4 - Nada mais a perder

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Se o mundo fosse meu, eu te dariaAté a minha religião eu trocaria Por você há tantas coisas que eu fariaMas você não me dá nem as notíciasDarte un beso - Prince Royce

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Se o mundo fosse meu, eu te daria
Até a minha religião eu trocaria
Por você há tantas coisas que eu faria
Mas você não me dá nem as notícias
Darte un beso - Prince Royce

Frederico

Vicenta correu para chamar uma ambulância enquanto Cristina e eu permanecíamos absortos em nossa perplexidade. O desespero tomava conta dela, e estava evidente que ela não se preocupava com o que eu tinha acabado de descobrir. Dentro de mim, contudo, um véu de mentiras e ilusões era rasgado sem anestesia.

Cristina se voltou para o pai, buscando evidências de que não era verdade que Severiano estava inconsciente, sem respirar, e, possivelmente, nunca revelaria o que ela tanto queria saber. Ela repetia, ainda tomada de lágrimas de dor e desespero:

— Minha filha, papai! Você tem que me dizer onde ela está!

Agora tudo estava claro para mim. A frieza dela em relação ao pai, ao casamento e a mim. E, por mais que estivesse magoada com ele, nenhuma filha deixaria de sofrer com a situação do pai. Não, uma tão sensível como Cristina.

Compreendi que, pelo modo desesperado como ela o interrogava, seu medo era que ele morresse e levasse com ele aquele segredo. Aquele impactante segredo. Aparentemente só ele conhecia o paradeiro da tal criança.

Pouquíssimos minutos depois, a ambulância chegou e os paramédicos correram para socorrer Severiano enquanto eu afastava Cristina. Ela juntou as mãos sobre a boca e chorava copiosamente.

Meu peito doía apertado ao presenciar o sofrimento dela, como se... como se eu a amasse. Eu a amparei delicadamente pelos ombros, acariciando-os levemente.

Depois de várias tentativas de reanimação e de muitos minutos lutando para que Severiano voltasse a respirar, os paramédicos recolheram o respirador e o desfibrilador que utilizaram e nos olharam com uma expressão de derrota. Um deles falou:

— Não há nada mais a fazer. Ele está morto!

— Não! — disse Cristina, com a voz carregada de desespero.

Carregada da rebeldia natural da juventude e pelo impacto da dor, ela não conseguiu mais ficar ali e encarar a cruel realidade e saiu correndo. Saiu correndo para o meio da fazenda, rumo à cachoeira onde tantas vezes eu a havia observado nadar e a desejado silenciosamente.

Fui atrás dela. Mas ela não parou. Já no rio, ao lado da cachoeira, eu a alcancei:

— Calma, Cristina, calma! — Implorei.

Cristina olhou para mim e não disse nada. Não conseguia, só via as lágrimas brotarem e escorrerem por seus olhos. Eu a abracei. Por um instante, esqueci o peso de tudo aquilo e como ela estava sendo cruel comigo.

Esqueci-me do peso de uma relação que não havia sido construída e que agora cobrava o preço disso. Acariciei seus cabelos, tentando acalmá-la. Ela não correspondia ao meu abraço, estava com os braços encolhidos no meu torso, ofegante, chorando compulsivamente.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora