Capítulo I

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Corri o máximo que pude.  Já estava atrasada. Tinha combinado chegar cedo e aqui estou eu sempre numa correria louca.

Cheguei à estação e entrei no comboio parado na gare.  Olhei em redor, entrei na cabine e recostei-me para trás tentando recuperar o fôlego.   Bebi um pouco de àgua e fechei os olhos.

Na minha mente estava a noite anterior.
Tinha saído com uns amigos para descontrair.  Copo vai copo vem, cheguei a casa pela madrugada. 

Estava de férias.  O combinado era encontrar-me com Luisa. Ela ia apanhar o comboio no Barreiro e juntas seguiríamos para o Algarve.

Dormitei por alguns momentos.  Sinto baterem à porta da cabine.  Era o revisor para conferir os bilhetes.

- Bom dia.  O seu bilhete menina,  se faz favor.

- Aqui está.

-  Está enganada, menina.  Este comboio vai para Norte, não para Sul.

- Como assim?  Não vai para o Algarve?

- Não.  Vai para cima.  Para o Algarve só parte às 9 horas da manhã.

- Sim.  Este era das 9 horas.

- Não.   Este saiu às 8 horas.  Esqueceu-se da mudança da hora?

- Pois é.  Que idiota eu sou.  Vim a correr por julgar estar atrasada e entrei no primeiro comboio.

- Pode sair na próxima paragem e fazer o retorno.

- A próxima paragem é Coimbra?

- Sim, menina.

Liguei para Luísa.  Esta quando não me viu regressou a casa.

- Que merda...  porque é que sou tão distraída?
Prometo que vais ser castigada. Nada de Algarve.  Vais passar as férias sózinha e no Norte que é para tomares mais atenção.

Acessou a página  da empresa de transportes e por sorte conseguiu que lhe trocassem o bilhete.  Escolheu a cidade de Ponte de Lima como destino final.

Deixou a cabine e foi até ao bar.  Precisava de um café e de comer alguma coisa, pois não tinha tomado café da manhã.

- Um café duplo e uma sanduíche mista com manteiga,  pf.

Sentou-se numa das mesas.  Bebeu um gole de café e começou com o sanduíche.

- Importa-se que me sente a seu lado?

- Faça favor, respondeu Juliette sem olhar para a pessoa.  Tinha raiva dos intrusos.   O bar nem estava cheio, porque é que ele não se sentou noutra mesa?

- Desculpe, mas viajo sózinho e não gosto.  São muitas horas sem ninguém para conversar.  Chamo-me Rodolffo Carvalho.

- Juliette Graça.  Eu gosto de viajar sózinha.  É o momento em que faço retrospectiva da minha vida.  Com licença,  já terminei, vou voltar à minha cabine.

- Fique mais um pouco.  Vamos conversar, a viagem é longa.

- Se quiser venha para a minha cabine.  Lá é mais confortável.

- Rodolffo segui-a e reparou que ela estava duas cabines à frente da sua.

- Vai para onde?

- Na verdade não sei.  Comprei bilhete para o Algarve e estou num comboio para o Norte.  Felizmente consegui trocar e escolhi Ponte de Lima que nunca fui, não conheço e não tenho lá ninguém.

- Tem-me lá a mim.  É para lá que vou e agora já conhece alguém.

- É sempre assim brincalhão?  Se me indicar um sítio barato para ficar, já lhe fico muito agradecida.

- Se aceitar, dou-lhe guarida na minha casa.

Juliette olhou para ele e torceu o nariz.

- Não é o que você pensa.  Moro com minha mãe e minha irmã de 20 anos.  Fui a Lisboa tratar de uns assuntos burocráticos e estou de regresso.

Só neste momento Juliette parou para olhar para o jovem à sua frente.  Alto, moreno, cabelo e barba perfeitos,  bem sarado, era o que se pode chamar, "um pedaço de mau caminho".

Olhou pela janela para o exterior e tentou afastar os pensamentos maliciosos que afloravam na sua mente.  Juliette não era inocente nem estava morta.




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