-Annie
Apesar de tudo, acabo confessando a teoria vaga, na qual o Ladrão das Rainhas talvez seja um antigo professor de história da UCL, para minha nova parceira de investigação. Kim analisa com delicadeza, as páginas retiradas de um artigo do ano de 2015 pelo The Daily Telegraph.
-Professor do Crime? -Repete a manchete da notícia e em seguida lê em voz alta. -Nolan Barr, de 56 anos, foi interrogado pela polícia local na manhã dessa terça-feira (19 de dezembro de 2015), acerca das acusações recebidas. Professor de História da University College London, Barr se inocentou a respeito dos depoimentos preparados por três alunos da sua classe. As testemunhas afirmam ter sido coagidas na elaboração de um plano, arquitetado por Nolan, para furtar artigos célebres do Museu Britânico. Em razão da acusação, Barr admite a menção sobre o suposto plano e diz ter sido um plano sem fundamento, apenas para divertimento próprio. No entanto, os estudantes reforçam a imputação de terem sido perseguidos e compelidos de forma contínua a mando do professor. Durante o período de investigação por parte do departamento, Nolan foi afastado da Universidade, porém retornou, após nenhuma prova concreta sobre a acusação ter sido encontrada.
Arqueio uma sobrancelha e Kim faz o mesmo. Ela lembra um ciborgue, com o olho cinza aceso, as sobrancelhas despigmentadas e ao mesmo tempo me recorda uma pirata misteriosa, usando a pala de couro.
-Puta merda, Scully! Isso pode ser uma pista significativa pra porra! A Turner simplesmente ignorou a hipótese?
Aceno.
-Disse que precisamos de algo concreto para investigar e já foram desperdiçados dois meses em pistas sem fundamento. -Aponto para o artigo outra vez. -Consegui acesso à cópia do arquivo original do depoimento dele na delegacia de Westminster, onde foi intimado. Topa ir até lá?
-Só se for agora. -Kim retira a perna de cima da mesa e busca o blazer preto da cadeira, caminhando em direção à porta.
E ao vê-la assim, apoiando qualquer teoria da minha parte sem contestar, me sinto com 26 anos de novo. Como a própria Kim disse mais cedo, de agora em diante, somos parceiras.
E a ideia me entusiasma.
Após estacionarmos seu Rolls Royce Silver Shadow 1967, retiro o cinto de segurança conforme a pego jogar a guimba do cigarro pela janela.
-Não acredito que ainda tenha esse carro.
Minha parceira pisca o olho direito para mim e eu reviro os meus.
-Foi um presente do meu avô, Annie. Aliás, tenho sentimentos por esse carro. -Ela inclina o pescoço, sussurrando em seguida: -Transamos no banco de trás muitas vezes, lembra?
Dou um tapa em seu braço e ouço o riso fino escapar da garganta. Apesar do tom de voz rouco e grave, sua risada sempre foi parecida com a de uma criança.
-E o departamento de transição apoia você dirigir com um olho só?
Acompanho Kim atravessar o estacionamento ao mesmo tempo que prende os primeiros três botões do blazer, ajeita a gravata e busca um palito de dente no bolso frontal. Ergo uma sobrancelha e ela arregala o olho.
-O que foi?
-Pra quê tudo isso?
-Quero parecer intimidadora, Scully. Não te ensinaram nada na academia?
-Você já parece assustadora com esse tapa olho, Kim. Não precisa de mais nada.
A morena cerra a pálpebra, me avaliando de cima abaixo. Dobro os braços abaixo dos seios e a encaro de volta, sentindo uma corrente elétrica maldita se apossar por todo o meu corpo.
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(EM PAUSA) MARIA ANTONIETA NÃO ESTÁ MORTA (ROMANCE LÉSBICO)
Roman d'amourEm meio à arquitetura gótica de Londres, Annelise Scully, uma investigadora obstinada, enfrenta o desafio de desvendar a identidade de um ladrão em série que só tem olhos para joias da realeza. Mas há algo mais em jogo: sua ex-parceira e ex-amante...