O silêncio tomou conta dos dois jovens, depois de Ashton proferir aquelas palavras. As quais tinham deixado a rapariga bastante pensativa, perguntando-se como teria sido a vida de Ashton, durante todos aqueles anos em que tinham perdido contacto. No tempo em que ainda eram vizinhos, ele era já um rapaz bastante rebelde, fumava e dava-se com pessoas que faziam Valerie franzir o sobrolho. Como tal, naquela altura, quase se podia prever que ele ia seguir por caminhos menos correctos, e que o levariam a chegar ao estado em que se encontrava hoje.
A cabeça de Ashton estava igualmente repleta de pensamentos, porém, nada tinham a ver com aqueles que atravessavam a mente de Valerie. O rapaz, ponderava em perguntar à rapariga que se encontrava sentada ao seu lado, o que tinha realmente acontecido com Ivy, aquilo deixava-o ruído de curiosidade, em especial devido ao pouco que Valerie já lhe havia dito. Contudo, a maneira como ela lhe tinha falado da outra vez, levava-o a manter a boca fechada, guardando assim para si todas as perguntas que se tinham formado na sua cabeça.Pequenas gotas de chuva, começaram a cair do céu, vindo em direcção aos corpos dos dois jovens que ali estavam. Assim que sentiu as gotas de água molharem o seu rosto, Valerie abanou a cabeça, e suspirou, desejando poder ficar ali, a levar com a chuva sobre si mesma. Fazendo-a sentir-se mais normal, já que era algo que ela costumava fazer quando estava em sua casa. Ia para o jardim, em conjunto com Ivy, abriam os braços e deixavam que a chuva caísse sobre elas. No entanto, agora, tudo isso era algo que parecia fazer parte da vida de outra pessoa, já que a sua vida se resumia a estar naquele hospital psiquiátrico.
- Vamos para dentro. – foi o rapaz quem quebrou o silêncio, proferindo estas palavras. – Se nos vêem molhados, podem desconfiar de algo. – acrescentou, seguidamente, em jeito de explicação.
Valerie apenas assentiu com a cabeça, levou uma mão ao seu rosto, e limpou do mesmo alguns vestígios da chuva que eram já visíveis. De seguida, levantou-se do chão frio, e como Ashton já havia feito o mesmo, ela começou a seguir o rapaz, em direcção à porta por onde os dois tinham saído.
Antes de voltar a entrar no enorme edifício, a rapariga, olhou uma última vez para trás, deixando que os seus olhos absorvessem o máximo que podiam, pois não sabia quando teria de novo oportunidade de estar ao ar livre.
- O que é que vocês estão aqui a fazer? – uma voz soou mesmo à frente deles, fazendo com que os dois congelassem no lugar onde se encontravam. Os seus corações começaram a bater mais rápido do que o normal.
Ashton engoliu em seco, deixando depois que aquela porta se fechasse atrás deles. O clique da mesma a trancar-se, foi a única coisa que se podia ouvir naquele momento, já que as palavras tinham desaparecido da boca dos dois, visto nenhum saber o que responder àquela enfermeira, que olhava ainda para eles, aguardando ainda uma explicação para o sucedido.
Merda, merda, merda. Eram as palavras que ecoavam na cabeça de Valerie, enquanto ao mesmo tempo ela tentava arranjar uma desculpa para aquilo, no entanto, nada do que lhe vinha à cabeça era suficientemente credível. A verdade estava fora de questão, claro. Não podiam simplesmente dizer que Ashton conhecia aquela saída, e que se aproveitava disso para sair para o exterior do hospital.
- A Valerie estava a sentir-se mal disposta, e bem... estávamos a passar por aqui, e calhou de eu ver esta porta. Tentei abri-la e como consegui, decidi levá-la lá fora para ela apanhar um pouco de ar. Sabia que lhe iria fazer bem e... - ele apontou para Valerie, um sorriso presente nos cantos dos seus lábios, à medida que ele ia falando. - ... eu estava certo. Ela já está com muito melhor ar. Eu fiquei mesmo preocupado, peço imensa desculpa! Eu sei que não devíamos ter saído, mas foram apenas uns minutos.
A mulher olhava de um para outro, os seus olhos movendo-se, como se quisesse ter a certeza do que estava a ouvir. Ambos perceberam quando ela se descontraiu e seguidamente, acabou por deixar que os cantos dos seus lábios subissem num discreto sorriso.
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Recovery || a.i.
Non-Fiction« As pessoas magoam-se a toda a hora. Se todas as pessoas pensassem da mesma forma que tu, todos nos íamos limitar a cruzar os braços e a deixar a vida passar. Ninguém se magoava, ninguém sofria. Mas, mesmo assim, a nossa vida não ia ser perfeita e...