Capítulo Nove

72 3 2
                                    

Arabella estava se sentindo uma adolescente. Ela tinha tirado várias fotos de Renata quando estiveram na cachoeira sem que ela percebesse e agora estava admirando a mulher. Os cabelos com fios castanhos escuros misturados com fios brancos, a pele branca corada pelo sol que pegaram aquele dia, as pintas que tomavam seu pescoço e colo. Arabella olhava admirando e decorando cada detalhe.

"Meu Deus, como eu estou gay e melosa. O que está acontecendo comigo?" Bella pensou rindo de si mesma.

A jovem havia conseguido organizar melhor seus horários e estava adaptada com o papel de sócia da clínica Bem Viver conciliando com os seus pacientes. Já conseguia tomar café da manhã com o pai quase todos os dias e tinha tempo para pelo menos uma vez na semana almoçar com o melhor amigo. Naquele dia ela estava com Alessandro sentados em um restaurante típico de comida mineira com mesas e cadeiras espalhadas pela calçada, aproveitando a companhia um do outro e o clima gostoso de Ouro Preto.

− E depois desse beijo vocês têm se falado normalmente? – Alessandro perguntou depois de ouvir o relato da amiga sobre os últimos acontecimentos.

− Temos sim. Acho até que os flertes estão mais intensos, apesar da Renata ser muito tímida.

− E você não tem medo, Bella?

− Medo de quê? – Bella perguntou confusa.

− Medo de se envolver com uma mulher heterossexual que talvez esteja só confundindo as coisas. – Alessandro questionou preocupado.

− Medo eu diria que é uma emoção forte demais, mas eu tenho alguns receios. Sei que ela pode está apenas confusa, só que eu sinto a reciprocidade dela quando a gente se toca, sabe? Não vou deixar de viver um sentimento que é novo para mim por medo de ser só uma experiência para ela. Nem tudo precisa ser eterno. Estou aproveitando o momento e também descobrindo em mim mesma esse sentimento de gostar de alguém. Não é só tesão, Alê. Eu adoro tudo nessa mulher e somado a isso tudo o tesão é só mais um detalhe.

Arabella riu de si mesma e Alessandro percebeu que o sentimento da amiga pela artista era mesmo algo inédito na vida dela e a apoiaria para viver aquele sentimento, mesmo com medo que ela sofresse.

− Amiga, eu imagino que para essa mulher, sendo a pessoa famosa e rica que é, tendo mais de 50 anos de vida, se está cedendo a esse sentimento, deve realmente está envolvida.

− Eu entendo que a Renata vem de outra geração. Mesmo sendo artista, sendo uma mulher esclarecida, tendo convivido a vida toda com pessoas diversas, deve ser complicado entender esse sentimento novo.

− Concordo, Bella. Não é fácil sair de um espaço que esteve a vida toda, ouso até dizer que quanto mais velho mais difícil fica.

− É isso que penso também. – Bella respondeu em concordância com o amigo.

Alessandro ainda perguntou sobre Lavínia e Arabella disse que a loira estava sumida desde que pararam de ficar. Bella estava respeitando o espaço dela porque sabia que estava sendo mais difícil para a advogada, mesmo sem terem assumido algo sério, Lavínia demonstrava que queria manter o que tinham.

Arabella ficava grata por seu envolvimento com Lavínia não ter trazido problema para a sociedade com os pais dela. Oswaldo e Tereza eram muito profissionais e jamais pensaram em misturar as coisas, além de terem um carinho genuíno por Arabella. Eles queriam a filha feliz e percebiam o sentimento dela por Arabella, mas a sócia nunca havia prometido nada a Lavínia.

XXXX

Renata estava na biblioteca diante do computador na sua sessão de terapia daquela semana. Depois de atualizar a Dra Virginia com tudo que aconteceu nos últimos dias, a terapeuta estava falando sobre algo que ela desconhecia.

Verbo BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora