𝐂apitúlo 01

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    Corvos me ouvem

    𝐀lgum tempo depois, o avião finalmente desembarcou em Redlog Pines, e olhei ao redor olhando o exterior da cidade. Era como se de fato, fosse idêntica à Duskwood já que vi as fotos algumas vezes com a Jessy. O momento quando pensei em seu nome me trouxe lembranças da nossa última conversa. Todos do nada, e de maneira invulgar só sumiram da minha vida. Os números de seus celulares estavam inexistentes como se nunca estivessem existidos.

── Com licença senhorita... ─ um homem de aparência idosa se aproximou ajudando seus óculos. ── Você é a S/n?

O olhei reconhecendo pela foto do táxi que chamei pouco antes quando sai do avião. Abracei meu braço meio desajustada e sentindo a brisa fria abrangendo as folhas das poucas árvores que tinham.

── Sim. ─ respondi mordendo os lábios enquanto batia o pé de maneira ansiosa.

Entramos no carro e me sentei atrás observando o céu escurecer lentamente a maneira que a noite chegava. No som do rádio, mesmo baixo, tocava The last day do Moby, Skylar Grey. A nostalgia mais uma vez entrou na minha mente, com uma pressão ainda mais forte me torturando a cada arrependimento. Eu me sentia sozinha, sem ninguém, somente com a pior inimiga de uma mulher. A insegurança. O que me impediu de ir? A distância? O fato de que eu morreria antes mesmo de impedir o Richy de explodir tudo? Não sei o que seria mais ágil fazer. Era tudo ou nada.

── Tá vindo pra morar ou é só pra turistar? ─ o taxista me tirou dos meus pensamentos.

── Hum... não sei te responder a essa pergunta... ─ dei um riso sem graça e voltei a olhar pra fora.

── Ah, você é o tipo de garota que deixa o destino te guiar aonde quer que for não é?

── Eu meio que parei de confiar no destino e nos falsos sinais que ele me dá. É um preceito que levo pra minha vida daqui adiante...

── Entendo minha filha... a minha amada Jeanne me dizia exatamente a mesma coisa... ─ a voz do mesmo falhou tristemente.

── Jeanne? É sua esposa?

── Sim. Ela era... uma mulher incrível. Deu a vida dela pela minha... sabe como é né? ─ ele me olhou pelo retrovisor dando um sorriso triste e voltou a olhar pra frente.

O encarei pelo espelho, era nítido a sua dor. Era mais intensa, mais pesada que a minha. Mas ainda sim, seu espírito leve de poder contar a alguém que uma pessoa que você já amou muito deu a vida por você ainda com um sorriso nos lábios era a demonstração mais rica de vivacidade pura.

── Ela estava em estado vegetativo. E com morte cerebral faltando 3 dias pra uma semana. E eu precisava de um maldito transplante de coração. ─ ele balançou a cabeça rindo desiludido. ── Eu preferia ter morrido com ela...

── Ela não ficaria contente em ver que o senhor desistiu de viver depois de um ato tão lindo quanto o que ela fez... ─ falei meio sem jeito. ── Apesar de que perder alguém com quem você compartilhou momentos de dedicação e medo...

O taxista me olhou novamente. Seus olhos estavam fixos em mim agora quando paramos no sinal.

── Você pode ao menos imaginar como a culpa consome a minha cabeça todos os dias desde que ela se foi? Estou vivo por ela, mas ainda sim eu voltaria no tempo e trocaria de lugar com ela...

── Claro que sei. ─ dei um sorriso triste, nessa hora, toda a força que eu estava aguentando meu choro rompeu fazendo as lágrimas caírem. ── Alguém que eu... me importava muito e amava também deu a vida por mim... ou eu acho que deu. Não perco as esperanças nunca, e não tem um dia em que eu acorde e não abro o celular esperando a mensagem dele.

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