Falar enquanto dorme é um traço sexy de pessoas insanas

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-Annie

-Não devíamos estar organizando estratégias para pegarmos nosso suspeito? Tipo daqui a um dia?

Ava finaliza o gloss cereja sobre os lábios, direcionando os olhos pelo espelho na minha direção. Esfrega o conteúdo gorduroso na boca, arqueando uma sobrancelha.

-Linda pediu para nos misturar, Anne. Se ficarmos em cima, caçando Nolan a todo segundo, nosso plano irá por água abaixo. Além do mais, foi a própria chefe que nos intimou para que fôssemos no disfarce de hoje à noite.

-Em um puteiro?

A loira revira os olhos azuis.

-É um clube, Scully. Uma casa de eventos, melhor dizendo. E também precisa entrar na onda caso queira emboscá-lo na missa de domingo. -Após o meu revirar de olhos, a vejo sorrir. -Então...O que vai usar hoje à noite? E por favor, não me diga que será uma calça de alfaiataria e essas golas quentes cobrindo o pescoço.

Abro a boca, na intenção de discutir, porém minha amiga segue correndo para o closet e volta segurando dois cabides contendo peças de roupas duvidosas.

A primeira: Um macacão jeans extremamente cavado.
E a segunda ainda pior. Um pedaço de pano possuindo o codinome de vestido, na cor púrpura.

À medida que Ava distribui comentários acerca das vestimentas, busco diminuir a carranca vista na expressão um tanto sincera demais.

-Você odiou, não é?

Aceno uma vez. Em seguida, minha amiga suspira, volta para o compartimento e segundos depois, surge segurando outra peça.

Dessa vez mais atraente, confesso.

Um vestido verde escuro, em veludo, ombro a ombro. Suas mangas se estendem até os pulsos e o comprimento estaciona alguns centímetros acima dos joelhos, talvez cinco.

Sete, caso eu opte usar o miu miu dourados na cabeceira da cama de Ava.

-Esse te conquistou. Eu tenho certeza. -Após um aceno pouco relutante da minha parte, minha amiga sorri, busca o sapato e me entrega junto a uma toalha de banho branca. -Agora vá! Te espero no saguão em mais ou menos meia hora, certo?

Anuo rápido e corro para o banheiro, tropeçando nos próprios pés conforme faço.

Quarenta minutos mais tarde, me encontro resmungando dentro do elevador, conforme calço as tiras da sandália me equilibrando em apenas um pé. Enquanto faço o esforço de não cair, oferendo uma humilhação para a câmera mirada em mim, suspiro fundo olhando para baixo.

Na realidade, gostaria de não estar aqui. Atrás desse maníaco tarado obcecado por rainhas mortas, me forçando a dividir a porra desse trabalho com a minha antiga parceira, cuja deve estar me odiando nesse exato instante. Lembro do maxilar cerrado antes de bater a porta, o olhar cinza carregado de mágoa e o orgulho presente no tom de voz ao sair.

Minutos depois da sua despedida dramática, me vi debruçada sobre um dos travesseiros chiques da suíte, chorando sem parar. O misto de sentimentos que me acometeu tinha a razão de três coisas: A perda de Kim, A volta dela e a confusão gerada em mim por essas duas coisas.

Durante as semanas que viemos trabalhando juntas outra vez, a sensação fantasmagórica havia tomado posse de mim. Venho tendo enxurradas de momentos nostálgicos entre nós duas, momentos que passei anos buscando esquecer, aniquilar no fundo da mente. E agora ela está aqui e isso me mata.

Ter ela tão perto de mim outra vez me mata lentamente.

Como os venenos usados por Graham Young, aquela puta criança assassina.

(EM PAUSA) MARIA ANTONIETA NÃO ESTÁ MORTA (ROMANCE LÉSBICO)Onde histórias criam vida. Descubra agora