Depois de ouvir Valerie a dizer que ia procurar Harry, Ashton não conseguiu ficar parado e deu por si a entrar num táxi mesmo atrás dela. Algo lhe dizia que aquilo não era nada boa ideia e infelizmente ele estava mesmo certo.
Ele abanou o seu corpo, tentando soltar-se das mãos da pessoa que tinha surgido por trás dele mas de nada lhe servia, pois aquela pessoa era muito mais forte do que ele. E para além disso Ashton sabia que se fugisse não conseguia ir muito longe. Aquela rua devia estar naquele momento cheia de pessoas preparadas para os apanharem. Os seus olhos continuaram focados em Valerie, que estava naquele momento a ser levada para o interior do carro, foi obrigado depois a andar quando começou a ser empurrado também na direcção daquele automóvel.
Valerie desviou o seu olhar do rosto de Ashton quando este foi, praticamente, empurrado para o interior do carro onde ela já se encontrava. Olhando pela janela ela viu Harry ainda no passeio em frente da sua casa e naquele momento ela jurou a si mesma que nunca mais iria falar para aquele rapaz.
- Estás bem? - ela ouviu a voz de Ashton mesmo ao lado dela o que a fez olhar novamente na direcção do rapaz de olhos esverdeados. A sua boca manteve-se fechada, ignorando assim a pergunta dele. Ainda não se tinha esquecido que a culpa de Ivy estar morta era de Ashton e ela sabia que nunca se iria esquecer desse pormenor que para ela fazia toda a diferença.
Como é que podia ter-se deixado aproximar e habituar tanto à presença de Ashton? Apesar de ela não querer, tornava-se difícil não falar para ele. Estava habituada a passar todo o seu tempo com aquele rapaz, habituada a ele ser a única pessoa em quem ela podia confiar. Mas será que ainda podia? E o que é que ele estava ali a fazer? Podia muito bem ter continuado escondido e deixado a rapariga lixar-se sozinha. Além disso, Valerie sabia que se Ashton quisesse ele conseguiria fugir por muito mais tempo, quem sabe para sempre. Mas ele estava ali, tinha-a seguido por um qualquer motivo que ela desconhecia e ainda se estava a preocupar com ela, depois de ela ter sido a culpada de serem apanhados.
O carro parou ao fim de uns minutos e Valerie suspirou ao ver a fachada do hospital psiquiátrico do outro lado da janela. Sempre tinha tido a esperança de nunca mais ter de olhar para aquele lugar, porém agora tudo tinha ido por água abaixo. E se antes já era mau estar ali, agora seria ainda pior, as atenções e os olhares colocados sobre eles seriam ainda mais. Ele não teriam sossego nenhum, pois todas as pessoas ali dentro iam estar à espera que eles fossem tentar fugir de novo e não iriam nunca deixar que isso fosse acontecer.
Quando as portas do carro se abriram eles foram obrigados a sair do mesmo, e sem serem largados foram ambos levados para o interior do hospital. O cheiro característico do mesmo entranhou-se no nariz de Valerie e ela só queria começar a chorar, como se isso pudesse descarregar toda a tristeza que invadia o seu corpo.
- Valerie! - a rapariga ouviu a voz familiar da mãe e só depois o seu olhar encontrou a figura da mulher que se tinha agora aproximado dela. O pai também lá estava, e Harry, e os pais de Ashton, e imensas enfermeiras e médicos. Toda a gente parecia estar ali.
- Onde é que estiveram? - ouviu alguém perguntar e quase lhe apeteceu rir pela estupidez daquela pergunta, como se algum deles fosse dizer onde tinham estado todo este tempo.
- Eu não quero mais este rapaz perto da minha filha. - a voz grossa do pai de Valerie fez-se ouvir de seguida.
- Espero que mantenham este delinquente longe dela.
- O meu filho não é nenhum delinquente! Aposto que a ideia de fugir foi dela.
- PODEM TODOS CALAR-SE? - gritou Ashton, fazendo a sua voz sobressair por cima de todas as outras e fazendo também com que todos os rostos se virassem para ele. - A culpa foi minha, sim. Fui eu que tive a ideia e planeei tudo para fugirmos. A Valerie não tem culpa de nada, se querem culpar alguém, culpem-me a mim. A culpa de tudo é minha. - Ashton já nem sabia do que estava a falar, já não sabia se estava apenas a falar da fuga deles ou se estava também a falar da morte de Ivy. - A culpa de tudo é minha. - ele repetiu, sentindo algumas lágrimas quererem chegar aos seus olhos, mas estavam ali tantas pessoas que ele fez um enorme esforço para as evitar. Ele não era fraco. Não era.
Valerie engoliu em seco e abriu a boca para falar e dizer que tinha sido ela, mas as palavras pareciam ter fugido da sua boca e a única coisa que ela conseguiu foi começar a chorar quando começaram a levar Ashton sabe-se lá para onde.
Ela sentia-se perdida, não sabia mais o que fazer, queria que todas aquelas pessoas se calassem e desaparecessem. Estava farta de todas elas, estava farta da vida que tinha e que a cada dia que passava só ficava pior. Ela queria alguém, uma única pessoa em quem pudesse confiar. Alguém que estivesse sempre com ela, alguém que lhe dissesse que tudo ia ficar bem, mesmo ela sabendo que isso não era verdade. Ela só queria não se sentir sozinha e tão perdida. Ela queria Ashton de volta, o Ashton com quem ela se dava bem antes de ela ouvir aquela maldita conversa ao telefone.
- Valerie? - a voz da mãe despertou-a daqueles pensamentos e ao invés de a rapariga olhar para ela, apenas se limitou a andar uns passos para trás de maneira a manter-se afastada. Ela manteve o seu olhar baixo, desejando apenas que a tirassem dali.
- Vamos mantê-los afastados um do outro. - ela ouviu uma enfermeira dizer e logo depois alguém segurou no seu braço começando a guiá-la para fora dali.
Ela nem se deu ao trabalho de olhar para a mãe, ou para o pai ou até mesmo para Harry. Ela não queria mais olhar para as pessoas que estavam a estragar cada vez mais a sua vida. Como é que eles eram capazes de pensar que estar ali fechada era melhor para ela? Será que não percebiam que tudo ficava pior ali? Estar ali dentro só a fazia querer cada vez mais desistir da vida e não o oposto. Mas claro que ninguém queria saber disso e ninguém lhe daria ouvidos, porque agora na cabeça de todas as pessoas ela não passava de uma maluca.
Valerie deixou de a levassem ao longo daqueles corredores que ela já conhecia e entrou de seguida para o quarto que ainda lhe pertencia e que estava igual a como estava da última vez que ela tinha estado ali. Ela deixou o seu corpo cair sobre a cama, fechou os olhos e desejou com todas as suas forças estar num outro lugar que não ali. Mesmo sabendo que isso não ia acontecer, ela continuou a desejá-lo, porque talvez fosse essa a única maneira de ela conseguir sobreviver ali dentro: desejar com todas as forças que tudo fosse diferente.
" 15 de Maio, 2015
Os nossos pais ultimamente andam sempre a falar em internar-me num hospital psiquiátrico e nem imaginas o quanto me dói sempre que eles falam disso. Eu não quero ir para um lugar daqueles, nem sequer me consigo imaginar lá. Será horrível, Ivy. A minha vida estará completamente acabada e o pior de tudo é que eu sei que não posso fazer nada para que eles mudem de ideias.
As coisas cada vez fazem menos sentido para mim. Eu não quero mais continuar a viver, não tenho mais forças para continuar. Só queria que me acontecesse o mesmo que te aconteceu a ti, ou então gostaria de poder voltar atrás no tempo e trocar de lugar contigo. Tenho a certeza de que se estivesses no meu lugar, serias muito mais forte do que eu alguma vez serei."
N/A: Já estou de volta a casa, finalmente! Portanto, nos próximos dias irei continuar a publicar capítulos da Recovery para terminar na próxima semana. Ainda faltam dois mais o epílogo.
O que acharam do capítulo? O que acham que vai acontecer a seguir?
Amanhã irei começar a publicar a minha história nova, ou melhor, irei publicar amanhã a sinopse! Os capítulos chegam só depois de a Recovery terminar. Porém, quero já começar a deixar aqui algo da nova a qual eu espero que vocês depois leiam!
Acho que não tenho mais nada a dizer, depois durante a semana publico mais um capítulo.
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Recovery || a.i.
Non-Fiction« As pessoas magoam-se a toda a hora. Se todas as pessoas pensassem da mesma forma que tu, todos nos íamos limitar a cruzar os braços e a deixar a vida passar. Ninguém se magoava, ninguém sofria. Mas, mesmo assim, a nossa vida não ia ser perfeita e...