. Muito deboche para pouca idade.

De repente, o pequeno se viu sozinho e na mesa de jantar estava um item que lhe chamou muita atenção. Uma caneca preta com o mesmo símbolo da sua chupeta.

Rapidamente ele ficou de pé na cadeira e as mãozinhas seguraram a caneca com um líquido preto no fundo. Aquilo era fácil, ele já viu o pai fazendo aquilo muitas vezes. Era quase a mesma coisa que a mamadeira.

Sem pensar, Paulo cuspiu a chupeta longe, colocou a caneca na boca e bebeu o líquido.

— Menino! — Luciano praticamente gritou quando viu Paulo bebendo o café na sua caneca.

Ele correu até a mesa e largou o pente e as liguinhas. Com cuidado ele retirou a caneca das mãozinhas de Paulo.

O menino por outro lado não gostou nem um pouco disso e começou a chorar. Ele havia descoberto uma bebida maravilhosa e agora seu pai não estava o deixando aproveitar. Ah não.

— Eu falei para não deixar as canecas de café atoa por aí boludo

Essa família é muito unidaOnde histórias criam vida. Descubra agora