− E quando você vem para o Brasil? É isso que eu quero saber, filho. – Renata falava com o André pelo telefone.
Depois de dias sem ânimo, ela tinha voltado a pintar. O trabalho tinha muito a ver com o seu estado de espírito. Naquela manhã, Renata pegou uma tela, pincel, tintas e foi para a margem do lago, não pensou em levar um cavalete, simplesmente colocou a tela no chão e se ajoelhou na grama diante dela. Renata foi criando vida com o pincel nas mãos, descalça, já tinha a roupa branca manchada. A arte corria nas veias dela desde a adolescência, com muito estudo e dedicação, aprendeu tudo que podia da teoria, mas o saber que tinha no sangue, isso ninguém poderia ensinar.
Em meio a toda concentração, quase não percebeu o celular tocando, quando viu o nome de André no visor do aparelho, largou tudo e se esticou para pega-lo ao lado da pintura. Renata tentava falar com o filho todos os dias, mas sabia que a vida do rapaz estava agitada na Austrália, além da diferença de fuso horário. A conversa durou alguns minutos com ela insistindo mais uma vez para que ele viesse ao Brasil e recebeu a promessa de que ele viria logo que possível para visita-la. Eles eram muito apegados e Renata sabia que se ele demorasse muito, ela acabaria indo primeiro. Se despediram com o carinho que sempre tiveram e Renata continuou a pintar, feliz por ter Arabella de volta em sua rotina e por aquele contato com o filho logo pela manhã.
Depois de passar boa parte do dia trabalhando, Renata estava aproveitando o fim de tarde deitada na rede de sua varanda, lendo "A noite do Oráculo" de Paul Auster, escritor que ela adorava. O sol estava quase se pondo e a vento cantava uma música suave em seu ouvido quando sentiu o celular vibrando.
Arabella: *Vídeo*
Renata abriu a mensagem e viu que era o vídeo de uma música. Ela imediatamente abriu para ver. Ficou estranhamente excitada durante os cinco minutos que prestou atenção naquela letra e melodia.
Vem sentir comigo
Olha pra minha cara, eu 'to bem dócil de tocar
Me põe no seu colo se quiser me bagunçar
A casca é grossa, não é fácil de quebrar
Se eu tô pirando, deixa o olho revirar
E não tenho medo de ser quem eu sou
Nem tenho vergonha nenhuma de expor
Me jogo, me lanço, não tenho pudor
Cuido dos meus vícios e do meu amor
(Jade Beraldo)
Aquele não costumava ser o tipo de música que elas tinham em comum ou que ouviam juntas, mas Arabella havia conhecido a cantora e por algum motivo, pensou em Renata ao ouvir. A jovem na verdade queria fazer um convite para ela, mas antes compartilhou a música sem saber o que a melodia poderia causar na mais velha. Arabella não sabia que por ser artista, Renata tinha sensibilidade muito grande para referências artísticas em geral, incluindo música.
Renata não soube o que responder sobre o vídeo recebido, aquelas sensações em seu corpo não eram comuns e antes que pensasse mais, recebeu outra mensagem.
Arabella: Quero te fazer um convite. Você já me disse que está livre esse final de semana e eu queria te levar para conhecer uma cachoeira aqui da cidade. É uma das minhas favoritas e é quase deserta.
Renata: Não sei se estou com preparo físico suficiente para chegar a essas cachoeiras daqui. Sei que a maioria precisa atravessar uma trilha.
Arabella: Quero te levar na Cachoeira das Vozes. A trilha é um pouco chatinha sim, mas tenho certeza que você dá conta e eu vou estar lá para te ajudar.
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Verbo Bordô
RomanceUma cidade no interior de Minas Gerais. Uma mulher madura em busca de tranquilidade. Uma jovem em busca de felicidade. Assim começa a história de Renata Villar e Arabella Muniz. Duas mulheres muito diferentes e ao mesmo tempo completamente iguais. R...