- Escrivão! Tome nota do depoimento deste sujeito.
- Quem me contactou foi uma dona chamada Micaela Duarte. Eu não a conhecia. Fui um amigo meu que nos apresentou. Ele disse que ela precisava de um favorzinho e pagava bem.
Eu estou sem trabalho e tenho filhos para dar de comer, então aceitei.
- E o que precisavas fazer? Qual era o serviço?
- Só dar um susto na moça. Uma batida no carro, um chega pra lá. Só susto mesmo.
- E recebeste quanto?
- Eu recebi mil euros. Os outros dois eu ia receber depois.
- Três mil euros para dar um susto em alguém. Conta essa pra outro. Comigo não cola.
- A moça disse que se eu provocasse um acidente grave até pagava cinco mil, mas como eu disse que não ia matar ninguém, ficou nos três só para assustar.
- Teve mais alguém nessa conversa?
- Não. Só eu e a moça que encomendou o serviço.
- Cabo, mande entrar a doutora.
Juliette entrou. O indivíduo estava de cabeça baixa.
Ela leu o depoimento dele e disse:- Precisamos de apanhá-la com a boca na botija. Quando ias receber o resto do dinheiro?
- Assim que ela recebesse a confirmação de que o trabalho estava feito.
- Comandante, precisamos apanhá-la. Vamos deixá-la cair na sua armadilha.
- Como? Qual a ideia?
Juliette explicou o plano. Precisavam da colaboração da polícia de Ponte de Lima.
- Vamos deixar-te sair em liberdade e vais hoje ainda para Ponte de Lima. Ao chegares lá apresentas-te na esquadra sem falta. Se falares ou contares o que se passou aqui, vais de cana imediatamente.
Ele concordou e foi liberado. - Obrigado doutora. Eu nunca ia fazer-lhe mal. Era só um susto e fiz por necessidade mesmo. Os meus filhos passam muita fome. Eu trabalho de vez em quando, mas não é suficiente.
- Espero que tudo melhore.
Juliette despediu-se e precisava pedir a colaboração de Rodolffo. Não que quisesse. Sabia que ele ia ficar piurso, mas era necessário.
- Olá de novo.
- O que aconteceu?
Juliette explicou, pedindo para ele ter calma.
- Preciso que voltes lá na casa da tua mãe, fazer o maior barraco e dizer que eu estou hospitalizada. Que é grave talvez não resista. Tens que ser convincente.
- Eu faço, mas de seguida vou para aí. Não te quero mais sózinha.
Só volto contigo.Rodolffo que ainda estava em Ponte de Lima regressou a casa da mãe. Desta vez teve que bater à porta.
Entrou de rompante sem dar tempo delas dizerem nada.- Se acontecer alguma coisa grave a Juliette, eu mato as duas.
- Que estás a dizer, filho?
- Juliette foi atacada e eu sei que as mandantes são vocês. Ela corre risco de vida, mas rezem a todos os anjos para ela recuperar e sem sequelas pois não responderei por mim.
- Não sei do que falas, filho. Ela não está em Lisboa? Como nós poderíamos fazer alguma coisa? Micaela, tu fizeste algo?
- Nem se eu quisesse. Não tenho dinheiro para um bilhete de comboio sequer.
- Estão as duas avisadas. Não sabem com quem se meteram.
Rodolffo viu o sorriso cínico de Micaela. A vontade era esganá-la, mas decidiu ir embora para não estragar a acção da polícia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Falta de atenção
FanfictionEstejam sempre atentos. A falta de atenção pode ocasionar vários contratempos. Um comboio que se perde, um dia que não se vive...um amor que passa e não dá tempo de agarrar.