Epílogo

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O corredor do hospital era tão branco que quase cegava. Após tantos dias vivendo à luz de uma lanterna, de tochas e de pedra enfeitiçada, a luz fluorescente fazia as coisas parecerem pálidas e artificiais. Quando Taehyung deu entrada na recepção, percebeu que a enfermeira entregava o formulário tinha a pele estranhamente amarelada sob as luzes brilhantes. Talvez ela seja um demônio, Taehyung pensou, devolvendo o formulário.

— Última porta no final do corredor — disse a enfermeira, exibindo um sorriso simpático. Ou, posso estar enlouquecendo.

— Eu sei — disse Taehyung. — Estive aqui ontem. — E antes de ontem, e no dia anterior.

Era princípio de noite, e o corredor não estava tão cheio. Um senhor passeava pelo carpete com chinelos e robe, arrastando uma unidade móvel de oxigênio. Dois médicos trajando roupas cirúrgicas na cor verde, trazendo copos de papelão de café, com vapor sendo emitido da superfície dos copos no ar frígido. Dentro do hospital, o ar-condicionado estava forte, embora lá fora o tempo tivesse finalmente começado a caminhar para o outono.

Taehyung encontrou a porta no final do corredor. Estava aberta. Ele espiou lá dentro, sem querer acordar Jin caso ele estivesse dormindo na cadeira ao lado da cama, como esteve nas últimas duas vezes em que tinha vindo. Mas ele estava acordado e conversando com um homem alto com as vestes dos Irmãos do Silêncio. Ele se virou, como se tivesse sentido a chegada de Taehyung, e viu que era o Irmão Jeremiah.

Taehyung cruzou os braços sobre o peito.

— O que está acontecendo?

Jin parecia exausto. Taehyung podia ver as ataduras que ainda envolviam seu tórax sob a camisa larga de flanela.

— O Irmão Jeremiah já estava de saída — ele informou.

Levantando o capuz, Jeremiah foi em direção à porta, mas Taehyung bloqueou a passagem.

— Então — Taehyung o desafiou. — Você vai ajudar a minha mãe?

Jeremiah se aproximou dele. Taehyung podia sentir o frio emitido por seu corpo, como fumaça de um iceberg.

"Você não pode salvar os outros antes de salvar a si próprio", disse a voz em sua mente.

— Essas frases de biscoitos da sorte já estão ficando velhas — disse Taehyung. — O que há de errado com a minha mãe? Você sabe? Os Irmãos do Silêncio podem ajudá-la como ajudaram Yoongi?

"Não ajudamos ninguém, disse Jeremiah. E não cabe a nós prestar assistência àqueles que se separaram da Clave por vontade própria."

Taehyung recuou enquanto Jeremiah passava por ele na direção do corredor. Ele o observou se afastar, misturar-se à multidão e ninguém prestou atenção nele. Quando deixou os próprios olhos se fecharem parcialmente, ele viu a áurea brilhante de magia que o circulava, e imaginou o que as outras pessoas estavam vendo: Outro paciente? Um médico apressado vestindo roupas cirúrgicas? Um visitante sofrido?

— Ele estava falando a verdade — Jin observou. — Ele não curou Yoongi, quem o fez foi Jung Hoseok. E também não sabe o que há de errado com a sua mãe.

— Eu sei — disse Taehyung, voltando para o quarto.

Ele se aproximou cautelosamente da cama. Era difícil relacionar a figura branca na cama, cheia de tubos, com sua mãe vibrante. Ele pegou a mão fina da mãe e a segurou, como fez na véspera e no dia anterior. Ele podia sentir a pulsação de Dahyun, firme e insistente. Ela quer acordar, pensou Taehyung. Sei que quer.

— É claro que quer — disse Jin, e Taehyung percebeu que havia falado em voz alta. — Ela tem todos os motivos do mundo para melhorar, até mais do que imagina.

Shadowhunters: City of Bones | TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora