Fica Comigo ?

Não acredito.

Depois do choque de descobrir que teríamos gêmeos, passamos algumas semanas nas nuvens. Resolvemos adiar a nossa lua de mel para terminar de arrumar a casa, a final, nosso planejamento de três pessoas e a Eva deu uma pequena mudada. Agora seríamos quatro, mais a Eva. Entre caixas que vinham da minha casa, caixas que vinham da casa da Natália, o meu enjoou estava vindo a cada passo que eu dava dentro de casa. Era cheiro de tinta que me enjoava, o cheiro da comida, o cheiro dos produtos que usamos para limpar a casa. Nossa casa era uma versão reduzida da casa da Helena na serra. Pintamos algumas paredes de tons terrosos, na nossa sala não podia faltar meu pôster do Kill Bill e nem algumas câmeras. Tínhamos uma parede bem grande de livros, Natália fez questão de colocar todos por tema e divisão de cores, tínhamos basicamente uma parede arco-íris na sala. 
Nosso quarto saía direto na frente da piscina, tínhamos um banco na beira da grade logo após a piscina, então dava para ver boa parte do Rio chegando, na verdade, uma parte da lagoa e o Cristo. 
Daqui a uns 3 dias eu completo 3 meses de gravidez, já vamos conseguir saber o sexo dos bebês. Passei esses dias com uma cólica muito chatinha, até cheguei a ligar para minha médica e ela falou que, se continuar, era melhor ir ao hospital. Passei o dia na faculdade trabalhando, estava louca para chegar em casa, jantar, ver um filme e ser mimada pela minha mulher.

*Natalia ligando * 

N: Oi, amor. 

C: Oi, vida. 

N: queria saber o que meus filhos querem para a janta.

C: um quer hambúrguer com batata e o outro, quer um temaki.

N: o hambúrguer, eu até consigo. O temaki tenho que comprar. Serve? 

C: Sim. Daqui a uma hora estou chegando em casa. 

Desliguei, estava em um engarrafamento gigante até chegar em casa. Senti umas pontadas no pé da barriga, mas ignorei, ainda tinha muito engarrafamento pela frente. Passei quase 1 hora para chegar em casa, mas cheguei. A Natalia já estava com a mesa pronta. Mas eu precisava loucamente de um banho. 

C: Vida, vou tomar um banho e volto para comer. 

N: tá bom. Eu espero. 

Tomei meio banho, coloquei um blusão assim da Natalia e fui até ela. Ela já estava sentada, cheguei, sentei no colo dela. 

N: tá tudo bem?

C: não sei dizer. Estou com uma dor no pé da barriga, uma cólica horrível. 

N: já falou com a Dr. Isabel? 

C: já, ela falou que, se piorar, é para ir para o hospital. Estou começando a ficar com medo.

N: Calma, já vai passar. Isso não é nada.

Respirei fundo, dei um selinho nela e sentei na outra cadeira e comecei a comer. Ficamos conversando e resolvemos ir ver um filme. Esqueci de contar que pegamos um quarto para fazer uma sala de cinema. Deitamos nas poltrona e começamos a ver o filme. Depois de um certo tempo, senti uma pontada muito forte e levantei.

N: que houve? 

C: nada, vou ao banheiro. 

Disfarcei a dor e fui até o banheiro. Quando cheguei para fazer xixi, assim que tirei minha calcinha, parecia que eu estava morrendo, nunca tinha visto aquela quantidade de sangue. Minha única reação foi gritar pela Natalia.

C: AMOR, CORRE AQUI, RÁPIDO.

Ouvi os passos dela chegarem cada vez mais rápidos.

N: que houve? 

C: eu estou sangrando, preciso ir para o hospital correndo. Eu não quero perder nossos filhos.

Nunca vi a Natalia tão branca e assustada como naquela hora. Ela me pegou e me levou até o carro, ela saiu pegando tudo que via pela frente, fomos de casa até o hospital em completo silêncio, só dava para ouvir meu choro desesperado e a respiração pesada que a Natalia dava. Chegando no hospital, me levaram direto para uma sala. Natalia ficou na recepção assinando uns papéis e tentando convencer alguém de deixar ela entrar na sala comigo.
Passei as piores horas dentro daquele hospital. Fizeram alguns exames até a minha médica chegar. Assim que ela chegou, ela veio trazendo a Natalia junto. Elas não estavam com uma cara muito boa.