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Malia

Decidi nem ir em festa alguma, tinha algo me incomodando e eu nem sabia o que era ou o porque. Recém havia saído do banho e estava vestindo um pijama confortável e consideravelmente curto, mas é confortável. Conforme eu penteava meu cabelo em frente a penteadeira mil coisas rodeavam meu pensamento, meu celular vibrou e eu vi que era meu namorado avisando que havia chegado, falei para subir direto que eu já havia avisado o porteiro e ele obedeceu. Terminei de pentear o cabelo e passei perfume, em seguida caminhei até a cozinha, peguei uma garrafa d'água e me sentei sobre a bancada, esperando o mesmo.

Hoje eu conversei com a minha mãe, tive um dia longo, chorei para caralho ao nível de que meu rosto tá inchado, ela começou calma dizendo que sentia minha falta aí eu falei que não queria voltar por causa do meu padrasto e ela colocou a culpa do abuso em mim, disse que eu o provocava. Foi por isso também que eu desisti de ir na festa, menti para as meninas que eu havia brigado com o Ríos e estava sem pique, sabia que se eu contasse a verdade elas iriam ficar comigo e eu não quero que elas percam a noite delas por causa de problema meu.

Ouvi o barulho da fechadura da porta e a mesma batendo, em seguida o avistei vindo até mim todo de preto e soltei um sorriso de canto. Ríos fez uma cara de preocupado e me cumprimentou com um beijo na bochecha.

── Que cara de choro é essa? — Perguntou. ── Por favor, não me diz que eu acabei descontando minha raiva em você hoje! Eu nunca me perdoaria por te fazer chorar, não é isso, né? — Parecia nervoso e eu ri, negando com a cabeça.

── Claro que não, bobo, foi só minha mãe, a gente conversou e enfim, discutimos. Como você tá? Tá melhor?

── Sei lá, tô meio pá com umas situação aí. — Resmungou e notei seus olhos encherem d'água. Tá, é algo bem mais sério do que eu pensava porque ele nunca chorou na minha frente.

Segurei suas mãos e o puxei para mais perto, que não hesitou. O abracei e fiquei ali até sentir seu coração bater mais devagar e a sua respiração voltar ao normal, isso demorou por volta de seis ou sete minutos e eu fiquei ali em silêncio porque sei que quando ele não está bem, prefere ficar em silêncio. Em seguida afastei nossos troncos e fiz carinho no seu rosto.

── Somos um casal, vou estar com você na hora boa e na hora ruim! Me conta, o que aconteceu? — Perguntei segurando sua mão e seus olhos me encararam.

O mesmo passou de forma rápida a língua entre os lábios, costume de quando está nervoso e ajeitou o boné.

── Lembra do meu amigo? Que morava comigo? Você nem chegou a conhecer ele!

── Lembro, claro! — Concordei com a cabeça enquanto encarava seus olhos, era óbvio que ele estava segurando o choro. ── Colômbia, pode chorar, tá tudo certo!

── Ele se matou hoje de manhã! — Falou fechando os olhos e eu arregalei os olhos. ── Eu não me concentrei no jogo, eu passei o dia estressado porque, caralho, meu melhor amigo, cara, conheço o pivete desde cria, veio para o Brasil comigo! — Desabafou sem derramar uma lágrima e eu levei minha mão até sua bochecha, acariciando a região com meus dedos.

── Eu sinto muito! Sei que não tem nada que eu fale ou faça que vá te fazer melhorar mas eu tô aqui! — Falei passando meus braços ao redor do seu pescoço e sentindo seus olhos me encararem. ── Independente do B.O eu vou ficar do seu lado, eu te amo, nós dois contra o mundo sempre! — Afirmei encarando seus olhos e ele negou com a cabeça.

── Morena, não sei o que eu fiz para merecer você na minha vida. — Falou encarando pontos específicos do meu rosto.

── Richard, chora! — Falei apertando suas mãos. ── Não tem problema chorar, você tá segurando aí e isso vai te fazer mal, vai por mim!

No mesmo instante ele virou o rosto para o lado e eu notei que ele estava quase desabando, levantei e o puxei para o sofá da sala, deitando junto dele e o puxando para um abraço. Suas lágrimas molharam a região do meu peito enquanto eu tirava seu boné, jogando longe em algum canto do cômodo e trabalhava com minhas mãos fazendo carinho no seu cabelo. Que situação horrível! Tá explicado o porque ele estava tão estressado hoje!

Ficamos assim até o choro dele cessar, demorou um pouco mas eu nem ligo. Enquanto ele continuava com a cara enfiada entre meus peitos eu escolhi um filme aleatório de ação que eu sei que ele gosta na Netflix e coloquei para assistir. Logo, o mesmo limpou o rosto e deitou a cabeça na curva do meu pescoço.

── Você é a pessoa mais importante da minha vida, Mali. — Falou com um tom de voz calmo e eu ri leve. ── Não sei o que eu faria sem você! Agora que você me ouviu, eu preciso saber, o que aconteceu com a sua mãe?

── Aquela vagabunda do caralho veio me torrar o resto de paciência que eu tinha. — Resmunguei. Peguei nojo da mulher que me colocou no mundo. ── Não tô muito afim de falar sobre mas, resumindo, veio toda fofa pedindo para me ver e terminou dizendo que eu provocava o marido dela com as minhas roupas.

── Eu odeio a sua família.

── E eu adoro a sua! — Rebati e ele riu. ── Sério, sua mãe e a Juvena me deram uma bolsa linda de aniversário, eu amei!

── Ah, eu comentei que era seu aniversário e a mãe já ficou toda boba falando que ia dar um presente para a nora dela, aí a minha prima se meteu dizendo que ia ajudar porque a mãe é brega. — Contou com um sorriso divertido e eu ri. ── Vamos ver eles de novo em... Páscoa?! Creio eu!

Ouvi o barulho de trovões e em seguida tudo ficou escuro, maravilha, caiu a energia! Abracei o corpo de Ríos, dessa vez ficando eu sobre o seu peito e senti seus braços me rodearem enquanto o barulho da chuva e do vento só aumentava. Amo tempo assim!

O sono começou a bater e, quando eu vi, já estava com os olhos fechados quase cochilando nos braços da pessoa que eu amo.

── Colômbia? — Chamei baixinho.

── Hm? — Respondeu sonolento.

── Fica aqui comigo. — Falei quase cochilando. ── Tipo, para sempre!

Senti um beijo ser depositado no topo da minha cabeça e ele disse algo, algo na qual eu escutei mas não consegui compreender pois já havia pegado no sono. Não há sensação melhor do que a segurança de dormir nos braços da pessoa que você ama, sentindo o seu cheiro favorito e escutando seu som favorito — a risada dela.

dama da noite, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora