-Annie
Há um mito grego sobre o inferno.
De acordo com Hades, as almas dos mortos julgados por boas ações, terão acesso aos Campos Elíseos. Lugar de descanso, paz e um verdadeiro paraíso oposto ao Tártaro. Nome esse dado ao local onde as almas pecaminosas, que tiveram más ações em vida, são enviadas. Um sofrimento sem fim, sem memórias e torturas inimagináveis.
Durante toda a minha vida, acreditei ser cética. Acreditei que qualquer tipo de crença, seja ela verdadeira ou não, fosse apenas besteira. Algo para que os humanos tomassem tempo e se culpassem apenas por estarem livres. No entanto, no percurso desses torturantes dois meses, caçando a porra desse filho da puta, comecei a questionar a própria fé.
Posso estar no tártaro. Presa nessa condição de tortura sem fim.
Listo outra vez as poucas informações que tenho sobre o Ladrão das Rainhas. E o significado do seu codinome se leva ao fato do misterioso desconhecido assaltar museus com o objetivo de roubar itens valiosos de Rainhas e Duquesas mortas ao redor do mundo.
Olho para a bancada à frente, as fotos e os poucos artigos que possuo acerca dele e seus crimes feitos na sombra. Digo isto, pois as únicas três fotografias que trago para investigar, consiste no espectro da silhueta de um tarado.
-O que pretende, seu filho da puta? Me matar de estresse? Me afogar no trabalho como a vadia que todos pensam que sou?
Ouço passos avançarem no corredor e olho por sobre o ombro, encontrando os olhos sonolentos de Luce, minha filha. Ela segura seu bichinho de pelúcia em uma mão e com a outra esfrega as pálpebras.
-Por que ainda está acordada, mamãe?
Caminho até ela, sentindo o piso de taco gelar sob os dedos descalços. Agacho sobre os joelhos, acariciando sua bochecha quente conforme sussurro em seguida.
-A mamãe precisa trabalhar, querida. Volte para cama, ok? Estou quase terminando.
Ela acena e gira o corpo outra vez de volta para o quarto. Suspiro e ponho as mãos na cintura, voltando para a escrivaninha. Reúno todas as poucas provas que tenho e as coloco no envelope branco da delegacia, verificando a terceira imagem antes de guardar.
O colar de diamantes da Maria Antonieta.
Na verdade, nunca havia sido dela, embora fosse oferecido e logo recusado pois a Rainha considerou um pouco "extravagante" demais. E há dois dias atrás, a peça foi misteriosamente roubada do museu de Londres pelo Ladrão das Rainhas.
E como eu gostaria de marcar um V de Voleur (ladrão) no seu peito, assim como fizeram com a Condessa, qual destruiu a reputação de Maria Antonieta com o colar.
Assim como ele está destruindo a minha.
Faz algumas horas desde a reunião que tive com Linda Turner, a superior por trás do caso. O delegado e os demais agentes da sede de investigação, me convidaram a assumir desde o primeiro roubo, o baú da Lady D. no museu Britânico. E diante disso, venho passando por dias e noites mal dormidas à procura de qualquer pista ou testemunha do crime.
Mas só piorou.
Duas semanas depois, ocorreu o assalto à coroa francesa no Museu do Louvre, na França. Sem testemunhas, sem pistas e nenhum sinal do assaltante, decidindo assim, que seria o mesmo suspeito do Museu Britânico.
E agora me encontro derramando a terceira taça de uísque, na espera de mais uma ligação de Turner, pronta para me pegar na mentira, na frustração em não ter sido capaz de descobrir o perfil desse assaltante internacional fodido.
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(EM PAUSA) MARIA ANTONIETA NÃO ESTÁ MORTA (ROMANCE LÉSBICO)
RomanceEm meio à arquitetura gótica de Londres, Annelise Scully, uma investigadora obstinada, enfrenta o desafio de desvendar a identidade de um ladrão em série que só tem olhos para joias da realeza. Mas há algo mais em jogo: sua ex-parceira e ex-amante...