Eu saí de perto do meu pai odiando minha mãe e Micaela. Entrei no carro e já fui rasgando pneu, mas num rasgo de consciência lembrei-me do meu bébé e reduzi a velocidade. Acabava de me recuperar de um acidente, não ia sujeitar-me a provocar outro.
Estacionei na entrada e como ainda tinha a chave, fiz de propósito e entrei sem tocar à campainha.
Minha mãe estava na cozinha a bater um bolo Micaela quando ouviu a porta veio lá de dentro em trajes menores.
- Quanta intimidade vai por aqui!
Ema percebeu a presença do filho e foi logo tentar explicar-se.
- Fomos à academia e a Micaela pediu para tomar banho cá.
- Não te esforces em explicações. Eu já sei de tudo. Vocês duas metem-me nojo. Não pela relação, mas o quão sujo jogaram comigo e com o pai.
- Foi o teu pai que contou? Ele prometeu nunca contar.
- E esperavam esconder até quando?
Até não haver mais quem extorquir?- Nós não extorquimos ninguém.
- Ai não? E a pensão do pai, achas justo? Tu é que és a traidora. Ficaste com a casa e a pensão. E como esperavas fazer se eu casasse com ela como fazias questão? Era relacionamento a três ou eu seria o fantoche? Diz, mãe. Como ia ser?
- Mais respeito comigo. Estás em minha casa.
- Rodolffo, a tua mãe...
- Tu nem abras a boca. Nunca bati numa mulher, mas há sempre uma primeira vez e estou a um passo de te dar uma lostra.
És uma encostada. Vivias à minha custa e agora à custa da minha mãe, mas a mordomia vai acabar. O pai vai retirar-te a pensão e no que depender de mim eu vou apoiar.- Ele não pode fazer isso. Eu vou viver de quê?
- De trabalhar como toda a gente. Há outra hipótese, mas uma já está acabada e a outra deve estar bem rodada.
- Deves estar a falar da actual. Essa sim. Veio lá de Lisboa, sabe Deus de fazer o quê?
- Respeito com a Juliette. Vocês nem servem para tapete dela.
- Recebi a queixa que ela fez de mim, mas ela que nem sonhe que eu vou a tribunal. Eu nem dinheiro tenho para advogado.
- Controlasses a lingua. Ah! Não podes. Ultimamente é com ela que trabalhas mais.
- Respeito, ainda sou tua mãe.
- Progenitora. Mãe é outra coisa. Vou embora para nunca mais ter que olhar na vossa cara. Afasta-te de nós e principalmente da Lia.
- Fala para aquela lá retirar a queixa contra mim ou eu farei a vossa vida um inferno.
- Não direi nada. Essas ameaças não nos assustam.
- Ai não? Depois diz que não avisei. Há muitos perigos à espreita nas ruas de Lisboa.
- O quê? Como sabes que a Juliette está em Lisboa? Isso é uma ameaça muito grave.
- Não nos subestimes, Rodolffo! Vieste aqui todo arrogante. É só um aviso. - disse Micaela toda segura.
Rodolffo chegou junto dela, colocou a mão no pescoço e apertou.
- Brinca comigo e verás o triste fim que vais ter. Verás um Rodolffo que jamais sonhaste.
O aviso é para ti também, mãe. Esqueçam que nós existimos pois é o que nós faremos.Rodolffo soltou o pescoço de Micaela que se curvou para tentar recuperar a respiração.
- Vou apresentar queixa por agressão, Rodolffo.
- Vai, mas vai já para não perderes tempo. Eu vou também por ameaçarem a Juliette.
Quero ver, em quem eles vão acreditar. E que tal eu espalhar também o vosso caso.
As tuas amigas da alta sociedade iam ficar contentes com a tua história, mãe.Rodolffo! Vamos esquecer isto tudo e cada um seguir a sua vida. Não há necessidade de mais confusão.
- Então refreia aí a tua amiguinha se não quiserem que a coisa azede.
Rodolffo atirou com a chave para cima do sofá, saiu e bateu a porta.
Entrou no carro e ligou de imediato, para Juliette.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Falta de atenção
Fiksi PenggemarEstejam sempre atentos. A falta de atenção pode ocasionar vários contratempos. Um comboio que se perde, um dia que não se vive...um amor que passa e não dá tempo de agarrar.