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Os dias iam passando e tal como Valerie tinha imaginado, estar ali dentro agora era ainda pior. Ela passava os seus dias entre o quarto, o refeitório e a sala de convívio e todo esse tempo era passado sozinha. Antes ficava na companhia de Ashton, mesmo que muitas vezes não a desejasse e apenas quisesse ficar sozinha, mas agora mesmo que quisesse a companhia de alguém ela não a tinha.

O tempo passava ainda mais lentamente do que antes, os dias arrastavam-se uns atrás aos outros e ela já nem se dava ao trabalho de tentar perceber quantos dias se tinham passado, já eram tantos que o mais certo era perder-lhes a conta caso os tentasse contar.

Algumas vezes via Ashton num corredor ou em algum outro sítio, e quando os olhares dos dois se cruzavam, aparecia sempre alguém que a levava para outro lugar longe do rapaz. Ela sabia que Ashton estava a ter uma espécie de castigo por, supostamente, ser o responsável pela fuga e a verdade era que aquilo partia um pouco mais o coração de Valerie. Ele não tinha culpa nenhuma naquilo, fora ela quem insistira para fugir, mas agora era ele quem estava a pagar as consequências dos atos dela.

A rapariga avançou pelos corredores, que continuavam a parecer não ter fim, e enquanto andava ia olhando para as placas azuis que se encontravam ao lado de cada porta e que informavam o que era cada uma das divisões. Ela parou de andar quando chegou àquela que lhe interessava e que andava à procura e bateu lentamente na porta. Esperou até ouvir uma voz do outro lado e depois abriu a porta e entrou no interior daquele escritório.

- Fui eu que tive a ideia de fugir e pedi ao Ashton para me ajudar. – ela apressou-se logo a dizer, sem deixar que a mulher que estava à sua frente tivesse tempo de abrir a boca para lhe perguntar o que é que ela estava ali a fazer.

Valerie tinha passado os últimos dias sempre a pensar naquilo, a sentir-se mal por Ashton estar a ser culpado de algo que ele não tinha culpa, a culpa era dela e por isso o mais certo era ser ela a sofrer as consequências.

- Valerie, não precisas de estar a dizer isso apenas para o protegeres.

A rapariga de cabelos claros abanou a cabeça e deixou que um longo suspiro fosse expelido pelos seus lábios.

- Eu não estou a tentar protege-lo, eu estou a dizer a verdade. Fui eu e não ele.

- Valerie...

- Ele é que está a tentar proteger-me! Isto não é justo, fui eu que lhe falei, foi por minha culpa que nós fugimos. – ela insistiu.

- Não precisas de fazer isso, a sério. – a mulher disse num tom de voz cansado e exasperado e Valerie sabia que não lhe ia adiantar de nada estar a insistir naquilo, porque nunca ninguém iria acreditar nela.

- Não é justo. Espero que um dia se arrependam do que nos estão a fazer! – ela protestou e sem esperar qualquer resposta, virou costas e abandonou aquela divisão, tendo a atenção de bater a porta com toda a força antes de começar a percorrer os corredores de novo. Já que a tratavam como se ela fosse uma maluca, talvez ela pudesse começar a agir como uma também.


" 08 de Junho, 2015

Faz hoje um ano que tu morreste. Um ano. Como é possível que já se tenha passado tanto tempo? Continuo a não conseguir acreditar que estás morta, ainda parece algo demasiado irreal. Continuo à espera de ouvir a porta abrir e ver-te, ouvir as tuas gargalhadas e sentir os teus braços em volta do meu corpo para me tentares consolar do ano que já se passou.

É tão difícil viver sem ti, nunca tinha pensado como seria se um dia ficasse sem ti, porque na verdade era algo que eu nunca pensei que pudesse acontecer. Mas aconteceu e eu continuo a não saber como se consegue viver sem a pessoa de quem mais gostamos no mundo. Acho que nunca ninguém pensa nestas coisas até elas acontecerem. Mas mesmo que pensássemos, nunca estaríamos preparados, não achas?

Recovery || a.i.Onde histórias criam vida. Descubra agora