-Kim
-Por que o superior Kim possui uma estufa?
Ao passo que aguardamos do lado de fora da mansão do meu avô, procuro ignorar as várias perguntas feitas por Scully.
-Não é apenas para flores, Annie. Acredite, você não irá querer saber.
Ela dá de ombros e logo me segue após sermos liberadas pelo portão central. De início, se assemelha ao palácio de Buckingham, possuindo um jardim repleto de estátuas, canteiros de flores bem cuidados e um enorme e belo chafariz a frente da escadaria que leva à porta de entrada da casa.
Não possuo uma lembrança tão agradável dessa construção.
-Uau! -Brada Annie, deslumbrada pela paisagem do local, embora pequenas gotas de chuva ainda persistam em cair sobre nossas cabeças. -Porra, olha esse lugar! O superior Kim deve ser podre de rico, como a sua família.
Reviro os olhos.
-Só tem dinheiro aqueles que o seguem sem contestar. É bem melhor estar livre, sendo pobre. Acredite.
Diante de nós, há alguns metros de distância, visualizo a governanta Clementine, a velha senhora francesa responsável por metade da minha infância morando nesse inferno.
-Honi! -Corre até nós, batendo as mãos contra o avental em sua cintura. O cabelo loiro agora se encontra um pouco grisalho e também possui inúmeras rugas próximas aos olhos azuis piscina. -Como está, meu amor? Há meses que não a vejo!
Sorrio, deleitando sobre o toque carinhoso de sua mão contra a bochecha, captando de esguelha, a reação de Annie.
-Estive ocupada, Cle. Mas sinto saudades suas e principalmente do cappuccino de chocolate com pimenta.
A senhora sorri, mostrando os dentes e examina Annie com o olhar semicerrado, demonstrando atiço. Limpo a garganta.
-Essa é Annelise Scully, minha...-Clementine arqueia a sobrancelha e vejo a ruiva corar de imediato, olhando para as próprias mãos. -Minha parceira de trabalho. Annie...Scully, essa é Clementine. Foi como uma segunda mãe para mim.
-Muito prazer, minha jovem! É ótimo colocar um rosto no nome tão ouvido por aqui. Não é mesmo, Honi?
Afrouxo a gravata, coçando a nuca.
-Tem alguém em casa? Kim, na verdade.
Ela nega, limpando outra vez as mãos no avental.
-Seu avô está na cidade, querida. É algo urgente?
-Não, não! Na verdade, gostaria de ir até a estufa. Recorda dos Hibiscos da Coreia? Nos quais ele trouxe para cá?
Cle balança a cabeça de modo afirmativo inúmeras vezes, colocando a mão na frente do rosto, buscando se proteger da garoa insistente.
-Ainda possui um canteiro cheio deles, querida! Lembro que eram os seus favoritos. -Sorri de novo, juntando as mãos e olha para Annie. -Gostariam de se aquecer? Faço uma dose dupla de capuccino rapidinho.
-Eu ficaria maravilhada, Cle. -Agradeço, pegando suas mãos e apertando com gentileza. -Mas precisamos ver a estufa...Tenho que pegar algo lá. Pode nos dar cobertura caso Kim chegue?
-Que pergunta boba! Esqueceu de todas às vezes que lhe dei? Podem ir, meninas. Estarei na cozinha preparando os cappuccinos para a viagem, tudo bem?
Após me despedir, puxo Scully pela mão, correndo em direção aos fundos da propriedade. Aceno algumas vezes, em reverência, para alguns soldados e minutos depois, destravo o cadeado da pequena porta de metal esverdeado.
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(EM PAUSA) MARIA ANTONIETA NÃO ESTÁ MORTA (ROMANCE LÉSBICO)
RomansaEm meio à arquitetura gótica de Londres, Annelise Scully, uma investigadora obstinada, enfrenta o desafio de desvendar a identidade de um ladrão em série que só tem olhos para joias da realeza. Mas há algo mais em jogo: sua ex-parceira e ex-amante...