Capítulo XIV

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- Não,  Rodolffo.   Não vai acontecer nada sem antes eu contar uma coisa importante.

- Desculpa.  Foi maior que eu.  O que é que queres dizer?

- Não peças desculpa.  Eu também quero, mas primeiro preciso falar.

- Quero que saibas que não foi propositado.  Aconteceu. Nós conhecemo-nos num comboio.  Eu enganei-me e em vez de apanhar o comboio para sul, apanhei para norte.

Tu foste atrevido, meteste conversa no bar e fomos para a minha cabine. Aconteceu.  Do nada estávamos a transar e que transa!

Rodolffo sorria.

Transámos mais uma vez e por fim chegámos a Ponte de Lima.  Levaste-me a tua casa, mas Aconteceu uma coisa com a tua mãe,  que não vale a pena falar e eu vim para Viana onde não tardou a que tu me encontrasses.
Ficamos juntos nessa noite e na manhã seguinte saíste para trabalhar e prometeste voltar, mas isso não aconteceu nem nessa nem nas noites seguintes.   Acho que  foi no dia em que tiveste o acidente.

Liguei várias  vezes e também mandei mensagens.   Por fim num dia a tua mãe respondeu e disse que tinhas ido ter com a tua noiva.  Haviam reatado a relação e que ela tinha o telemóvel porque te tinhas esquecido dele lá em casa.

- Parece que isso foi tudo mentira.

- Sim.  A Lia contou-me, mas isso é passado.  O presente é agora e eu vim cá só para te dizer que toda a nossa loucura teve consequências.
Eu tinha ideia de comprar a pílula do dia seguinte, mas com a confusão esqueci-me.

Fica sabendo que não quero forçar-te a nada, apenas quis ser eu a contar.  O teu sonho era real.  Vamos ter um filho.  Eu estou grávida de quase dois meses

Rodolffo não disse nada.  Deitou a cabeça no meu colo e beijou a minha barriga.  Tinha lágrimas nos olhos que eu limpei com a ponta dos dedos.

Ficámos ambos em silêncio.  Eu olhava para baixo e via Rodolffo franzir a testa.  Levou as mãos ao rosto e esfregou as têmporas.

- Que foi Rodolffo?  Estás com dores?

- Uma dor de cabeça terrível.

- Queres um comprimido?  Diz-me onde estão.

Rodolffo tomou o comprimido, segurou na mão de Juliette e levou-a para o quarto.

- Vou dormir um pouco.  Ficas aqui comigo?

- Se me quiseres aqui, eu fico.

- Não te deixo ir embora, mãe do meu bébé.

- Estás contente?

- Estou num misto de felicidade e raiva.  Muita raiva da minha mãe.

- Deixa lá.  Pensa só no que te faz feliz.

Rodolffo deitou-se e Juliette também.   No instante seguinte o estômago dela roncou.

- Que desastre que eu sou.  São horas de almoço e não te ofereci nada. Anda, levanta-te, vou arranjar alguma coisa para comermos e depois voltamos.

Rodolffo preparou duas tostas mistas  e dois sucos.  Comeram e voltaram para a cama.
Logo adormeceram abraçados e foi assim que Lia os encontrou ao ir  espreitar depois de ver uma mala na sala.

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