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CAPÍTULO-20

A manhã na universidade era tão agitada quanto a tarde. Malee caminhava para sua sala de aula, juntamente com seus amigos, quando sente seu cotovelo ser puxado para o lado contrário.

- P'Wann? - indaga confusa - O que está fazendo aqui?

- Eu preciso falar com você.

- Agora? - pergunta fazendo a mulher assentir.

- Tá tudo bem, amiga - fala Taeng - Chai e eu cobrimos você.

- É. Só não vai demorar - implica fazendo suas sobrancelhas subirem e descerem.

- Chai! - resmunga entredentes.

A garota segue a tutora até uma parte menos movimentada da universidade. Ao se aproximar da ala dos funcionários, a de franja começa a ficar confusa com a situação.

- Wann, para onde estamos indo?

- Já estamos chegando - fala dando mais alguns passos, e parando em frente ao armário do zelador - Vem - diz abrindo a porta madeirada, deixando a garota ainda mais confusa - Malee, confie em mim - pede fazendo a garota entrar no pequeno cômodo.

Wann ascende a pequena lâmpada que, ficava sobre a cabeça da mesma e, possuía um brilho amarelado.

- Pode me dizer o que estamos fazendo no armário do zelador agora?

- Eu queria te desejar boa aula.

- Me trouxe até aqui para me desejar "boa aula"? - indaga fazendo a mulher assentir com um sorriso no rosto.

- Ãnh... O seu cabelo está muito bonito hoje - fala e Malee franze a testa.

- Meu cabelo?

- Hum-rum.

- Wann, as provas finais do semestre estão me matando. Eu não lavo meu cabelo há uns dois dias.

- Bom... Continua lindo - diz mantendo o sorriso.

- Wann, você está bem?

- Por que não estaria?

- Você não para de sorrir - fala fazendo a mulher tocar o próprio rosto.

- Desculpe, eu...

- Ei! - interrompe puxando a mão da mulher para si - Não precisa se desculpar por isto. Eu gosto do seu sorriso, só estranhei porque você não costuma sorrir.

Dessa vez, diferente das demais, Wann deixa crescer um sorriso genuíno com as palavras da garota a sua frente.

- Eu tenho uma coisa para você.

- Para mim?! - indaga animada.

- Hum-rum - murmura retirando o pequeno envelope de dentro do blazer - Aqui - fala estendendo-o para a de franja.

- O que é isto? - pergunta pegando o envelope.

- Uma carta.

- Uma carta? - indaga encarando o papel em suas mãos - Você... Fez uma carta para mim?

- Fiz - responde de forma receosa.

- Wann! - exclama com um sorriso de orelha a orelha, encarando a mulher - Eu te daria um beijo agora mesmo! - fala fazendo a tutora olhar ao redor.

- Estamos sozinhas.

A garota gargalha levemente com a resposta da tutora. Esticando-se minimamente na ponta dos pés, por causa da pequena diferença de altura, Malee junta seus lábios em um selinho demorado.

- Obrigada - agradece com seu rosto ainda próximo ao de Wann.

- N'Malee, eu preciso falar algo.

- O quê? - indaga atenta.

- Eu... - balbucia encarando os olhos da garota - Eu estou...

- Você está?

- Eu estou... - repete sentindo um nó em sua garganta - Eu... Atrasada.

- Ãnh?

- Eu estou atrasada - diz olhando para o relógio em seu pulso - Tenho um compromisso em alguns minutos.

- Oh! Entendi - assente - Eu também tenho que ir para a aula.

- Nos vemos a tarde, então?

- É claro!

- O.K.

Wann deixa o local depressa, como se tivesse visto "o fantasma do natal passado" naquele armário. Mas para ela, ver o tal fantasma era mais fácil do que expor seus sentimentos.

Malee adentra a sala de aula, e é bombardeada de perguntas sobre o falecimento da sua tia-avó que nem sequer existia. Chai e Taeng com suas ótimas ideias. Após alguns instantes, a professora encheu o quadro com algumas atividades de revisão para a avaliação. Aproveitando a desatenção da mesma, Malee abre a carta que ganhara mais cedo.

" Querida N'Malee

Me auto conhecendo, sei que irei gaguejar, travar e, no final, não conseguirei dizer o que quero. Por isso estou escrevendo. Sempre fui melhor com a escrita do que com a fala.

Uma vez ouvi falar que "lar" é onde seu coração está inalterável. É para onde você vai para descansar os seus ossos. Para onde você vai quando está sozinho, e não apenas onde você deita a cabeça ou arruma sua cama.

Eu acho que tive a impressão errada do verdadeiro significado de "lar" durante toda a minha vida. Bom... Isso até conhecer você, N'Malee. O único lugar em que sinto-me em paz - apesar de todas as maluquices -, é quando estou com você. É quando estou ao seu lado. Admito que demorei para perceber isto, mas percebi.

Ainda não posso falar abertamente para o mundo sobre isto, mas até lá... Te escreverei quantas palavras forem precisas para que não se esqueça de que é você, N'Malee. Sempre foi você, desde o primeiro dia em que se apresentou para mim de forma agitada em meio ao pátio. Naquele momento, meu coração, de forma silente, escolhera você e continuará escolhendo você. Pois você me mostrou que esse meu coração pode fazer outra tarefa importante, além de bombear sangue. Se apaixonar.

Com amor,

Wann"