Ele verificou as horas no relógio de pulso. Merda.Henry deu velocidade aos passos, se não fosse um padre, certamente sairia correndo.
Ele atravessou a rua, um carro buzinou, mas ele não se importou.
Henry chegou ao hospital.
Que de longe era a construção mais alta da cidade. Parecia mais uma caixa de papelão, pintada de branco, e com alguns buraquinhos para as janelas. Sabe-se Deus quantos andares aquela coisa tinha.
Henry atravessou as portas, chegou perto da recepção. Sendo atendido por um homem ruivo, barba por fazer e um uniforme azul escuro.
"Olá, sou o Padre Hendrik, vim fazer uma visita." Disse ele já enfiando a mão no bolso e sacando seus documentos.
"Não precisa disso. Só preciso que me siga." O recepcionista sorriu.
Henry olhou para seu uniforme, um crachá preso no bolso da camisa. Ryan Lockheed, dizia junto a uma fotografia sua.
O recepcionista saiu de trás do balcão, e caminhou pelos corredores iluminados. Henry o seguiu.
O som de seus coturnos batendo no chão duro era o único barulho. Geralmente o hospital era mais barulhento, sons metálicos, com vozes de médicos, e choros de crianças... Mas hoje estava tudo quieto.
"Achamos que não viria." O ruivo sibilou de repente.
"...Perdão. Perdi a noção das horas." Ele sorriu falsamente.
"Tudo bem. As crianças te amam, mesmo não acreditando em suas bobagens cristãs."
O sorriso de Henry falhou um pouco.
"Oh... O importante é que elas gostem."
O recepcionista murmurou um "uhum"
Após andar mais um pouco pelo corredor, entraram em uma sala. Com certeza era a sala infantil, já que havia um elefante rosa desbotado na porta.
"Jesus Cristo..." As palavras escaparam da boca de Henry involuntariamente.
Agora ele entendia por que tudo estava quieto.
As crianças estavam deitadas em macas, algumas com as pálpebras fechadas, outras nem isso tinham mais.
Seus rostos estavam deformados, manchados de sangue, com hematomas por todo lugar.
Uma das crianças estava sem os dois braços, sobraram apenas dois cotocos dilacerados. Outra tinha um buraco do lado da bochecha, mostrando a parte de dentro da sua boca. E outra tinha uma cratera no abdômen, que estranhamento não sangrava, apenas mostrava a visão da sua carne rosada.
Os olhos de Henry se arregalam, a respiração engatou. Ele se voltou para o recepcionista.
"O-oque aconteceu?..."
O recepcionista se virou para ele, e abriu um sorriso.
"Ratos."
O clima estava pesado. Até respirar aquele ar era difícil. O cheiro de podridão e de sujeira emanava das crianças.
Seus rostos estavam inexpressivos, cansados, mortos.
Henry se aproximou de uma garotinha. Parecia uma estátua, parada olhando o nada, os olhos entreabertos. Seu braço estava enfaixado, e um corte atrás da orelha ia até as costas. Uma parte do cabelo tinha sido arrancada, hematomas cobriam seu rosto, e um dos seus olhos estava meio amarelado.
"Olá..." Henry disse em tom baixo, se ajoelhando para ficar no nível da criança.
Ele já tinha visto a garota. No parquinho, quando ela se balançava em um balanço, as pernas magras apontadas para o céu, o cabelo preto voando nos ares, um sorriso alegre estampado em seu rosto.
Mas agora o sorriso sumiu. Havia apenas a dor. A angústia. O olhar vazio de alguém que viu algo que não deveria.
"Qual seu nome?" Henry ainda tentou se comunicar com a garota, mas ele mesmo estava perdendo a esperança.
Um longo silêncio. Henry olhou para a garota, para o gesso em seu braço, e depois para o ferimento mal costurado atrás da orelha.
"Emily..." Uma vozinha baixa, transparente, quase inaudível.
Henry suspirou de alívio.
"Olá Emily, eu sou o Padre Henrik. Mas você pode me chamar de Henry." Ele disse com uma voz calma.
Henry nem entedia por que estava tão assustado. Já tinha visto cadáveres piores, ele mesmo os tinha feito. Então por que se sentia tão... Assustado?
"Eu não acredito em Deus..." A voz falhou um pouco.
"Tudo bem. Não estou aqui para espalhar a palavra dele."
Henry se sentou na maca, ao lado da garota.
"Acho que eu mesmo já perdi minha fé em Deus, e em qualquer coisa." Disse ele olhando o chão.
"Sério?" A garota pareceu surpresa, e pela primeira vez, seus olhos se encontram.
"Sim. Recitar parágrafos de um livro escrito a milhões de anos atrás não irá trazer vidas de volta."
A garota estava de cabeça baixa, parecia pensativa.
"É verdade..." Ela sibilou baixo.
Henry pegou sua pequena mão, e esfregou suavemente nas suas.
"Mesmo assim. Vamos te curar, e você sairá novinha em folha."
Emily o olhou desconfiada, mas refletiu um pouco sobre as palavras do Padre.
"Promete?"
"Prometo." Henry sorriu e ofereceu o dedo mindinho.
Emily sorriu, e juntou seu mindinho com o dele.
Não se pode quebrar promessas de mindinho. Se não, ele cai.
Henry passou algumas horas ajudando as enfermeiras, e tentou conversar com outras crianças. E até conseguiu tirar alguns risos de algumas. Perfeito. Mas ele rapidamente se despediu, e saiu do hospital.
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A Igreja Dos Ratos
HorrorCrianças são seres enigmáticos. Com suas mentes incompreensíveis, sempre com suas perguntas sem nexo. Mas, é possível que uma criança saiba que ela é um monstro? Que saiba da descrença humana e de seus feitos que mancham a terra com o sangue inocent...