10.

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As lágrimas corriam pelo rosto de Valerie, à medida que a levavam novamente para o seu quarto. Ela sentia-se irritada, e agora ainda mais por a estarem a levar daquela forma. Como se ela fosse uma maluca que não se sabia controlar. Ela sabia que tinha exagerado um pouco na sua reacção, mas não conseguiu evitar ficar desta maneira quando viu Ashton com o seu diário nas mãos. Aquilo era demasiado privado para que alguém pudesse ler.

Engolindo em seco ela deixou-se cair em cima da cama. Os seus olhos seguiam os movimentos das pessoas que estavam ali com ela, e um suspiro de alívio escapou dos seus lábios quando por fim a deixaram ficar sozinha. Deixando o seu corpo cair para trás, ela deitou-se na cama, levou as mãos às bochechas e limpou das mesmas as lágrimas que por lá tinham ficado perdidas. Apertou de seguida o diário contra o peito, mantendo-o junto a si, como se ainda tivesse medo que alguém fosse ler as suas páginas repletas de desabafos.

Ela estava farta, tão farta de tudo. Não queria estar neste lugar, parecia que estando aqui se sentia muito pior. Isto era como uma prisão, ela passava a vida a fazer as mesmas coisas, a ver as mesmas pessoas. Aquela rotina acabava com ela, era como um ciclo vicioso. As coisas repetiam-se umas após as outras, não lhe dando qualquer liberdade para viver a sua vida. Não que ela quisesse viver a sua vida, elas simplesmente queria que esta acabasse.

Sentando-se novamente na cama, ela dirigiu o seu olhar para a pequena mesa-de-cabeceira que ali se encontrava. Abrindo a mesma, vasculhou por entre os seus pertences que ali estavam. Pegou num pequeno frasco, assim que este veio parar às suas mãos, e seguidamente retirou a tampa do mesmo. Virou o seu conteúdo numa das mãos e os seus olhos logo se focaram no pequeno monte de comprimidos que se formou. Os cantos dos seus lábios elevaram-se num sorriso doentio, quando ela percebeu que aqueles comprimidos, eram já suficientes para ela tomar de uma só vez.

Fechando os olhos por alguns segundos, ela respirou fundo.

- Preciso de sair daqui. Se não for de uma maneira, será de outra. – sussurrou estas palavras para ela própria, saboreando as mesmas à medida que iam abandonando a sua boca.

Quando na manhã seguinte, avisaram Valerie de que os seus pais estavam ali, ela quase pensou que estava ainda a dormir e que aquilo não passava de um sonho, ou de um pesadelo, ela ainda não sabia bem qual deles seria. Abandonou o quarto, e caminhou até à sala onde recebiam as visitas. Recordou-se da última vez em que tinha estado naquele lugar, quando Harry tinha vindo ali ter com ela. Recordou-se de todas as coisas que lhe disse e engoliu em seco, desejando que as coisas pudessem ser diferentes.

Entretanto, alguns amigos seus também já tinham tentado vir visitá-la, contudo, ela sempre se tinha recusado a vê-los. Ainda mantinha na sua cabeça a ideia de se afastar de toda a gente.

Abanou a cabeça, mantendo assim distantes todos aqueles pensamentos, que naquele momento pareciam querer preencher toda a sua mente.

Os seus olhos logo encontraram as duas figuras pertencentes aos seus pais. A mãe permanecia com um sorriso forçado nos lábios, enquanto o pai apresentava uma postura um pouco mais séria. Apesar de tudo, Valerie não conseguiu evitar a pontada de saudade que invadiu o seu corpo naquele momento. Apesar de a culpa de ela estar ali ser dos pais, ela não conseguiu evitar que os seus pés avançassem até eles, num passo demasiado apressado. Abriu os braços e tentou rodear os corpos dos dois, apertando-os contra si e desejando que eles nunca mais a deixassem sozinha, abandonada num lugar como aquele. Porém, ela sabia que eles não tinham vindo até aqui para a levarem novamente para a casa. Apenas tinham vindo com a intenção de lhe fazerem uma visita.

Ela já tinha até perdido a conta à quantidade que dias que se encontrava neste lugar, mas tinha a certeza que não estaria longe de um mês, se é que já não tinha passado disso.

Sentaram-se nuns sofás vagos que havia ali, colocados de forma ordenada, de maneira a darem bastante espaço para todas as pessoas que ali estivessem.

- Como estás? – perguntou a mãe, quebrando aquele silêncio que nada tinha de constrangedor. Valerie viu como os cabelos da mulher mais velha estavam mais compridos, os seus olhos ainda mostravam aquela tristeza que tinha ficado lá desde que Ivy tinha morrido. A única diferença, era que agora essa tristeza se tinha dividido pelas duas filhas.

Os ombros de Valerie encolheram-se quando ela não soube o que responder àquilo. – Como estão as coisas? – deu por si a perguntar.

- Vão indo. – foi o pai quem respondeu desta vez.

O silêncio que cresceu de seguida, foi constrangedor, e Valerie deu por si a aperceber-se que os três não tinham absolutamente nada para dizer. Mesmo depois deste tempo todo sem se verem, os assuntos eram inexistentes e, por momentos, a rapariga deu por si a desejar que eles não tivessem vindo. Talvez fosse melhor.

- Quando posso sair daqui? – à falta de outra coisa para dizer, Valerie decidiu ir pelo caminho que mais lhe interessava naquele momento.

Os seus pais entreolharam-se por uns breves segundos e depois ambos olharam novamente para ela. Os sorrisos nos lábios deles eram tudo menos sorrisos sinceros, e a rapariga desejou que eles parassem de fingir que estava tudo bem, quando isso não era verdade.

- Ainda não sabemos, quando estiveres melhor. – falou a mãe, mordendo o seu lábios de forma nervosa. – Temos a certeza que vais recuperar rapidamente, tu és uma rapariga forte. – a mulher pegou na mão da filha, acariciou a mesma e voltou a sorrir daquela forma.

- É, talvez. – Valerie deu por si a dizer, deixando as palavras saírem de forma forçada e bastante cínica.

Ela nunca ia ficar melhor, não enquanto estivesse naquele lugar. Ela não queria ficar melhor, apenas queria desaparecer.

A conversa não durou muito mais, a falta de assunto, foi motivo suficiente, para ao fim de alguns minutos, os pais dela dizerem que tinham de ir embora. Ela limitou-se a assentir com a cabeça e a murmurar baixas palavras de despedida. Na verdade, ela queria gritar com eles, como tinha desejado fazer no dia em que tinha chegado aqui. Queria gritar que os odiava por lhe estarem a fazer isto. Porém, permaneceu calada, vendo depois os dois a saírem pelas portas daquele edifício.

Abanando a cabeça, e vendo-se novamente sozinha, a rapariga saiu daquela divisão, começando a andar pelos corredores, de forma um tanto atenta.

- Onde andas tu, Ashton? – perguntou-se baixinho à medida que avançava por aqueles corredores demasiado longos e aborrecidos.

Já não falava com o rapaz desde o dia anterior, quando tinham discutido, se bem que desde então a rapariga não tinha mais saído do seu quarto. Tinha-se limitado a ficar a olhar para as paredes brancas daquela divisão, a magicar ideias, talvez absurdas, na sua cabeça.

Sabia que tinha sido dura com ele, e agora, à medida que várias ideias iam surgindo na sua mente, ela sabia que tinha de lhe pedir desculpas por ter agido daquela maneira. Caso contrário, nunca iria conseguir convencer Ashton a fazer aquilo que ela queria.


N/A: Não gosto muito deste capítulo, mas pronto... Espero que vocês tenham gostado. O que acham que ela quer convencer o Ashton a fazer? Alguma ideia? 

Hoje não tenho mais nada a dizer, então leiam, votem, comentem!

Este capítulo é para a Tarryy , obrigada por leres a minha história e obrigada pelos elogios que sempre me fazes!

Recovery || a.i.Onde histórias criam vida. Descubra agora