-Kim
Uma semana se passou desde a nossa descoberta bem sucedida acerca de Nolan Barr, que na realidade, possui a localização ainda desconhecida. Sete dias desde o tornozelo torcido de Annie e o clima, já ruim entre nós duas, parece ter piorado.
Como se fosse possível.
Há exatamente vinte minutos atrás, Linda Turner, nossa Subchefe, intimou todos em uma reunião dentro de uma hora. Como de costume, vim de forma sorrateira até o telhado, fumar um dos cigarros de menta que trago no bolso.
Solto a fumaça, olhando os prédios arquitetônicos nos estilos romanos e contemporâneos no século XXI. Vago a atenção pelo Big Ben e recordo de modo superficial, das noites que o assistia badalar à meia-noite.
Junto dela.
Enquanto nos entrelaçávamos como bebês preguiças uma a outra, na cama do antigo apartamento onde morei. Seu cabelo ruivo costumava roçar sob o meu nariz, me fazendo espirrar, o que levava Annie a soltar inúmeras gargalhadas com o som.
Fecho os olhos e trago outra vez. Como isso aconteceu? Como pude deixar acontecer? Não passamos apenas de duas estranhas que se conhecem profundamente. Duas estranhas que conheciam tudo uma sobre a outra. Duas estranhas que se...amavam.
Ainda lembro do sussurro adocicado no lóbulo da orelha, dos sorrisos destinados à mim e todas às vezes que senti orgulho de tê-los, em vez do marido tosco dela.
-Kim?
Giro o pescoço para encará-ló. Veste um sobretudo xadrez da Burberry e botas de cadarço Marc Jacobs. Abraça os próprios braços conforme se aproxima de onde estou.
-Aqui está congelando. -Murmura, a voz trêmula por conta do clima. -Como não está tremendo?!
Ergo somente um canto dos lábios e pressiono a guimba do cigarro contra o concreto do peitoral. Arqueio uma sobrancelha para Matt, que treme como um Pinscher.
-Pessoas frias possuem resistência ao clima gélido de Londres, Blossom. Nunca te disseram isso?
Meu amigo faz menção de sorrir mas volta atrás, analisando o cigarro entre os meus dedos.
-Voltou a fumar?
-Nunca deixei.
-Conta outra, Kim! Na época que você e Scully eram como Thelma e Louise, havia abandonado.
Franzo as sobrancelhas, colocando ambas as mãos nos bolsos da calça escura. Estou usando apenas uma gola rolê preta enquanto Matt se assemelha a um pinguim da Antártica.
-Ela me convenceu. Naquela época. Mas as coisas mudaram, Blossom. Agora estamos mais para Infâmia de 1961.
-Credo, Hyein! Vira essa boca pra lá. -Por mais que ache suas falas divertidas, principalmente as exageradas, confio no meu próprio fim trágico.
Talvez não como o de Martha.** Infâmia 1961
-Quem pediu para vir até aqui?
-Ninguém. Lembro vagamente das várias vezes que sumia como um mágico e ressurgia na sala de reuniões, como se nada tivesse acontecido.
Aceno uma vez, virando de costas para o peitoral.
-Sabe qual é a pior parte desse caso? -E respondendo à mim mesma, completo: -É de longe estar perto dela. Annie consegue me sufocar de uma forma que cinco tipos de criminosos nunca conseguiriam. Ela tem essa cabeça dura dela, teimosa, que nunca me dá razão. E foi assim que acabei perdendo um olho, Matt. Jamais transe com a sua parceira de trabalho, Blossom. Isso é uma verdade absoluta.
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(EM PAUSA) MARIA ANTONIETA NÃO ESTÁ MORTA (ROMANCE LÉSBICO)
RomanceEm meio à arquitetura gótica de Londres, Annelise Scully, uma investigadora obstinada, enfrenta o desafio de desvendar a identidade de um ladrão em série que só tem olhos para joias da realeza. Mas há algo mais em jogo: sua ex-parceira e ex-amante...