Festa de Cali

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O Cartel de Cali era um organismo quase perfeito.

Mesmo após cortarmos a cabeça do cartel, o corpo seguia adiante produzindo e vendendo cocaína. Eles seguiam um plano. Durante muito tempo, esse plano tinha funcionado. Mas não existe plano perfeito. Especialmente ao lidar com uma substância volátil como a cocaína. Em algum momento, alguém comete algum erro. E os inimigos estão de olho, esperando.

Eles vão ver seu ponto fraco e agir. Esse é o problema dos planos. Não importa se você acha que são perfeitos. Mesmo brilhantes ou ousados, podem virar merda quando um detalhe sai errado. E quando isso acontece, não tem volta. Vai dar tudo errado dali em diante.

Christina ligou para você.

"Christina?"

– "Eu conversei com meu marido"

"Ótimo!" você olhava para os lados, checando se ninguém estava prestando mais atenção do que o necessário em você "E ele aceitou colaborar?"

Ela hesitou em responder.

Nesse momento provavelmente Javier estava no aeroporto. Ele se quer insistiu para que você fosse com ele. E sinceramente, você não estava esperando que ele implorasse nada para você. A única coisa que você queria - e que era o que você sempre fazia - era arrumar uma forma de não deixar que os planos estúpidos dele fodessem toda a operação. Seria muito mais fácil se Franklin se entregasse. Pouparia muitos trâmites, e principalmente, a escuta poderia ser facilmente ignorada.

– "Não exatamente, mas ele vai aceitar..."

"Tudo bem, Christina. Eu estou aqui, você pode me ligar quando isso acontecer."

Christina poderia ser a esposa de um homem que lavava milhões de dólares para um Cartel de narcotraficantes, mas antes disso, ela é apenas uma mulher amedrontada pelas atitudes e escolhas do marido.

Já estava na hora de você sair desse departamento, e respirar ar puro. Esse ambiente estava te deixando doente, você podia dizer que a tensão fazia sua pressão oscilar o dia inteiro. Tonturas, e as dores de cabeça, por longas horas na frente de um computador, e lendo pilhas e pilhas intermináveis de papeis. Você talvez nem estivesse se alimentando, isso deveria explicar o mal-estar, afinal, quem consegue viver a custas de cafeína?!

O nervosismo de saber que Javier havia partido em uma empreitada sem que vocês, se quer tenham conversado sobre isso antes, estava te levando à beira de um colapso de nervos. Havia tantas coisas a serem faladas e resolvidas. Ele era um excelente agente, o melhor dali, não era segredo, mas ainda assim, você não podia deixar de reconhecer seu valor.

Havia coisas a serem avaliadas, como por exemplo, a rotina de Franklin em Curaçao, onde ele ia, a qual banco, qual passaporte estava usando, para além disso, também precisavam do apoio da polícia local. E por falar em polícia local, também precisavam estar cientes de como aquele lugar funcionava.

Javier partiu para Curaçao sem pensar em nada, de um dia para o outro. E você precisou crer que isso era algo que ele tinha em mente há muitas semanas, porque se você chegasse a pensar que ele estava simplesmente improvisando, você iria ter um treco.

O que ele precisava saber sobre Curaçao, e que você repassou com Stoddard: é um paraíso de contrabandistas. E neste caso, para o Cartel de Cali, não havia melhor localização. Os portos de Curaçao situadas a 64km da costa sul-americana, há séculos abrigam contrabandistas, mercadores de escravos e agora, cartéis. Navios de cruzeiro lotados de idosos ao lado de lanchas lotadas de dinheiro. E o que não é contrabandeado acaba nos bancos. Centenas deles.

Anos atrás, holandeses empreendedores criaram um sistema financeiro sigiloso. A economia do país é tão dependente da lavagem de dinheiro que ninguém pode ser preso perto de um banco. E isso era um detalhe que Javier precisava ter em mente.

Be my Assistant - JAVIER PEÑAOnde histórias criam vida. Descubra agora