Deixa eu te entender.

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                     Daniel Marques

- Cara, você está ferrado.

O Pedro disse enquanto eu rodava pelo quarto. Eu não sei de quem peguei essa mania, eu não sou tão inquieto assim.

- E você super está me ajudando.- Respondi a ele.

- Quando eu trombei com ela, ela estava furiosa.

- Furiosa comigo?- Perguntei.

- Com você, com a Bárbara e se bobiar até comigo.- Falou sentando na cama.

- E o pior é que eu não fiz absolutamente nada, eu não dormi com a Bárbara.

- Mas pareceu.

- Sim, mas eu não dormi.

- Até eu pensaria que sim.

- Cara, você está do lado de quem?- Parei olhando pra ele.

- Eu não estou do lado de ninguém, cara, me se fosse você no lugar dela, pensaria a mesma coisa.

- Você não está me ajudando.- Voltei a andar.

- Eu vim aqui tentar de ajudar, mas não vou passar pano pra você. Não era pra você ter deixado ela entrar no seu quarto semi nua.

- Cara, ela estava me ameaçando!- Falei alto.

- Você é mais velho que ela, você deveria impor limites naquela garota.

- Cara, se você veio aqui só pra encher mais a minha cabeça, pode dar meia volta.

- Cara, eu não..

- Quer saber?- Eu o interrompi.- Fica aqui, eu vou dar uma volta.

Sai do quarto batendo a porta, essa porta maldita só me trás problemas, aliás. Segui reto pelo mesmo corredor e sai pela primeira porta que eu vi pela frente, tem um banco logo ali na frente, acredito que essa parte da casa seja ignorada por essas garotas, e eu preciso pensar um pouco, então vou pra lá.

Tem uma árvore aqui, um limoeiro, eu mesmo plantei quando criança, ele cresceu comigo e eu tenho um apego a ele, o banco foi o meu pai quem colocou, ele disse que sempre que eu estivesse triste, vir pra cá e lembrar do dia que plantei o limoeiro..

- Está me perseguindo?

Quase caio pra trás pelo susto que levei, olho pros lados pra procurar de onde veio a voz mas não acho nada, será que é voz do além que veio cobrar meus pecados semanais? Ta repreendido, logo começo rezar ave maria.

- Aqui, idiota!- Escuto a voz de novo.

Inclino a cabeça pra olhar de trás de árvore e lá está ela, Helena.

Nesse momento eu preferia que fosse a voz do além.

- Ah, oi Helena.- Falei baixo.

Ela sai de trás da árvore e senta do meu lado no banco, em total silêncio, ela olha pro baixo e mexe os pés no ar, já que eles não chegam até o chão.

- Helena?- Chamei olhando pra ela.

- Hm?- Respondeu ainda olhando pra baixo.

- Não acha que a gente tem que conversar?- Perguntei.

- Eu não acho nada.- Falou, ainda sem olhar pra mim.

- Fala sério, prefere que esse clima estranho entre a gente continue do que falar comigo?

- Talvez esse "clima estranho".- Fez aspas com os dedos.- Entre a gente não existisse se você não dormisse com todas as garotas do convento.- Falou olhando pra mim finalmente.

O Filho do Padre | Daniel Marques Onde histórias criam vida. Descubra agora