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Cecília Monteiro' Point Of  View

03 de maio de 2024

16:06 p.m.

Hospital Albert Einstein, São Paulo. -Brasil

-Vamos cecí, vai ser legal! Já faz quanto tempo que você não vai em uma festa? — Gabriella diz se encostando no bancão da sala de prontuários.

-Eu não vou. Já falei, eu já estou fazendo plantões sem folgas des de semana passada. Estou trabalhando igual uma cavala, e você acha mesmo que na minha folga eu vou ir pra uma festa pra aguentar gente bêbada? — Digo fechando o prontuário que estava lendo minutos antes dela chegar.

-Eu também estou na mesma que você, mas mesmo assim vou ir à festa beber e esquecer de todos os meus problemas aqui no hospital. A quanto tempo você não transa com alguém? — A loira fala olhando alguns prontuários.

- É.... — Digo colocando o prontuário no mesmo lugar que eu tinha tirado, tentando lembrar quanto foi a última vez que havia transado. — Teve aquela vez..

- Aquela vez não, ele apenas te chupou. Vocês não transaram, foi apenas uma chupada. E não foi por que ele não quis, foi você! — ela diz me seguindo.

- Ei, cale a boca. É realmente não foi uma transa, nem um orgasmo decente pude ter. Tive que fingir um. — digo andando até o quarto 246. Talvez seja bom ir a essa festa, uma festinha não vai mudar nada. E afinal eu tenho um sábado inteiro de folga e só entro denovo em um plantão as 5hrs da manhã do domingo. — tá bom, se eu for você vai parar de encher meu saco? — digo parando em frente à porta do quarto 246.

- Sim, sim, simmm!!! — Gabriella diz dando pulinhos. — que horas você sai do plantão?

- As 5:00p.m. E você?

- Ok, saio às 6. Se quiser pode dormir um pouquinho, a festa é só as 11hrs. — A loira diz me dando um beijinho na bochecha e saindo em direção ao corredor.

- A festa começa às 11hrs?? Você está maluca! — Grito para ela indignada, como uma festa começa às 11?

[...]

- Olá senhora Andrade! Como o senhora está? Ainda sente febre? — Digo adentrando na sala e vendo uma senhora, 37 anos, cabelo pretos. Deu entrada no hospital a dois dias para fazer uma histerectomia, retirada do útero. Um mioma de 800 gramas e um cisto do tamanho de uma laranja. Apenas a remoção do cisto ou do mioma não serviria, iria ficar um buraco enorme e talvez o mioma crescesse novamente.

- Estou bem! Sim, ainda sinto febre. Mas está tudo bem comigo né? — a senhora diz me olhando. Vejo o prontuário dela novamente e vendo que ela teve 39'C de febre.

- Sim, a senhora está ótima! Está com um ótima recuperação, talvez amanhã já ganhe alta. Ainda sente muita dor?

- Um pouco, mas é no local da cirurgia. — A senhora diz colocando a mão na região da cirurgia e fazendo uma careta.

- Ok, vou pedir a uma enfermeira para te dar um analgésico e um remédio para febre. Com licença. — digo saindo do quarto e olhando meu relógio vendo que ainda tenho meia hora de plantão e revirando os olhos em negação.

As vezes eu penso, porquê escolhi essa profissão? Estou sempre cansada, acabada, cabelo sujo. Nas minhas folgas a única coisa que faço é dormir, dormir o dia inteiro. Medicina por um lado é maravilhoso! Salvar vidas, ver pessoas que não tinham nenhuma chance de viver, viver e ter uma vida feliz e gratificante. Mas também tem seu lado ruim, ver pessoas morrendo, pessoas com sonhos e famílias.

MALDITO GIRASOL -RICHARD RÍOS Onde histórias criam vida. Descubra agora