Junho de 1967
Don't you want somebody to love?...
Cantava em tom alto, chacoalhando a cabeça no ritmo. Um sorriso de orelha a orelha. A música se misturando a seus batimentos cardíacos, os olhos fechados. Apenas aproveitando a sensação que tão pouco viverá.
You better find somebody to love!
Ria de si mesmo, imaginando sua situação atual: Sem camisa, as calças jeans velhas se sustentando nos quadris apenas pelo cinto do pai, uma garrafa de cerveja nas mãos, banhado em seu próprio suor.
Mas quem ligava? Neste exato momento todos dançavam e cantavam. Ninguém se importava com o magricela pálido. Isto o fez se sentir tão bem. Como se ninguém soubesse que estivesse ali, como se nunca tivesse existido.
Em um lugar onde o preconceito e crenças não existiam, onde tudo oque queriam era dançar e beber até cair.
Tomou um gole da cerveja, e a música terminou. Praguejou baixinho quando começou a tocar Twist And Shout. Não que ele não gostasse de Beatles, mas, ele tinha seus favoritos. Coçou a nuca, e foi para o bar do outro lado da pista de dança.
"Um coquetel molotov, por favor." Pediu ao barman, já sacando sua carteira.
O homem rapidamente preparou sua bebida, lhe entregando e indo atender outros clientes. Tomou um grande gole, deixando o copo pela metade.
"Ei! Henrock!" Alguém o chamou de longe. Mas era claro o dono daquela voz embriagada e arrastada, não é qualquer um que saiba deste apelido.
Se virou, nada surpreso ao ver o amigo Billy, Ou como costumava o chamar...
"Bill Bitoquinha!" Henry riu, abraçando o amigo.
"Caramba, achei que não vinha." Gargalhou, dando tapinhas no ombro de Henry.
"Eu? Faltar em uma das suas festas?" ergueu uma sobrancelha.
"Realmente, acho isso impossível. Mas enfim, como está Andy?"
"Está bem, só um pouco estressado com o trampo."
"Melhoras pro carinha. Vai ficar a noite toda?"
"Acho que sim, se nenhuma merda acontecer." Disse sorrindo.
"Ei, nem pensa nisso. Vai atrair coisa ruim." Billy riu.
"Vou tentar. Onde estão os outros?"
"Por aí. Bom, já vou indo, Henrock. Tente não matar ninguém!" O amigo riu se afastando e sumindo em meio a multidão.
Seu sorriso desmanchou, suspirando e virando de uma vez o coquetel. Deveria procurar o grupo, tinha algumas coisas a esclarecer para Martine. Só de pensar já lhe dava dor de cabeça.
[...]
Estavam no "Cantinho de Deus". Ou pelo menos era assim que Billy chamava o local. Uma sala grande, com alguns puffs espalhados, uma mesa de madeira no centro com alguns narguilés em cima, e uma caixa de cigarros, caso alguém preferisse algo mais leve.
Henry e Martine estavam compartilhando o mesmo narguilé, enquanto Benjamin fumava um baseado, e Dayse... Bom, ela só estava lá mesmo.
"Como estão indo as coisas?" Perguntou Henry tirando a mangueira da boca.
"Bem, eu acho. Sei lá, nós mal nos vemos. Cindy está cada vez mais distante.." Disse Ben cabisbaixo, seu tom ficando cada vez mais baixo a cada palavra.
"Eu estava falando do grupo, mas tudo bem." Henry ri, fazendo Ben adquirir um tom vermelho nas bochechas.
"Merda, desculpe eu..."
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A Igreja Dos Ratos
HorrorCrianças são seres enigmáticos. Com suas mentes incompreensíveis, sempre com suas perguntas sem nexo. Mas, é possível que uma criança saiba que ela é um monstro? Que saiba da descrença humana e de seus feitos que mancham a terra com o sangue inocent...