-Kim
Paris é sempre como aquele parente chique e bem vestido com o interior podre.
E não estou falando apenas dos ratos.
E sim das pessoas.Recordo vagamente dos três meses que passei por aqui, trabalhando de forma secreta, para a MI6. A missão envolvia investigar detalhadamente os passos de um arcebispo da Sacré Cœur, suspeito de financiar Bordéus infantis na Espanha e Nova Escócia.
E cada prova obtida, cada perseguição bem sucedida e descoberta gerada, eu sentia vontade de vomitar. De arrancar os olhos do filho da puta e fazê-lo comer, sem pausa para uma bebida. Precisei esperar três meses inteiros, para fornecer provas o suficiente para a Central, de que ele estava por trás do financiamento e tráfico das crianças desaparecidas nesses países.Mas não aconteceu da forma que deveria acontecer.
Ele foi absolvido dos crimes pela igreja católica. Pela justiça. E por cada homem pedófilo que o apoiava com a desculpa de que o erro é reparado por Deus caso houver arrependimento sincero.
Então fiz a minha própria expiação.
-O que acham que preparam pra gente hoje? -Ouço Matt indagar, puxando a mala preta pela calçada ladrilhada da rua onde estamos. -É sexta, né? Será que Linda Turner nos castigaria tanto assim antes do grande dia?
Curvo os lábios, enfiando a mão direita no bolso, ao passo que ouço Annie conversar com seus colegas logo atrás de mim. Sua voz me irrita, trazendo a agonia da lembrança que não sou eu o motivo das risadas, do sorriso, da atenção dela.
-Kim?
Meneio a cabeça para Blossom, captando o olhar incitante. Não quero entrar em outra batalha, pelos motivos de estar distraída, com ele outra vez. Já que ambos temos ciência da razão por trás disso.
-Espero que ela tenha me dado uma suíte.
-O QUÊ?!
Estamos há mais ou menos vinte minutos estacionados na frente da recepção do hotel, aguardando Scully finalizar sua indignação e arrogância com a pobre atendente.
-Senhorita, foi alugada uma suíte nupcial para não fumantes no nome de Linda Turner para Annelise W.Scully e Hyein Kim. Não está correto?
-Não! -Observo suas bochechas se tornarem vermelhas como dois pimentões maduros, combinando perfeitamente com as chamas dos cabelos longos. -Olha...Deve ter algum engano. Minha chefe nunca nos colocaria em um suíte...em um quarto como esse! Todos os outros detetives não estão em quartos separados?
-O limite de dormitórios foi ultrapassado na hora do agendamento, Srta.Scully. E aqui no registro conta a confirmação de Linda Turner acerca da suíte nupcial. A senhorita deseja falar com algum gerente?
Vejo Annie balançar a cabeça. Parece enjoada, como se fosse vomitar a qualquer instante. Olho para Matt, a caminho do elevador e faço o sinal da cruz acima do rosto, recebendo um sorriso irônico do meu amigo.
-Eu alugo outro quarto! Podemos fazer assim? É tudo fica resolvido. -Scully saca o cartão de crédito da carteira e eu bufo, me levantando da poltrona chique do saguão.
-Senhora, todos as vagas já foram preenchidas. É um final de semana importante aqui na capital. Infelizmente, terá que ficar na suíte nupcial.
-Querida...-Apoio o braço ao redor do seu pescoço, admirando o olhar cruel de Annie sobre mim. Os olhos verdes soltando faíscas. -Não queira ser inconveniente com a pobre moça. Iremos nos comportar muito bem antes do casamento, não é?
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(EM PAUSA) MARIA ANTONIETA NÃO ESTÁ MORTA (ROMANCE LÉSBICO)
RomanceEm meio à arquitetura gótica de Londres, Annelise Scully, uma investigadora obstinada, enfrenta o desafio de desvendar a identidade de um ladrão em série que só tem olhos para joias da realeza. Mas há algo mais em jogo: sua ex-parceira e ex-amante...