Capítulo XX

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- Escrivão!  Tome nota do depoimento deste sujeito.

- Quem me contactou foi uma dona chamada Micaela Duarte.  Eu não a conhecia.  Fui um amigo meu que nos apresentou.  Ele disse que ela precisava de um favorzinho e pagava bem.

Eu estou sem trabalho e tenho filhos para dar de comer, então aceitei.

- E o que precisavas fazer?  Qual era o serviço?

- Só dar um susto na moça.  Uma batida no carro, um chega pra lá.  Só susto mesmo.

- E recebeste quanto?

- Eu recebi mil euros.  Os outros dois eu ia receber depois.

- Três mil euros para dar um susto em alguém.  Conta essa pra outro.  Comigo não cola.

- A moça disse que se eu provocasse um acidente grave até pagava cinco mil, mas como eu disse que não ia matar ninguém, ficou nos três só para assustar.

- Teve mais alguém nessa conversa?

- Não.   Só eu e a moça que encomendou o serviço.

- Cabo, mande entrar a doutora.

Juliette entrou.  O indivíduo estava de cabeça baixa.
Ela leu o depoimento dele e disse:

- Precisamos de apanhá-la com a boca na botija.  Quando ias receber o resto do dinheiro?

- Assim que ela recebesse a confirmação de que o trabalho estava feito.

- Comandante, precisamos  apanhá-la.  Vamos deixá-la cair na sua armadilha.

- Como?  Qual a ideia?

Juliette explicou o plano.  Precisavam da colaboração da polícia de Ponte de Lima.

- Vamos deixar-te sair em liberdade e vais hoje ainda para Ponte de Lima.  Ao chegares lá apresentas-te na esquadra sem falta.  Se falares ou contares o que se passou aqui, vais de cana imediatamente.

Ele concordou e foi liberado. - Obrigado doutora.  Eu nunca ia fazer-lhe mal.  Era só um susto e fiz por necessidade mesmo.  Os meus filhos passam muita fome.  Eu trabalho de vez em quando, mas não é suficiente.

- Espero que tudo melhore.

Juliette despediu-se e precisava pedir a colaboração de Rodolffo.   Não que quisesse.   Sabia que ele ia ficar piurso,  mas era necessário.

- Olá de novo.

- O que aconteceu? 

Juliette explicou, pedindo para ele ter calma.

- Preciso que voltes lá na casa da tua mãe,  fazer o maior barraco e dizer que eu estou hospitalizada.  Que é grave talvez não resista.  Tens que ser convincente.

- Eu faço, mas de seguida vou para aí.  Não te quero mais sózinha.
Só volto contigo.

Rodolffo que ainda estava em Ponte de Lima regressou a casa da mãe.   Desta vez teve que bater à porta.
Entrou de rompante sem dar tempo delas dizerem nada.

- Se acontecer alguma coisa grave a Juliette,  eu mato as duas.

- Que estás a dizer, filho?

- Juliette foi atacada e eu sei que as mandantes são vocês.   Ela corre risco de vida, mas rezem a todos os anjos para ela recuperar e sem sequelas pois não responderei por mim.

- Não sei do que falas, filho.  Ela não está em Lisboa?  Como nós poderíamos fazer alguma coisa?  Micaela, tu fizeste algo?

- Nem se eu quisesse.  Não tenho dinheiro para um bilhete de comboio sequer.

- Estão as duas avisadas.  Não sabem com quem se meteram.

Rodolffo viu o sorriso cínico de Micaela.   A vontade era esganá-la, mas decidiu ir embora para não estragar a acção da polícia.

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