Corri o máximo que pude. Já estava atrasada. Tinha combinado chegar cedo e aqui estou eu sempre numa correria louca.
Cheguei à estação e entrei no comboio parado na gare. Olhei em redor, entrei na cabine e recostei-me para trás tentando recuperar o fôlego. Bebi um pouco de àgua e fechei os olhos.
Na minha mente estava a noite anterior.
Tinha saído com uns amigos para descontrair. Copo vai copo vem, cheguei a casa pela madrugada.Estava de férias. O combinado era encontrar-me com Luisa. Ela ia apanhar o comboio no Barreiro e juntas seguiríamos para o Algarve.
Dormitei por alguns momentos. Sinto baterem à porta da cabine. Era o revisor para conferir os bilhetes.
- Bom dia. O seu bilhete menina, se faz favor.
- Aqui está.
- Está enganada, menina. Este comboio vai para Norte, não para Sul.
- Como assim? Não vai para o Algarve?
- Não. Vai para cima. Para o Algarve só parte às 9 horas da manhã.
- Sim. Este era das 9 horas.
- Não. Este saiu às 8 horas. Esqueceu-se da mudança da hora?
- Pois é. Que idiota eu sou. Vim a correr por julgar estar atrasada e entrei no primeiro comboio.
- Pode sair na próxima paragem e fazer o retorno.
- A próxima paragem é Coimbra?
- Sim, menina.
Liguei para Luísa. Esta quando não me viu regressou a casa.
- Que merda... porque é que sou tão distraída?
Prometo que vais ser castigada. Nada de Algarve. Vais passar as férias sózinha e no Norte que é para tomares mais atenção.Acessou a página da empresa de transportes e por sorte conseguiu que lhe trocassem o bilhete. Escolheu a cidade de Ponte de Lima como destino final.
Deixou a cabine e foi até ao bar. Precisava de um café e de comer alguma coisa, pois não tinha tomado café da manhã.
- Um café duplo e uma sanduíche mista com manteiga, pf.
Sentou-se numa das mesas. Bebeu um gole de café e começou com o sanduíche.
- Importa-se que me sente a seu lado?
- Faça favor, respondeu Juliette sem olhar para a pessoa. Tinha raiva dos intrusos. O bar nem estava cheio, porque é que ele não se sentou noutra mesa?
- Desculpe, mas viajo sózinho e não gosto. São muitas horas sem ninguém para conversar. Chamo-me Rodolffo Carvalho.
- Juliette Graça. Eu gosto de viajar sózinha. É o momento em que faço retrospectiva da minha vida. Com licença, já terminei, vou voltar à minha cabine.
- Fique mais um pouco. Vamos conversar, a viagem é longa.
- Se quiser venha para a minha cabine. Lá é mais confortável.
- Rodolffo segui-a e reparou que ela estava duas cabines à frente da sua.
- Vai para onde?
- Na verdade não sei. Comprei bilhete para o Algarve e estou num comboio para o Norte. Felizmente consegui trocar e escolhi Ponte de Lima que nunca fui, não conheço e não tenho lá ninguém.
- Tem-me lá a mim. É para lá que vou e agora já conhece alguém.
- É sempre assim brincalhão? Se me indicar um sítio barato para ficar, já lhe fico muito agradecida.
- Se aceitar, dou-lhe guarida na minha casa.
Juliette olhou para ele e torceu o nariz.
- Não é o que você pensa. Moro com minha mãe e minha irmã de 20 anos. Fui a Lisboa tratar de uns assuntos burocráticos e estou de regresso.
Só neste momento Juliette parou para olhar para o jovem à sua frente. Alto, moreno, cabelo e barba perfeitos, bem sarado, era o que se pode chamar, "um pedaço de mau caminho".
Olhou pela janela para o exterior e tentou afastar os pensamentos maliciosos que afloravam na sua mente. Juliette não era inocente nem estava morta.
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Falta de atenção
Fiksi PenggemarEstejam sempre atentos. A falta de atenção pode ocasionar vários contratempos. Um comboio que se perde, um dia que não se vive...um amor que passa e não dá tempo de agarrar.