Capítulo 20

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Pequenos cristais de gelo. Cintilando. Brilhando contra o vidro no último momento de luz do dia que ia embora. Jk jogou mais uma lenha no fogo, erguendo as mãos diante dele por um minuto, grato pelo milagre do calor. Às vezes, as chamas ainda pareciam... sagradas, como na primeira vez em que as sentiu após ter vivido tantos dias e noites miseráveis de inverno com nada além de frio. Gelo. Sofrimento. Solidão.

Um retumbar o fez pausar, inclinando a cabeça para ouvir melhor. Um veículo? Choque e medo o transpassaram. Foi rapidamente até a janela frontal, arregalando os olhos ao ver a mesma caminhonete grande que Jimin dirigia, movendo-se devagar ― com cuidado ― pela floresta em direção à casa dele.

Jk ficou observando o carro até parar e, um minuto depois, Jimin desceu dele, com uma bolsa que parecia estar pesada em seu ombro, caminhando até o local onde estava a toca das raposas e olhando lá dentro. Quando ele virou na direção da casa dele, estava com um sorriso no rosto.

Ele deu um passo para trás rapidamente, ficando paralisado ao ouvir os passos de Jimin subindo os degraus da varanda. Não deveria abrir a porta. Por que ele está aqui? O que ele quer? Jimin bateu à porta, e Jk permaneceu parado, tentando não atender, mas, no fim, uma parte diferente dele venceu. A parte que despertou para a vida ao ver o rosto dele, ver que ele havia voltado. A parte que sabia que Jimin era dele, mesmo que vivesse uma vida em que isso não podia ser verdade.

Quando abriu a porta, ele sorriu, balançando-se de um pé para o outro.

Jk esperou que ele dissesse por que estava ali, sem saber o que dizer. Oi? Olá? Por que você está aqui? O que você quer? Achou que essas perguntas poderiam soar como se não o quisesse ali, e talvez não quisesse ― não deveria querer ―, mesmo que soubesse que queria.

— Fui aconselhado a não fazer isso — Jimin disse finalmente.

Aconselhado. Me... disseram. Alguém disse para ele não fazer isso. Jk franziu a testa.

— Não fazer o quê?

Desviou o olhar e, então, voltou a fitá-lo.

— Hã, vir aqui. — As bochechas ficaram rosadas, como se flores tivessem desabrochado de repente sob sua pele, e ele transferiu a bolsa de um ombro para o outro.

Ele encostou-se contra o batente da porta e os olhos de Jimin desviaram para seus braços, que ele cruzou contra o peito. Os braços dele estavam desnudos, e Jk pensou que ele devia estar olhando para as cicatrizes que cobriam sua pele aqui e ali. Em toda parte. Aquilo o fez sentir... pelado, mesmo que somente seus braços estivessem à mostra. Aquelas cicatrizes carregavam péssimas histórias sobre o jeito como vivia. Histórias que não queria contar. Nunca.

— Por que você não obedeceu?

— Transtorno desafiador de oposição? — Soltou uma risada pequena e desconfortável.

Eram três palavras que não conhecia, e nada que Jk tentasse o ajudaria a compreendê-las. Ele inclinou a cabeça para o lado.

— Não sei o que é isso — admitiu.

Jimin sorriu.

— Acho que é outra maneira de chamar uma pessoa de cabeça-dura.

Estreitou os olhos para Jimin. Estava acontecendo de novo: três minutos de conversa, e já estava perdido. Uma rajada de vento soprou com força, e ele segurou a bolsa com mais firmeza, erguendo os ombros para tentar proteger a cabeça do frio.

— Entre — Jk disse. — Está frio. — Pareceu grato, não assustado como da última vez que entrara ali. — Sem arma dessa vez? — perguntou ao fechar a porta e caminhar de volta em direção ao fogo, olhando pela pequena janela de vidro para conferir se tinha lenha suficiente. Querendo mantê-lo aquecido.

Selvagem - Versão JikookWhere stories live. Discover now