Capítulo 15 - O Além das Flores

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Durante o caminho de casa, ambos ficaram sem conversar. Um silêncio sepulcral incomodou Yuhan que ainda estava nervoso. Ele não sentia a energia de Yuná fluir como antes e temeu que Elrik ou Nica tivessem feito alguma coisa de ruim a ela. Depois do que ouviu de Mihai ele passou a desconfiar das intenções de seus superiores.

Yuhan fez um desvio e seguiu para um lugar de consolo muito popular na cidade, não muito longe do bairro onde mora o atravessador. Por ser uma região mais naturalista, não havia muitas casas próximas, mas era possível ver certa quantidade de almas que caminhavam por lá em busca de alívio para suas memórias ruins.

— Onde estamos? — Perguntou Yuná ao se deparar com enormes portões em frente a um lugar florido.

— Este é o maior parque da cidade. Chamamos de Além das Flores. — Ele respondeu ajudando a moça a descer da moto.

— Ah que legal! — Yuná parecia retomar um pouco seu brilho com sua aparente alegria.

— Para cada flor que morre no mundo mortal, nasce uma flor aqui. Sua memória dura por algum tempo e depois se apaga. Por ser um parque grande, nós aproveitamos para permitir a habitação de espíritos animais que já morreram. — Explicou Yuhan ajeitando seu sobretudo bagunçado pelo vento.

— Animais?? Mas eles não possuem alma!? Como podem habitar aqui? — Perguntou Yuná um pouco mais empolgada.

— De fato não. Não possuem alma, mas eles marcam o cosmos com sua existência. Os animais domésticos, por exemplo, além disso, também criam vínculos com seus donos, por isso os trazemos para este reino. Os selvagens, em específico, ficam aqui no parque. Os domésticos reencontram seus donos após suas mortes, mas são apenas rastros de energia em nosso universo, não são mais criaturas com consciência.

— Mas se as flores desaparecem e deixam apenas rastros de memória, os animais também não deveriam sumir? — Ela perguntava enquanto tocava em uma florzinha que brotou no chão na entrada do parque.

— Eles não desaparecem porque possuem uma energia vital mais forte do que a das plantas... — Argumentou Yuhan.

Se distraindo ao ouvir a explicação, Yuná saiu deixando-o falar sozinho e começou a explorar o lugar, extasiada. A entrada do parque era um caminho de pedras com arcos florais em uma estrutura que enfeitavam a passagem criando um túnel florido. As flores simplesmente nasciam pelo contorno dos arcos acompanhando o caminho em que percorriam.

Nas laterais, havia canteiros com tulipas vermelhas e brancas revezando o desenho do caminho listrado que elas seguiam. Onde havia grama, ela percebeu que estava tudo muito bem podado e na maior parte da campina, que ela podia ver à sua direita, havia mesas e bancos espalhados por todos os lados onde almas estavam sentadas e aparentemente reflexivas. Viu espíritos de coelhos saltando por aqueles lados e uma alma de aura esverdeada interagia animada com um daqueles animaizinhos azulados, quase translúcidos.

Yuhan parou de explicar e ficou observando aquela alma caminhar pelo parque admirando cada flor ao seu redor. Ele achou engraçada a reação dela. Almas penadas raramente se importavam com flores ou animais, a não ser consigo mesmas e suas memórias. Seguiu Yuná sem interromper seu surto de alegria. Se sentiu feliz junto com ela e nem sabia por que aquela animosidade o contagiava.

Em meio àquele belo jardim, Yuná lhe parecia aos olhos mais uma flor delicada em meio a tantas outras, porém viva, quase real. Aquela cena o fez esquecer momentaneamente das preocupações que o atormentaram há alguns minutos atrás. Ficou satisfeito por ter escolhido aquele lugar. Foi melhor do que a praia.

Entrando no parque, o caminho de pedras terminou e deu lugar a um grande bosque com flores sortidas de todas as cores e espécies. Uma alma, que apreciava aquelas florzinhas, possuía cabelos cacheadinhos e curtos, com um vestido floral combinando com aquele campo e emanando uma pálida aura azul, se aproximou sorrindo e sem dizer nada entregou para Yuná uma rosa branca que segurava em suas delicadas mãos. A brilhante alma aceitou e sorriu de volta em agradecimento.

Além das Flores - CONCLUÍDO ( 44 de 46)Onde histórias criam vida. Descubra agora