Cerejinha doce

Capítulo 15

Depois de terminar meus assuntos pessoais, corri de volta para o ringue de boxe. O primeiro round da luta acabara de terminar e o segundo estava prestes a começar. Eu vi Phi Ye subir ao palco durante o intervalo e conversar com Kimhan sobre algo. Kim assentiu rapidamente como se entendesse tudo. Ele estava ofegante e seu oponente parecia igualmente cansado.

Eu senti como se tivesse um nó na garganta. Eu não sabia como começar a explicar a Phi Ye o que acabei de ouvir. Se não fosse verdade, eu não estaria caluniando Kim?

Recostei-me na cadeira, cruzei os braços e olhei para frente. Phi Ye ainda não havia descido.

"O boxeador TTD não é tão bom."

Virei-me para olhar para Yak. Seus olhos penetrantes encontraram os meus. Ele continuou: "Kim deve ser capaz de vencer facilmente, assim como você e Phi Ye disseram".

"Yak..." Chamei seu nome suavemente, exalando pelos lábios.

"O que há de errado? Você não parece muito bem. Você está doente, Ri?"

"Estou bem... Você já viu alguém brigar?"

"Não, mas meu pai me contou histórias sobre isso."

"O que seu pai disse?"

"Se você quer ficar nesse ramo por muito tempo, não crie problemas. Isso desonra sua profissão. Meu pai ensinou isso para todo mundo na academia. Ele gosta de dar aulas como Phi Ye, por isso todo mundo o chama de 'pai'." ' e o respeita muito."

"Você acha que alguém se atreveria a causar problemas na academia?"

"Provavelmente não... acho que se meu pai os pegasse, eles estariam em apuros."

Yoyak moveu o corpo para sentar-se com mais conforto, esticando as longas pernas à frente para aliviar o cansaço.

O árbitro sinalizou que o próximo round estava prestes a começar. Phi Ye voltou com uma expressão séria no rosto. Levantei uma sobrancelha, me perguntando por que ele parecia tão estressado.

"Kim não parece se sentir bem."

"Eu também pensei. Kim tem lutado de forma estranha hoje."

Eu não tinha visto a primeira rodada, então não sabia o que Yak queria dizer com estranho. Phi Ye sentou-se no assento vazio ao meu lado, olhando para o anel sem piscar.

Ele mordeu o polegar quando a luta começou na hora certa. Esta foi uma transmissão ao vivo e foi considerada uma grande luta.

"Phi Ye, e se Kim não vencer?" Deixei cair uma pergunta sinistra, esperando para ver se Phi Ye iria me repreender. Porém, ele não me repreendeu pela pergunta, apenas respondeu honestamente.

"Se ele perder, pode ser difícil entrar na próxima luta. Os promotores querem boxeadores profissionais que façam lutas emocionantes. tudo quando você está lá em cima."

Seus olhos ainda estavam fixos em Kimhan, como se a frase que ele me respondeu tivesse preferido dizer a Kim.

"Se você está em boa forma, há muitas oportunidades de seguir em frente, tanto para você quanto para a academia."

Virei-me para o palco. O comentarista estava tentando criar uma atmosfera, mas lá em cima não era muito emocionante. Kimhan parecia tão relutante em lutar que era óbvio.

"Kim não está se sentindo bem?"

"Sim, ele disse que seu estômago dói... não posso evitar."

Ele recostou-se no assento. O Kimhan que vi no dia em que lutou contra Phi Ye e o Kimhan que vejo hoje são bem diferentes.

Ele dava socos fracos, movia-se lentamente e não conseguia se esquivar muito bem dos golpes do oponente. Ele só podia levantar os braços para se defender assim. Foi tão desleixado e chato quanto Phi Ye disse, e o segundo turno logo acabou. "Kim ainda estava bem esta manhã", comentei...

"A doença não escolhe o momento. Vou deixá-lo porque ele está doente."

Phi Ye se levantou e eu o segui, mordendo o lábio inferior. Ele foi dar água ao boxeador na beira do ringue e depois perguntou se ele queria parar a luta.

Kimhan balançou a cabeça; os dentes em suas gengivas o impediam de falar.

"Tem certeza de que está bem, Kim?"

Kim acenou com a cabeça e Phi Ye deu um tapinha no ombro dele enquanto o árbitro sinalizava que a próxima rodada estava prestes a começar.

Esta rodada, terceira rodada...

De repente, eu tive certeza de que Kimhan... havia se deixado derrotar.

Fiquei parado, congelado, enquanto o árbitro levantava o braço do boxeador TTD no ar para sinalizar sua vitória. O comentarista anunciou que também foi uma vitória por nocaute.
Kimhan foi eliminado e Phi Ye, como seu treinador, o seguiu de perto, incapaz de demonstrar como se sentia. Ele se levantou e saiu sem dizer uma palavra.

Ele ainda estava lá, ainda no terceiro round.

"Ri..."

Saí dos meus pensamentos e me virei para olhar para Phi Ye. Ele voltou depois de leva Kimhan ao médico de ringue.

Fiquei sem palavras, sem saber como dizer isso a ele. Ele tinha visto o tempo todo o quão dedicado Phi Ye tinha sido. Quanto esforço ele havia feito. O quanto ele se importava com as pessoas da academia... Por que tiveram que esfaqueá-lo pelas costas?

Meus olhos estavam ardendo e, por mais que machucasse Phi Ye, eu precisava contar a ele.

"Tenho uma coisa para te contar, Phi."

"O que é..."

"Kimhan... perdeu de propósito."

O rosto de Phi Ye se contraiu assim que terminei de falar. Ele olhou em volta antes de me puxar pelo braço para um lugar isolado. Quando não havia ninguém por perto, ele falou comigo em voz sussurrante.

"Você sabe o que está dizendo? Se o promotor descobrir isso, será um grande problema."

"Eu sei, eu sei o que estou dizendo... Mas tenho certeza que Kim se deixou ser derrotado."

"Droga, não estou brincando."

"Naquele dia, ouvi Kim falando ao telefone. Kim disse que aceitou a oferta e que lhe pagaram o dinheiro adiantado. E agora mesmo, quando fui ao banheiro, o pessoal do TTD disse que iria mostrar tudo na  terceira rodada. 'Não importa quão bom alguém seja, você não pode vencer o poder do dinheiro."

"..."

"Kim perdeu o terceiro round como disse que aconteceria."

"Pode ter sido uma coincidência, Ri... Não é o que você pensa. Kim é meu Nong, nos conhecemos há anos. Tanto meu pai quanto eu confiamos nele. Ele não se deixaria derrotar de jeito nenhum. "

"Você não acredita em mim, né?" Olhei nos olhos de Phi Ye. Ele se levantou, com o rosto marcado pela tensão.

"Hum... eu não acredito em você."