Capítulo XVIII

65 14 7
                                    

Eu saí de perto do meu pai odiando minha mãe e Micaela.  Entrei no carro e já fui rasgando pneu, mas num rasgo de consciência lembrei-me do meu bébé e reduzi a  velocidade.  Acabava de me recuperar de um acidente, não ia sujeitar-me a  provocar outro.

Estacionei na entrada e como ainda tinha a chave, fiz de propósito e entrei sem tocar à campainha.

Minha mãe estava na cozinha a bater um bolo Micaela quando ouviu a porta veio lá de dentro em trajes menores.

- Quanta intimidade vai por aqui!

Ema percebeu a presença do filho e foi logo tentar explicar-se.

- Fomos à academia e a Micaela pediu para tomar banho cá.

- Não te esforces em explicações.   Eu já sei de tudo.  Vocês duas metem-me nojo. Não pela relação,  mas o quão sujo jogaram comigo e com o pai.

- Foi o teu pai que contou?  Ele prometeu nunca contar.

- E esperavam esconder até quando?
Até não haver mais quem extorquir?

- Nós não extorquimos ninguém.

- Ai não?  E a pensão do pai, achas justo?  Tu é que és a traidora.   Ficaste com a casa e a pensão. E como esperavas fazer se eu casasse com ela como fazias questão?  Era relacionamento a três ou eu seria o fantoche?  Diz, mãe.   Como ia ser?

- Mais respeito comigo.   Estás em minha casa.

- Rodolffo,  a tua mãe...

- Tu nem abras a boca.  Nunca bati numa mulher, mas há sempre uma primeira vez e estou a um passo de te dar uma lostra.
És uma encostada.  Vivias à minha custa e agora à custa da minha mãe, mas a mordomia vai acabar.  O pai vai retirar-te a pensão e no que depender de mim eu vou apoiar.

- Ele não pode fazer isso.  Eu vou viver de quê?

- De trabalhar como toda a gente.  Há outra hipótese, mas uma já está acabada e a outra deve estar bem rodada.

- Deves estar a falar da actual.  Essa sim.  Veio lá de Lisboa, sabe Deus de fazer o quê?

- Respeito com a Juliette.  Vocês nem servem para tapete dela.

- Recebi a queixa que ela fez de mim, mas ela que nem sonhe que eu vou a tribunal. Eu nem dinheiro tenho para advogado.

- Controlasses a lingua.  Ah!  Não podes.  Ultimamente é com ela que trabalhas mais.

- Respeito, ainda sou tua mãe.

- Progenitora.  Mãe é outra coisa.   Vou embora para nunca mais ter que olhar na vossa cara.  Afasta-te de nós e principalmente da Lia.

- Fala para aquela lá retirar a queixa contra mim ou eu farei a vossa vida um inferno.

- Não direi nada.  Essas ameaças não nos assustam.

- Ai não?  Depois diz que não avisei. Há muitos perigos à espreita nas ruas de Lisboa.

- O quê?  Como sabes que a Juliette está em Lisboa?  Isso é uma ameaça muito grave.

- Não nos subestimes, Rodolffo!  Vieste aqui todo arrogante.  É só um aviso. - disse Micaela toda segura.

Rodolffo chegou junto dela,  colocou a mão no pescoço e apertou.

- Brinca comigo e verás o triste fim que vais ter.  Verás um Rodolffo que jamais sonhaste.  
O aviso é para ti também,  mãe.  Esqueçam que nós existimos pois é o que nós faremos.

Rodolffo soltou o pescoço de Micaela que se curvou para tentar recuperar a respiração.

- Vou apresentar queixa por agressão, Rodolffo.

- Vai, mas vai já para não perderes tempo.  Eu vou também por ameaçarem a Juliette. 
Quero ver, em quem eles vão acreditar.  E que tal eu espalhar também o vosso caso.
As tuas amigas da alta sociedade iam ficar contentes com a tua história,  mãe.

Rodolffo!  Vamos esquecer isto tudo e cada um seguir a sua vida.  Não há necessidade de mais confusão.

- Então refreia aí a tua amiguinha se não quiserem que a coisa azede.

Rodolffo atirou com a chave para cima do sofá, saiu e bateu a porta.

Entrou no carro e ligou de imediato, para Juliette.

Falta de atenção Onde histórias criam vida. Descubra agora