A minha novidade favorita havia se despedido de mim quase duas horas depois do jantar. Deixou comigo um beijo e um sorriso iluminado em meio a palavras doces e provocantes. O perfeito equilíbrio no equilíbrio que éramos.
Eu quase não consegui dormir aquela noite. Eu estava ansioso para vê-lo no dia seguinte, para tê-lo junto a mim novamente, em carne, osso e calor. Meu sorriso frouxo madrugada a dentro transparecia minha recém percebida imaginação fértil, vivendo momentos doces dos quais nunca cheguei a cogitar com mais alguém. Enfim, era inegável que eu estava sonhando acordado pensando naquele curioso fenômeno que ele era.
E por dormir tarde, acordei ainda mais tarde, mas sob o canto mais lindo do dia.
Quando abri os olhos percebendo o som próximo, sorri largo. Ele estava rente à porta, a poucos metros de distância, vendo-me de pijama agarrado a um travesseiro enquanto me cantava uma bonita canção antiga. Eu então dei sinal para que ele se aproximasse, e a passos lentos, quase flutuando, ele veio até mim.
A cantoria cessou quando ele se sentou ao meu lado e admirou minha face sonolenta.
-Boa tarde, senhor Lennon...
-Boa tarde, Paul... -Tomei sua mão e beijei-lhe os dedos.
-Pelo visto dormiu bem mais do que de costume.
-Você me fazendo perder os horários.
-Ah, então eu andei tirando seu sono? -Suas sobrancelhas arquearam em cômica indignação.
-Que necessariamente não foi algo ruim. -Devagar eu o segurei pelo braço e fiz com que ele viesse se deitar ao meu lado.
-E o que eu fiz enquanto estava em sua cabeça? -Aconchegando-se melhor, ele me abraçou pela cintura.
-Você continuou com o que havíamos dado um tempo ontem.
-Então só eu continuei? -Ele se ergueu um pouco e deixou um beijinho estalado no canto da minha boca.
-Correção: nós continuamos. -Meus dedos deslizaram macios pela linha de seu queixo enquanto ele me admirava com aqueles olhos grandes e únicos. -Espero que não tenha se esquecido das...
-Definitivamente não. -Foi seguro nas palavras ao me interromper. -Eu fiz questão de entupir aquela maldita bolsa com todas as camisinhas daquela farmácia.
Eu caí na risada, e ela foi contagiante. Foram eternos segundos de felicidade enquanto nos fitávamos aos risos, que só parou quando um silêncio curioso pousou sobre nós dois. Ele mordeu o lábio e me revelou algo.
-Seu sorriso... -Começou tímido. -Eu gosto dele.
-Obrigado. -Sorri. Um par de dedos meus tratou de ajeitar algumas mexas bagunçadas de sua testa. -Também gosto do seu.
-É muito bom te olhar assim... -Volveu-se meio sério. As suas írises encantadoras passeavam pelo meu rosto e eu sentia cada segundo daquilo.
-Sempre que quiser, já sabe onde encontrar.
-O achado certo.
-Devo dizer que você foi meu achado certo... -Por um instante pensei em tudo o que estava acontecendo. Duas vidas se encontrando aleatoriamente e acontecendo como mágica. -Qual a probabilidade?
-Uma em setenta e seis trilhões.
-Nossa! Isso foi bem específico... E incrível. Por que setenta e seis trilhões?
-Apenas um número. -Suspirou divertido. -Ouvi em uma música. Ela dizia "setenta e seis trilhões de milhas eu percorri pra te encontrar."
-Isso deve ser humanamente impossível.
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76 Trilhões de milhas - Mclennon
FanfictionAcostumado há anos com sua rotina de vida e trabalho, John Lennon pensou que sua existência seria apenas a repetição exaustiva de seus horários dia após dia. Ele só não contava com um golpe certeiro do destino, este que ele tanto recusava acreditar...