Carneiro Doente

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A culpa é minha. Sim, sim, eu sei! Mas o que eu posso fazer? Eu o amo... Eu... Eu sinto que tenho que fazer isso, ok?... Tenho que desligar. Te amo, tchau.

A estrada estava deserta. A única alma viva era a do jovem magro no carro. Segurava o volante com firmeza, as sobrancelhas franzidas e os fios negros caindo sobre a testa suada. Os dedos tremiam.

Tremiam. Mas não de frio.

Sentia nervosismo, tristeza e preocupação. Como se todos os sentimentos se juntassem apenas para lhe dar um soco no estômago.
Estacionou o carro a alguns metros do portão. Ainda tentava bolar uma estratégia.
E por que estava com tanto medo? Afinal, era seu irmãozinho quem ele iria visitar.

Seu pequeno irmãozinho...

Afirmou mentalmente, vasculhando o porta-luvas. O suor frio pingando do rosto, os olhos arregalados e a respiração rápida.

Seu querido. Tateou algo pesado. E amoroso. Um sorriso nervoso se formou.

Irmão.

Enfiou a faca no bolso da jaqueta e saiu do carro.

"Merda..." Resmungou, levantando o pé, vendo os sapatos novos sujos de barro.

E era aquele maldito barro. De uma coloração vermelha repugnante, marca registrada de uma terra esquecida por Deus.

Caminhou desajeitado sobre o caminho, sentindo as meias desconfortavelmente encharcadas.

Olhou para cima. Observando a placa sustentada por apenas uma corrente enferrujada. Com algumas teias cobrindo metade da logo, mas ainda era visível o símbolo de um crânio de porco.

Fazenda Hoffmann

Cuspiu no montinho de terra ao lado, empurrou o portão e caminhou em frente.

Estava pior do que da última vez.

O barro cobria todo o chão, a casa estava suja e as telhas caindo, a estrutura da garagem estava lentamente caindo para o lado, o chiqueiro e o galinheiro tinham desmoronado. Algumas galinhas de olhos esbugalhados cacarejavam em cima de um bloco de feno. Os porcos grunhiam e andavam livremente pelo terreno.

Seu rosto se contorceu em uma carranca, deu mais alguns passos, o fedor queimando suas narinas. E os ouvidos doendo com os zumbidos das moscas enxeridas.

Bufou, subindo as escadas tortas da varanda. Com um suspiro baixo, bateu na porta de madeira podre. Que afundou com o punho do mesmo. Esperou e esperou. Deu uma olhada no relógio de pulso, batucando o pé no chão. Quando ergueu o olhar, quase caiu para trás.

Lá estava ele.

"O-oi... Henry." Forçou um sorriso, dizendo as palavras que já haviam sido esquecidas, segurando firme a faca no bolso.

E por incrível que possa ser, Hendrik parecia bem. Bem, como ele nunca havia sido.

O garoto magricela de olhos úmidos e sorriso melancólico tinha se tornado robusto, alto, e de corpo perfeito.

O irmão doente, que quando havia nascido mal conseguia respirar. E muitas vezes os pulmõeszinhos fracos lhe faziam tossir descontroladamente. De peito afundado, como se o coração não estivesse mais lá.

Lembrava da primeira vez que o viu. Um corpinho miúdo e pálido enrolado em um cobertor furado.

As mãozinhas balançavam vagarosamente no ar, como se buscassem oxigênio. A boca abria e fechava, o rosto ficava vermelho. Mas não chorava. Ao contrário dos outros irmãos, Hendrik nunca chorou ou gritou quando bebê.

E de certa forma era pior.

Ele respirava lentamente, deitado no berço, pois era a única pose que conseguia ficar, e de repente, abria as pálpebras.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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