Capítulo 35

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A velha senhora espiou através da porta entreaberta, analisando Mark, olhos estreitos com suspeita.

— Olá, senhora. Almina Kavazović?

— Sim.

— Agente Mark Gallagher. Eu gostaria de fazer algumas perguntas para a senhora, se me permitir.

— Sobre o quê? — exigiu saber, em uma voz com sotaque carregado, sem mover a porta um centímetro.

— Um homem que costumava morar no apartamento ao lado do seu. Isaac Driscoll?

Os olhos se arregalaram quase imperceptivelmente. Quase. Mark percebeu e sabia que seu pressentimento estava certo quando conseguiu a lista de inquilinos do prédio que a irmã de Driscoll havia mencionado e encontrou o nome Kavazović nela.

— Driscoll? O que tem ele?

— Senhora, essa conversa seria muito mais fácil se me deixasse entrar por alguns minutos. Eu tenho...

A trava da corrente desengatou com um ruído suave e a porta se abriu antes que Mark terminasse sua frase. A mulher afastou-se para permitir que ele estrasse, uma senhora usando um vestido florido e com os cabelos escondidos por baixo de um lenço escuro enrolado na cabeça.

— Eu sabia que esse dia chegaria — ela disse, e sua voz de repente não continha mais suspeita, apenas conformação. Virou, e ele fechou a porta, seguindo-a para a sala de estar, onde a senhora acomodou-se em uma poltrona de frente para um sofá florido de dois lugares. A mobília era bem gasta, mas o cômodo estava limpo e bem arrumado, com guardanapos de renda sobre quase todas as superfícies. Mark sentou-se e esperou que Almina falasse.

— O que ele fez? — perguntou.

— Ele está morto, senhora.

Almina encontrou o olhar dele nesse momento, mas não parecia chocada.

— Sim — ela disse com naturalidade. — É melhor assim.

— A senhora pode me contar mais sobre Driscoll? Como o conheceu?

Suspirou, um som exausto que tremeu em sua garganta.

— Ele era meu vizinho, como você disse. Eu não o conhecia muito, só sabia que trabalhava para o governo. Eu vim da Bósnia nos anos noventa durante a guerra. Minha família tentou vir, mas eles... — Parou por um momento, e Mark esperou até ela continuar. — Eles não puderam.

Mark não pediu que ela contasse mais sobre aquilo, e podia imaginar os motivos pelos quais a família dela teve problemas ao tentar imigrar. Burocracias... atrasos... finanças insuficientes... Ele se perguntou como Almina havia conseguido, mas aquilo era irrelevante.

— Eu fui ao Dr. Driscoll, perguntei se ele podia ajudar porque tinha emprego do governo. Primeiro, disse não. Que não podia ajudar. Depois, voltou e disse sim. Podia me ajudar se eu trabalhasse para ele, seguisse suas regras e não contasse a ninguém.

— Que emprego era esse, senhora? — ele perguntou, seu coração pesando, pensando que já sabia o que ela ia dizer.

— Cuidar do bebê. Criar o bebê até o Dr. Driscoll estar pronto para treiná-lo.

Treiná-lo? Mark esperava que Almina contasse sobre criar o bebê, mas não sobre... treinamento. Lembrou-se de suas dúvidas sobre o interesse de Driscoll nos Espartanos. Ele franziu o cenho.

— Que tipo de treinamento?

— Ele não disse. Só falou que não devia mimar o garoto ou estaria fazendo um desserviço. Me disse para alimentar o garoto e cuidar dele, mas nada mais. Nada de mimá-lo — Almina repetiu. — Isso é muito importante, ele disse. É o jeito certo.

Selvagem - Versão JikookWhere stories live. Discover now