3 capítulo

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Sinto uma sensação estranha após olhar para um homem de meia-idade que está perto da mesa

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Sinto uma sensação estranha após olhar para um homem de meia-idade que está perto da mesa.
– Olá, Scarlett, é um prazer conhecê-la. – O homem vem até mim e estende a mão para me cumprimentar. Por educação, estendo minha mão e o cumprimento.
– Prazer, o senhor é o?... – Pergunto.
– Adams Miller. – Ele responde com um sorriso sutil.

Solto minha mão e olho por cima. Vejo um garoto alto no meio da sala, com as mãos no bolso da calça preta de alfaiataria. Seus músculos marcam levemente na camisa preta de gola alta. Não tem como esse garoto ser daqui do Rio de Janeiro. Vejo algumas tatuagens na pele do seu pescoço na parte em que a gola não cobre.
O garoto percebe que estou olhando para ele, e vem na minha direção. Enquanto caminha, suas mãos permanecem dentro do bolso da calça. Ele para ao lado do Adams, tira uma das mãos de dentro do bolso e a estende.

– Ocean Miller. – Ele diz. Sua voz grave me faz arrepiar da cabeça aos pés.
– Scarlett Lewis. – Estendo minha mão e o cumprimento. O toque da sua mão é quente como fogo. Enquanto nossas mãos estão juntas, ele acaricia de leve a palma da minha mão com o dedo indicador.
– Como já se conheceram, vamos almoçar. – Minha mãe diz, e Ocean solta minha mão.
– Tá, eu só vou guardar minha mochila no quarto. – Digo.
– Seja rápida. – Minha mãe diz, e eu assinto.

Vou em direção ao meu quarto, passo pela sala enquanto sinto os olhares deles nas minhas costas, como se fossem flechas. Entro no corredor, vejo os porta-retratos da família e o meu, que era de quando eu tinha 5 anos. Era a foto do meu pai e eu... Entro no meu quarto e coloco a mochila no canto perto da cama.
Vou em direção à porta e saio, fechando-a atrás de mim. Quando volto para a sala, todos já estão sentados à mesa. É uma mesa de quatro lugares, e o Adams já está sentado ao lado da minha mãe; o único lugar que me restou é ao lado do Ocean. Engulo em seco e vou, dou a volta na mesa e me sento ao lado dele.

– E então, Scarlett, você estava na faculdade, né? Qual é o curso que você faz? – Adams pergunta enquanto se serve.
– Sim, eu faço Artes Visuais.
– Ah, que legal! Você já tem alguma obra?

– Tenho, mas estão todas na faculdade; aqui em casa não tem espaço suficiente. – Respondo.
– Mhm, verdade. Lá na minha mansão em Los Angeles tem muitos quartos de hóspedes, você pode usá-los como estúdio.

– O quê? – Olho para minha
mãe. – Como assim, na sua mansão em Los Angeles? – Olho para Adams novamente.
– É...

– Olha, filha. – Minha mãe interrompe Adams e põe a mão por cima da dele, que estava sobre a mesa.

– Já entendi. – Mordo o interior da minha bochecha tão forte que sinto o gosto do sangue por toda a minha boca. – Quando é que ia me contar isso?

– Filha, olha, eu só não contei antes para você não sofrer antes do tempo. Eu sei que você gosta muito daqui.

– Gosto e vou continuar aqui. Espero que seja feliz lá. Vou sentir sua falta.

Com o coração apertado, respiro fundo. Realmente vou sentir a falta dela, afinal, é minha mãe, mas vai me poupar choros e crises de ansiedade. As brigas com ela são constantes, e na maioria das vezes, ela só quer descarregar seu estresse em mim, dizendo que é minha culpa por ela estar estressada, porque, se não tivesse uma filha, seria mais livre. Nunca vou me esquecer da vez em que brigamos, e ela disse que só aceitou me ter porque meu pai disse que cuidaria de mim da melhor forma possível. E ele fez isso, só não por muito tempo, porque morreu quando eu tinha oito anos, e minha mãe adora esfregar isso na minha cara. Ainda não moro sozinha porque ela sempre diz que eu não conseguiria me sustentar ou que estou a abandonando.

– Scarlett! – Minha mãe diz em um tom mais elevado.

– O quê? Se acha que eu vou mudar de país e ir viver com dois homens desconhecidos, está bem enganada. – Digo, e sinto um chute leve na minha perna.

– Eles não são desconhecidos, são sua família agora. E você vai ter que considerar o Adams como seu pai e o Ocean como irmão.

– Eu sei muito bem quem é meu pai.
– Não importa mais, ele morreu, que diferença faz?

Ela ainda está se controlando, por causa deles dois, mas só com o que ela acabou de falar já começa a se formar um nó na minha garganta, e minha visão fica embaçada por causa de algumas lágrimas. Pode ter morrido há dez anos, mas me tratava melhor do que qualquer pessoa que eu conheço. Fazia de tudo por mim, e, depois que se foi, tive que viver dez anos ouvindo que é minha culpa, que eu não deveria estar aqui, que eu sou um peso.

– Posso ir pro meu
quarto? – Pergunto, minha voz sai chorosa.

– Vai logo. – Ela diz com desdém.

Me levanto em silêncio e vou direto para lá.

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