Os miseráveis já me conhecem;
Os estranhos já me viram;
Os demônios me sentem;
Meus desejos sumiram;
Eu vi aquela música tocar no rádio e isso me lembrou 2021:
Tentando não tropeçar em linhas cai de cabeça;
Tentando não me afogar eu derramei vinho na mesa;
Eu me levantei pedi desculpas e saí;
Nunca mais voltei a lugar nenhum porque não queria estar aqui;
Peguei meu rumo em direção às 5 horas;
O sol alaranjado era minha única companhia;
Avistei crianças brincando na saída da cidade e me pareceu bom ver aquele tipo de alegria;
Um estranho pisou fundo e lá íamos nós naquela imensa via;
Já era tarde quando cheguei em casa;
A porta estava aberta e não via ninguém;
Talvez não houvesse alguém para ver ou talvez eu só não tinha mais o que perder;
Estava tudo uma bagunça, eu tirei minha roupa suja e fui tomar um banho;
Me parecia agradável ver as gotas que caíam da pia do banheiro;
Fui em direção ao quarto e me lembrei que não tinha roupas limpas;
Me acalmava escrever então peguei uma caneta, mas ela estava sem tinta;
Eu não tinha objetivos além de fugir daquele dia de merda;
Seria fácil apenas dormir, mas como me sentir bem se não tem ninguém por perto;
Senti falta do vinho que derramei lá atrás;
Resolvi me deitar;
Não consegui dormir então fui andar madrugada a dentro;
Me animava ver as luzes de natal no centro;
Eu parei em uma casa no fim da rua nela tinha lindas roseiras, eu vi as pétalas caírem e não eram as primeiras;
Decidi voltar pra casa porque algo me lembrou você;
Eu coloquei um chaleira com água no fogo para ferver;
Eu me sentia cansado, então liguei a tv, mas não passava nada de bom;
A chaleira apitou, eu não tinha açúcar então tomei o chá amargo;
Sabia que não me fazia bem, mas peguei um cigarro e dei um trago;
Como já passava das 4 da madrugada eu sobrevivi ao dia de merda;
Talvez não houvesse paz ao amanhecer;
Eu liguei o rádio e tocou Partilhar o que me lembrava você;
Eu só não queria ver mais outro dia;
Eu amarrei uma corda sob uma viga no teto, subi em cima da mesa que era da minha avó e me joguei;
O telefone tocava sem que eu pudesse atender;
O rádio continuou ligado, até que eu não tivesse mais o que perder.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas Aos Pulsos
Thơ caCartas aos Pulsos traz alguns escritos antigos e atuais que refletem o que eu vi e vivi em diferentes ambientes de convívio e diferentes situações. É a minha poesia cotidiana em sua forma mais bruta.