Capítulo 11

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Talita: Qual foi, maluca? - Vi ela surgir de um dos becos, me parando.

Suzana: Tava atrás de tu mermo, se ligou? - Ela me olhou, assentindo.

Talita: Manda a boa, minha preta. - Sentamos no meio-fio da calçada, e ela fumava um cigarro do meu lado.

Suzana: Pô, caôzada! Odeio cigarro, mas eu tô bolada hoje, passa pra cá. - Ela me passou o cigarro, e eu dei um trago.

Já tinha fumado algumas vezes, mas não sou viciada.

Talita: Manda o papo. Foi a tia de novo? - Eu assenti, soprando a fumaça e devolvendo o cigarro pra ela.

Suzana: Tô me sentindo um passarinho na gaiola. - Ela me olhou, negando. - Não posso fazer nada, não posso dizer nada. Aquela merma cobrança. Um saco, papo.

Talita: Por isso que eu dou as minhas fugidas. Já tentei ser certa, andar na linha com os meus. Mas não dar pra ser submissa toda vez. Eu fujo mesmo, sacou? - Eu ri.

Suzana: Tu é maluca, cara. - Ela riu, me passando o cigarro. - Eu não quero decepcionar ela, mas quero viver minha vida. E pra piorar, o Castelã acabou de me passar uma cantada ali. - Ela abriu maior olhão e eu traguei o cigarro. - É, amiga. Ele tá pra jogo. Eu sinto pena da Soraya, na cabeça dela, ele ainda ama ela. - Soprei a fumaça e devolvi pra mesma.

Talita: Serio mermo? Caralho, ele ta malucão. - Eu assenti. - Ele vai assumir os moleques?

Suzana: Pra ser sincera, eu acho que não. Isso que vai foder a cabeça da Soraya.

Talita: Amiga, tua vida dá um filme. A prisioneira da favela do Jacaré. - Eu ri. - Na moral, é sem caô. - Aí, se liga, sabe aquele moleque do baile? O branquinho, que foi tentar te cantar. - Eu assenti. - Ele me convidou pra assistir um jogo dele sábado, vai tá disponível ou vai ficar na gaiola da tia Iris? - Eu sorri.

Suzana: Ai amiga, sério? Aquele moleque sem sal? Eu achei ele meio fraquinho. - Fiz uma cara de nojo, e ela riu.

Talita: Vamo comigo? Depois de lá, sempre tem uma privê, sacas? E eu quero o amigo dele também. - Eu fiz cara de pensativa, e logo concordei. - Não ramela comigo, na moral.

Suzana: Eu vou, colega. Não precisa de desespero. É fora do morro? - Ela assentiu.

Talita: Obviamente né, querida. Os moleques daqui não gostaram dele e dos parceiros dele não. - Eu ri.

Suzana: Nem eu gostei. - Ela revirou o olho. - Mas ele é gostosinho, vai.

Talita: Ele é. E gente boa também. Gosto muito do Edu.

Suzana: Eu vou voltar pra goma. Eu tenho umas atividades, trabalho. E essas horas, ela deve tá me ligando que nem maluca. - Me levantei, e ela também.

Talita: Eu tenho que encostar na casa de um esquema que eu fiz ali. - Eu dei risada. - Bonitinho, papo bom. Por que não, em?

Suzana: Certinha tu. - Abracei ela, que retribuiu. - Tem balinha ai? Pra tirar o cheiro de cigarro.

Talita: Tu se fodeu agora, não tenho. - Ela riu. - Brincadeira, toma. - Puxou um halls do bolso, e me deu. - Sempre preparada.

Suzana: Não tenho tempo para as tuas gracinhas, sério mesmo. Tchau. - Eu ri dela, e fui voltando pra minha casa.

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