Capítulo 1

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Ele era o homem mais bonito que ela já vira.
Era uma pena que ele estivesse morto. Ginny enfiou a mão no avental de borracha para pegar o controle remoto da televisão e abaixou o volume em North by Northwest, silenciando o barítono aveludado de Cary Grant e não deixando nada além do zumbido de seu equipamento e tique-taque do relógio de parede.

Assistir a filmes clássicos era sua norma durante o trabalho, mas o homem deitado em sua mesa de embalsamamento de metal merecia toda a sua atenção.

Ela caminhou em um círculo medido ao redor de sua figura deitada, seus dedos rastejando lentamente para sua garganta, tentando massagear a pressão que se espalhava ali. A morte em uma idade tão jovem não era justa para ninguém, mas tendo crescido em uma funerária, Ginny aprendera a compartimentar a tristeza.

Guarde para outro dia, seu pai sempre dizia. Por que ela estava achando tão difícil rotular e armazenar a dor pela vida daquele jovem sendo extinta? Do que ele morreu? Nenhum ferimento de bala era visível. Sem sinais habituais de doença de longa duração.

Seu corpo era forte e cheio de músculos. Ele parecia ter se deitado em sua mesa e adormecido, embora, por algum motivo estranho, ele não lhe parecesse um homem que descansava com frequência.

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