Cartas Aos Pulsos

Eternamente Azul

Eu não quero permanecer azul pra sempre;

As cartas enviadas aos meus pulsos serão lidas;

É como uma utopia e eu realmente acredito que há um lugar onde não existem feridas;

Foram tanto dias escuros que uma simples luz poderia mudar nossas vidas;

Precisamos de janelas abertas em dias de sol;

Precisamos de sorrisos inocentes que iluminem como um farol;

Não há mais outono este ano;

Eu não sei o que fazer e talvez não enxergar a melancolia no céu do fim do dia seja o único plano;

Eu continuei na ligação por mais alguns minutos até que alguém voltasse e desligasse;

No fim a única coisa que tenho é a crença de ainda há algo para ser dito;

É difícil abandonar a sensação de que há um vórtice aqui e ele é infinito;

Crateras emocionais cada vez menos relevantes;

É chegada a hora de amadurecer, não podemos ser mais os mesmos de antes;

Nossos casacos de lã não nos cabem mais, não somos mais infantes;

Esse é um processo mental que nos permite cruzar a fronteira para um outro estado, como se o interior de algum lugar no Brasil fosse o el-dorado;

Não tenho certeza se encontraria sentimento;

A única certeza que tenho é;

Eu não quero permanecer azul pra sempre;

Em algum momento irei me abrir;

Eu posso sentir o tempo passando;

Eu posso sentir cicatrizando;

O vórtice é apenas uma característica ele não pode tomar conta do ser;

Como me abandonei tão fácil?

Como quase me deixei morrer?

Eu continuei naquela maca fria até que se acabasse o intravenoso;

O fato disso ser apenas uma memória ruim é maravilhoso;

Em dezembro o verão começa e tudo será menos tempestuoso;

O outono é apenas um relance;

Poderíamos ir atrás de outras relações, alguma que não nos canse;

A esperança é um golpe de baioneta diretamente contra nosso peito, mas quem se importa? Ela está ao nosso alcance;

Eu não sei onde exatamente;

A única coisa que sei hoje é;

Eu não quero ser azul para sempre.