-Annie
-Querida, a mamãe precisa ir! -Murmuro conforme busco me desvencilhar do aperto de Luce ao redor do meu pescoço. O choramingo durou quase o dia todo, após relatar que ficarei o fim de semana fora e diante disso, minha querida filha estará sob a proteção da avó.
Cuja a força comer vegetais na coloração verde.
E Luce detesta.
-Então me leva com você, mamãe! Eu não gosto de brócolis! Eles ficam todos presos nos dentes!
-É só passar o fio dental. -Digo sorrindo. Fecho o zíper da pequena mala roxa e trago Luce para o colo. Seus pézinhos balançam irritados para lá e para cá acima na beirada da cama.
-Eu tenho medo.
Erguendo uma sobrancelha, pergunto:
-Por quê, querida? A mamãe estará de volta logo logo. Será divertido ficar com a vovó. E eu prometo que a farei jurar de pés juntos não te forçar a comer nenhum vegetal verde, ok?
Desgostosa, Luce acena uma vez. Os olhinhos vermelhos de tanto chorar. E eu entendo o porquê.
Por mais que Isaac nunca tivesse sido um progenitor presente ou ao menos interessado na vida de sua filha, era a única figura paterna que Luce conhecia. Diante da morte repentina dele, seu temperamento mudou e ela se tornou um pouco mais...reservada.
Assim como Kim, meu consciente se intromete.
Beijo o topo da sua cabeça, descansando a bochecha logo depois. Embora soubesse dos riscos que tenho no trabalho, em enfrentar criminosos e participar de missões especiais como essas, o agito descontrolado no estômago não é por conta disso. Não penso em levar um tiro de Nolan ou talvez ser sequestrada por ele. Não temo pelos acontecimentos que possam vir acontecer envolvendo nosso suspeito, mas sim pela Kim. Estamos juntas. Outra vez. Após 6 fodidos anos e o terror de tê-la ao meu lado como a última missão, começa a corroer a mente. Tenho medo de machucá-la de novo e dessa vez, sem conseguir salvá-la. De perdê-la e voltar para casa sozinha.
Como antes.
-Scully?
Olho para cima, arregalando os olhos de forma instantânea ao vê-la. Está vestindo calças pretas justas, uma gola rolê do mesmo tom e o sobretudo de lã batida cobre metade do seu corpo. Um sorriso genuíno escapa dos lábios rosados ao avistar Luce junto à mim.
-Kim...O que faz aqui?
E antes que cogite em responder, vejo minha filha zarpar até ela, abraçando as longas pernas da minha parceira de trabalho. Pega de surpresa, avisto o semblante desconcertado surgir em seu rosto, ao passo que acaricia os cachinhos de Luce.
-Sua mãe me deixou entrar. Pensei que...quisesse uma carona até a pista de voo.
Aceno uma vez. Me levanto da cama, colocando a mala de rodinhas sobre o piso de madeira e ao encara-lá de novo, contemplo Luce no colo de Kim, mexendo curiosamente em seu tapa olho de couro.
-Isso dói? -Indaga, os dedinhos cuidadosos vagando pelo rosto dela.
Minha parceira sorri, as bochechas coradas. A cena é tão admirável, que me pego segurando o pequeno lacrimejo que ameaça surgir no canto dos olhos.
-Não dói. Mas talvez te assuste. Não é nada bonito por baixo.
Luce franze as sobrancelhas, oferecendo um biquinho vermelho para ela.
-Você é como a Zheng! Nunca poderia ser feia, não é mamãe?
Procuro balbuciar qualquer coisa ao passo que tenho um par e meio de olhos me encarando. Muita pressão nesse momento tão...constrangedor. Mas nos segundos finais do jogo, minha mãe surge no batente da porta.
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(EM PAUSA) MARIA ANTONIETA NÃO ESTÁ MORTA (ROMANCE LÉSBICO)
RomanceEm meio à arquitetura gótica de Londres, Annelise Scully, uma investigadora obstinada, enfrenta o desafio de desvendar a identidade de um ladrão em série que só tem olhos para joias da realeza. Mas há algo mais em jogo: sua ex-parceira e ex-amante...