Shadowhunters: City of Bones | Taekook

Os Irmãos do Silêncio

Houve um instante de silêncio antes que Taehyung e Jungkook, atônitos, começassem a falar ao mesmo tempo.

— Valentim tinha uma mulher? Ele era casado? Eu pensei que...

— Isso é impossível! Minha mãe jamais teria... ela só foi casada com o meu pai! Ela não tinha um ex-marido!

Hodge levantou as mãos, cansado.

— Crianças...

— Não sou criança. — Taehyung virou-se de costas para a mesa. — E não quero mais ouvir nada.

— Taehyung — disse Hodge. Não havia mais tanta gentileza em sua voz.

Taehyung se virou lentamente e olhou para Hodge do outro lado da sala. Taehyung pensou no quão estranho era aquilo: com os cabelos grisalhos e a cicatriz no rosto, ele parecia muito mais velho que Dahyun. E, ainda assim, tinham sido "jovens" juntos, haviam se juntado ao Ciclo juntos, haviam conhecido Valentim juntos.

— Minha mãe não teria... — Taehyung começou e parou no meio. Ele não sabia mais ao certo o quão bem conhecia Dahyun. Sua mãe se tornou uma estranha para ele, uma mentirosa, guardiã de segredos. O que ela não teria feito?

— Sua mãe deixou o Ciclo — disse Hodge. Ele não se moveu em direção a Taehyung, mas o observou através da sala com a quietude de um pássaro. — Quando percebemos o quão radicais se haviam tornado os ideais de Valentim, quando estávamos preparados para tal, muitos de nós o abandonamos. Seokjin foi o primeiro. Foi um golpe para Valentim. Eles eram muito próximos. — Hodge balançou a cabeça. — Depois Michael Wayland. Seu pai, Jungkook.

Jungkook levantou as sobrancelhas, mas não disse nada.

— Houve quem se mantivesse leal. Pangborn. Blackwell. Os Lightwood...

— Os Lightwood? Você quer dizer Robert e Maryse? — Jungkook parecia fulminado. — E você? Quando saiu?

— Eu não saí — disse Hodge, suavemente. — Nem eles... tivemos medo, muito medo do que ele poderia fazer. Depois da Ascensão, os mais leais, como Blackwell e Pangborn, desapareceram. Nós ficamos e cooperamos com a Clave. Demos nomes, ajudamos a encontrar os que haviam fugido. Por isso recebemos clemência.

— Clemência? — O olhar de Jungkook foi rápido, mas Hodge viu. Ele disse:

— Você está pensando na maldição que me prende aqui, não está? Você sempre presumiu que fosse um feitiço de vingança aplicado por um demônio furioso ou um feiticeiro. Deixei que pensasse. Mas não é verdade. A maldição que me prende aqui foi lançada pela Clave.

— Por ter integrado o Ciclo? — disse Jungkook, o rosto contorcido de espanto.

— Por não tê-lo deixado antes da Ascensão.

— Mas os Lightwood não foram punidos — disse Taehyung. — Por que não? Eles fizeram a mesma coisa que você.

— Houve circunstâncias atenuantes no caso deles: eram casados, tinham um filho. Mas eles não moram neste posto estrangeiro, longe de casa, por escolha própria. Nós três fomos banidos para cá, nós quatro, devo dizer, pois Yoongi era um bebê quando deixamos a Cidade de Vidro. Eles só podem retornar a Idris em missões oficiais e por períodos curtos. Eu jamais poderei voltar. Jamais voltarei a ver a Cidade de Vidro.

Jungkook o encarou. Era como se ele agora visse o tutor com novos olhos, Taehyung pensou, embora não tivesse sido Jungkook a sofrer qualquer mudança. Ele disse: — A Lei é dura, mas é a Lei.

— Eu ensinei isso a você — disse Hodge, com um prazer seco na voz. — Agora está me devolvendo minhas próprias lições. E eu mereço ouvir isso. — Ele parecia querer afundar em alguma cadeira, mas manteve-se de pé assim mesmo. Com a postura rígida, havia um quê do soldado que havia sido um dia, pensou Taehyung.