Os dias continuavam a passar, tão lentos como sempre e sempre todos iguais. Ashton tinha perdido a coragem de voltar ao quarto de Valerie para tentar falar com ela, porém ele tinha-se decidido a não deixar passar mais um dia que fosse. Estava farto de andar por ali, a arrastar-se de um lado para o outro sem saber o que fazer. Ele caminhou pelos corredores e apenas parou de andar quando chegou em frente do quarto de Valerie, bateu logo à porta de forma confiante e ao fim de uns segundos ouviu a voz da rapariga do outro lado daquela porta a dizer que podia entrar. Será que se ela soubesse que era ele quem estava ali, diria na mesma para entrar? Ashton nem se permitiu pensar muito naquilo e abriu logo a porta do quarto.
Valerie sentou-se de forma rápida na cama e engoliu em seco quando os seus olhos foram de encontro à figura de Ashton que estava agora em frente da porta do seu quarto. Ela cerrou os punhos sem saber o que fazer ou dizer e parecia que Ashton estava igual, pois apenas permaneceu em silêncio apenas a olhar para ela durante bastante tempo.
A rapariga começava a sentir-se desconfortável com todo aquele silêncio e a verdade é que Ashton também, e portanto ele avançou alguns passos até ficar mais perto da cama onde Valerie estava ainda sentada.
- Valerie, podemos falar? – ele perguntou num tom de voz mais baixo do que o normal, e sempre à espera que ela começasse a gritar com ele, a dizer-lhe para ir embora e a dizer que o odiava. Mas isso não aconteceu, pois a rapariga apenas se limitou a assentir com a cabeça. – Quero explicar-te tudo o que aconteceu. – ele acrescentou e como Valerie continuou sem dizer nada, o rapaz de olhos claros começou a contar-lhe tudo o que tinha acontecido naquela maldita noite.
Contou todas as coisas, de forma talvez mais detalhada do que a necessária, mas ele sentia uma grande necessidade de lhe contar tudo. Queria que ela o entendesse, queria que o desculpasse e queria ouvi-la dizer que ele não tinha culpa, mesmo que depois disso Ashton fosse continuar a achar que tinha. Os minutos da conversa prolongaram-se por bastante tempo, e Valerie apenas ficou com os seus olhos fixos em Ashton à medida que ele lhe ia contando tudo.
Ashton sentou-se por fim na cama e recostou-se às costas da mesma, quando Valerie se chegou mais para o outro lado, de maneira a dar-lhe espaço.
- Eu não fazia ideia que era ela. – continuou. – Nunca quis saber quem tinha sido, na verdade. Eu apenas queria esquecer aquilo, fingir que nunca tinha acontecido, mesmo que isso fosse algo impossível. – ele encolheu os ombros e virou o seu rosto na direcção de Valerie. – Uns dias antes daquela chamada que ouviste, quando falei com outro amigo ele contou-me. Não sei como eles ficaram a saber, mas a verdade é que ficaram e ele contou-me. Foi só nessa altura que eu fiquei a saber. E nós estávamos a dar-nos tão bem que eu não queria estragar tudo, entendes? Eu não queria que a nossa... amizade, terminasse porque eu estava a começar a habituar-me demasiado à tua presença, estava a começar a sentir-me muito melhor e não queria que isso acabasse. Mas é claro que as mentiras não se conseguem esconder para sempre e acabaste por ficar a saber da pior forma. – ele suspirou. – Desculpa-me Valerie, por favor. – Ashton sussurrou sem deixar que os seus olhos perdessem o contacto com os olhos de Valerie que continuavam fixos nos seus.
- Eu tinha saudades tuas, Ashton. – foi a única coisa que Valerie conseguiu dizer. Engoliu em seco e desviou o seu olhar do dele, focando-o num ponto qualquer à sua frente. – Eu sinto-me tão mal, eu não aguento isto. Não consigo mais viver assim. – ela parou de falar e respirou fundo, tentando engolir as lágrimas que estavam prestes a abandonar os seus olhos. – Quando te prometi que não ia mais tentar matar-me eu juro que estava mesmo determinada a fazer isso, nem que fosse apenas por ti. Quer dizer, depois de fugirmos eu nem sequer pensava nisso, sentia-me bem, sentia-me livre, gostava da tua companhia... Mas depois daquele dia, eu todos os dias penso na melhor maneira de morrer. – ela voltou a olhar para ele. – Acho que eras a única coisa que me estava a manter viva e depois eu perdi isso. – ela sentiu os dedos de Ashton no seu rosto, a limpar uma lágrima que ela nem sequer se tinha apercebido que tinha caído.
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Recovery || a.i.
Non-Fiction« As pessoas magoam-se a toda a hora. Se todas as pessoas pensassem da mesma forma que tu, todos nos íamos limitar a cruzar os braços e a deixar a vida passar. Ninguém se magoava, ninguém sofria. Mas, mesmo assim, a nossa vida não ia ser perfeita e...