20°capítulo

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Aiden Dark

INÚTIL;
BURRA;
INCOMPETENTE.

Essas são umas das muitas palavras que desejo usar nesse momento. Minha mente grita para proferi-las.

Sinto-a enrijecer e ficar tensa no momento em que bate os olhos em mim.

Ela se encontra extremamente descabelada, com o rosto todo vermelho e a maquiagem borrada. O vestido está sujo e ela usa apenas um dos saltos, que se encontra com a sola quebrada.

Ela se parece mais com uma maluca que fugiu do hospício do que com a belíssima mulher que chegou comigo.

Ao levantar os olhos dela para observar melhor o que se passa, encontro a Eduarda e a Megan do outro lado do círculo que se formou, em estados perturbadores.

A Eduarda está com o nariz e o braço sangrando. Já a Megan tem o vestido todo rasgado, a maquiagem borrada por lágrimas, marcas de dedos no rosto e no pescoço. O cabelo loiro agora parece um amontoado de palha, a cara toda inchada, não sei se de chorar ou de apanhar. Ela está sentada no chão se contorcendo toda enquanto grita alto e puxa o cabelo. Ixi. Apanhou e agora tá se automutilando.

Confesso que minha vontade é de soltar uma gargalhada igual ao que o Matheus está dando nesse momento, e eu até o faria se a minha "namorada" não estivesse metida nessa confusão.

A única coisa que passa pela minha cabeça agora é saber como vou conseguir a guarda da minha pequena se o juiz achar que a minha namorada é uma desequilibrada.

Eu poderia gritar com ela, mas isso não resolveria nada, apenas complicaria tudo. Então, simplesmente a puxo para perto e verifico se ela tem algum machucado.

– Além de ser uma pobretona oportunista, ela é uma selvagem. – ouço a Eduarda gritar para as pessoas ao redor.

O choque do reconhecimento inunda a minha mente. Agora tudo faz sentido. Acho que nem vai ser preciso perguntar para saber o motivo dessa briga.

O pior é saber que a culpa foi minha. Eu não devia tê-la deixado sozinha.

Não sei se posso julgá-la por essa reação. Afinal, sei muito bem o quanto essas mulheres conseguem ser insuportáveis.

Talvez a culpa não seja dela, mas sim minha. Talvez eu seja o culpado por isso ter acontecido. Além de trazê-la para este lugar cheio de abutres, ainda fiz questão de deixá-la sozinha. Não duvido nada que tenha sido humilhada e ultrajada no meio desses...

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Laura
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Caralho. O que se passa pela minha cabeça. No momento que encontro os olhos do Aiden, percebo que ferrei com tudo.

Seus olhos estão terrivelmente nublados, contendo uma raiva enorme.

Não me encorajo a tentar dizer uma palavra, mesmo ouvindo aquelas duas pragas ainda me xingando.

Na minha cabeça, apenas passam imagens do meu pai e posso ouvi-lo a culpar-me por ter estragado tudo... novamente.

Finalmente encontrei uma forma de manter o meu pai a salvo sem precisar matar a mim e minha família de tanto trabalhar, e eu acabei de estragar tudo.

De certo que o Aiden não vai querer manter essa farsa, não depois de eu ter arruinado todas as possibilidades dele ter a sobrinha de volta.

Eu sou uma imprestável mesmo. Estou tão imersa em meus pensamentos que nem mesmo sinto quando o Aiden me retira de dentro do salão. Só venho a perceber que estamos do lado de fora quando param os farfalhares de vozes e sinto uma brisa um tanto quanto fria em meu rosto.

Nesse momento, levanto o meu rosto para observá-lo. No momento em que o encontro com o maxilar travado e os olhos nebulosos, percebo que é momento de pedir por uma nova chance, mesmo que isso signifique me humilhar.

– Desculpa – sussurro, mas não obtenho resposta. Pra falar a verdade, ele nem ao menos pisca para indicar que ouviu, só segue caminhando para o lugar onde se encontra o carro com o motorista.

– Aiden – o chamo, mas novamente não obtenho resposta, por isso paro no meio da estrada que estávamos atravessando, obrigando-o a parar também.

Por um momento eu fico em silêncio, esperando que ele diga algo, mas ele não fala nada. Simplesmente me encara enquanto espera que eu diga algo.

Mas o que eu poderia dizer? Que me arrependo muito? Que não vou voltar a fazer isso?

Eu pus tudo a perder, agora é implorar pra ver se consigo tocar em uma pontinha do seu coração para que ele continue me ajudando, nem que seja pagando 10%. Poderia ser a doação de caridade do mês pra ele.

– Você vai cancelar o nosso contrato? – pergunto em tom suficiente para que ele ouça. Afinal, às vezes pode parecer que não tenho vergonha na cara, mas eu tenho, poxa.

O animal na minha frente, talvez pra me torturar ainda mais, sem saber da resposta, simplesmente bufa e me dá as costas, caminhando em direção ao carro e logo entrando nele. Ao que tudo indica, o motorista não se encontra presente, o que me faz pensar em como ele voltou pra casa sem o carro.

– Vai vir ou não? – pergunta ele, claramente puto, com a cabeça de fora pela janela.

Vou quase correndo pro carro e ocupo o espaço do passageiro na frente.

Assim que coloco o cinto, ele arranca com o carro e a única palavra que me dirige é pedindo (ordenando) que eu coloque o meu endereço no GPS.

Assim, tomamos a direção à minha casa. Eu até diria que está sendo uma viagem tranquila, mas fica meio difícil dizer isso estando com o fiufiu trancado de medo.

Não sei o que me preocupa mais... O fato de provavelmente ter perdido a oportunidade de salvar o meu pai, a carranca do Aiden ou a porra da velocidade que esse desgraçado está dirigindo esse carro.

Eu poderia reclamar? Sim. Mas no momento, ele pode me mandar lamber o chão que eu vou caladinha.

Ele acabou de estacionar na entrada do meu prédio, destravou a porta do carro e provavelmente está esperando eu descer, mas não consigo. Não consigo sem saber o que será do meu pai amanhã. Não consigo e nem posso.

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