Capítulo 2

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Ella

— Ella falando, — eu digo enquanto pego meu celular da minha mesa de cabeceira.

Eu já sei quem é porque tenho um toque definido apenas para a agência.

― Ei Ella, nós recebemos um pedido para você esta manhã. Acha que pode fazer uma entrevista hoje à tarde? — Jenny pergunta em sua voz sempre animada.

Não importa a hora do dia ou o quão ocupada esteja,
ela sempre parece feliz.Olho para o relógio. Eu deveria ter me levantado trinta minutos atrás,mas ainda estou me ajustando para poder dormir a noite toda.

Por hábito, acordo a cada poucas horas pensando que há um bebê para checar, só para lembrar, depois de me sentar, que não há.Vejo que já são dez horas e tenho uma consulta médica às onze. Vou ter que me mexer.

É outra razão pela qual tive problemas para dormir na noite passada. Continuo tendo pesadelos de que eles vão me dizer que algo está errado comigo e eu não posso ter um filho. Cenários de pesadelos como esse batem na minha mente o tempo todo.

Então o pensamento persistente de que estou fazendo a coisa errada aparece. Continuo empurrando isso de lado, pensando que é só eu estar
com medo de fazer isso sozinha, mas eu sei que o posso fazer. Eu amo crianças e eles me amam. Estou bem com eles e vou ser uma ótima mãe.

— Teria que ser depois da uma, — digo-lhe, sentando-me e sufocando um bocejo. — Se isso não funcionar, talvez apenas arranje outra pessoa? — Coloco meus pés para o lado da cama e esfrego o sono dos meus olhos.

— Não, este foi um pedido para você especificamente. Vou te mandar todos os detalhes.

— Obrigada, — digo-lhe antes de desligar.

Preciso colocar minha bunda em movimento. Eu pulo no chuveiro,fazendo rapidamente a minha rotina matinal, antes de entrar no meu armário para encontrar algo para vestir. Eu planejei algo casual, mas parece que vou estar correndo da clínica para a minha entrevista de emprego.

Não é incomum para mim saltar de um emprego para o outro, e a maioria dos que eu recebo são referências. Este poderia ser o meu último trabalho como enfermeira de bebês residente.

Se eu engravidar imediatamente, claro. Eu me pergunto como vou fazer a transição para ser uma enfermeira normal em um hospital ou prática familiar. Eu sei que uma vez que tenha um filho, não posso mais ser interna.

Eu nem sequer engravidei e já estou pensando em muitos passos à frente.Eu me decido por um vestido branco simples até o meio dos joelhos,um blazer e sapatilhas. Volto para o banheiro e coloco um pouco de rímel e brilho labial antes de escovar meu cabelo uma última vez.

Eu pego minha bolsa e meu telefone enquanto saio, em seguida, ando pela rua para pegar o ônibus. Talvez deva pensar em ter um carro.Eu não tenho muita necessidade de um, mas penso que, com um
bebê, terei. Faço uma anotação no meu celular para procurar os veículos familiares mais seguros.

Quando entro no ônibus, olho as informações que Jenny mandou, colocando o endereço no Google Maps para determinar se eu vou precisar chamar um táxi ou se um ônibus vai me levar até lá.

Vejo que vou me encontrar com um homem. Brooks Renshaw. O nome parece familiar, mas não consigo situá-lo. Quando o mapa on-line aparece, percebo por que o nome parecia familiar. O Renshaw Banking é o banco maior do estado e está a caminho de se tornar um dos maiores do país. Pelo que sei, já é.

Todo mundo sabe quem é Brooks Renshaw por causa do sucesso que teve em uma idade jovem. Algo sobre ser bom no mercado de ações, se bem me lembro. Não há muito mais que eu saiba sobre ele.

Eu nem me lembro se já vi uma foto dele antes. Vejo que nosso encontro será em seu escritório. Olho para o meu vestido e me pergunto se estou mal vestida. Eu me lembro de que sou apenas uma enfermeira e não uma mulher de negócios. Não estou me candidatando a um emprego em um de seus ramos.

Talvez eu deva pesquisar sobre ele no Google. Tenho certeza que vai me dizer algo sobre sua esposa. Quando digito o seu nome, a primeira coisa que surge é uma foto dele e minha respiração fica presa.

Não, eu tenho certeza que eu nunca vi uma foto dele antes, porque este não é um homem de se jogar fora. Tudo sobre ele irradia poder e domínio. Desde o seu cabelo escuro aos seus olhos escuros. Clico em outra foto,confirmando o que já pensava. O poder emana dele.

É um homem grande, e na foto ele está com alguns outros homens, mas facilmente domina todos eles. Não é apenas a altura dele também; ele é todo grande. Nenhuma das fotos que estou percorrendo o mostra com uma mulher. E também não noto um anel no seu dedo.

Clico no link da Wikipédia sobre ele, esperando que isso me dê alguma pista, mas o relaciona como solteiro. Interessante. Talvez eles estejam mantendo alguma discrição sobre ele ou algo assim. Sinto um
traço de culpa pela atração que senti quando vi pela primeira vez a foto de Brooks.

Ele pertence a outra pessoa. Eu preciso me lembrar
disso. Nunca tive pensamentos assim antes sobre um cliente. É um pouco inquietante. Eu também nunca tive uma atração instantânea por um homem.

Normalmente tenho que me forçar a ir em encontros, esperando que um talvez desenvolva com o tempo. Mas isso nunca acontece.Olho para cima quando ouço o motorista do ônibus chamar para o
meu ponto. Guardo o meu celular e saio. É apenas uma curta caminhada até o consultório do médico, e fico do lado de fora olhando para o prédio.

Não estou tão excitada quanto pensei que estaria. Algo não parece certo. Quando eu era uma garotinha e brincava com minhas bonecas, nunca foi assim que vi isso acontecer. Balanço a cabeça para mim mesma, tentando me livrar da festa de piedade que me invadiu agora.

Entro no consultório da médica, colando um sorriso que não sinto. Eu preencho a papelada e analiso todos os procedimentos, mas juro que não vou aceitar. Não é até que a médica coloca uma pilha de pastas na minha frente que eu finalmente saio do transe.Caí em mim.

— Estes são possíveis doadores, — ela me diz, deslizando as pastas para mim.

Hesito por um momento antes de me aproximar e pegá-los. Eu sento lá com eles, mas não abro nenhum.

— Leve-os para casa e olhe para eles. Se você tiver alguma dúvida, fique à vontade para me telefonar
ou mandar um e-mail. — Acrescenta ela.

— Obrigada. — Respondo sem olhar para ela. Meus olhos ainda estão trancados nas pastas. Eu não quero pegá-las.

— Nós teremos seus resultados de teste em breve e a chamarei nessa altura, — diz a médica, então se levanta.

Eu faço o mesmo, sabendo que tenho que levar essas pastas comigo. Eu finalmente as alcanço e agarro, puxando-as para o meu peito. Gostaria de ter trazido uma bolsa maior comigo. A médica deve ler meu rosto porque ela abre uma gaveta e pega uma bolsa para eu colocar os arquivos.

— Obrigada, — digo-lhe quando saímos do escritório dela.

Assim que saio para a rua movimentada, não sinto nada do que pensei que sentiria. Pensei que estaria mais animada, mas parece mais uma percepção de que eu não estou tendo a vida que eu sempre sonhei.

Olho para cima, pensando que alguém está olhando para mim. Olho em volta, mas não vejo ninguém perto de mim. Todo mundo está indo e vindo como outro dia ocupado normal na cidade.

Puxando meu telefone,mando mensagem para minha mãe e digo que tudo correu bem, para ela
não se preocupar. Ela queria vir comigo, dizendo que ligaria para o trabalho, mas eu disse-lhe que ficaria bem.

Não me sinto bem. Na verdade, nunca me senti mais incerta na minha vida.

Dando a ela meu bebêOnde histórias criam vida. Descubra agora