Capítulo 12: À Beira do Abismo

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Lúcifer estava preso em um pesadelo, uma repetição infernal da noite anterior. No sonho, ele revivia a morte de Vox em um ciclo interminável de horror. O ambiente ao seu redor era um vórtice de escuridão e desespero, as sombras se movendo de maneira sinistra enquanto o cheiro metálico do sangue impregnava o ar, tornando a cena ainda mais sufocante e horrível.

O corpo de Vox jazia diante dele, uma figura grotesca e imóvel. Lúcifer sentia a textura pegajosa e quente do sangue escorrendo por suas mãos, manchando suas roupas e cabelos, cada gota aumentando o peso da culpa que o sufocava. As roupas de Lúcifer, outrora limpas, agora estavam empapadas em carmesim, o tecido grudando em sua pele de forma desconfortável.

Seus olhos estavam arregalados, dilatados pelo terror e pela culpa que o dominavam. O brilho frio da lua refletia no líquido escarlate, tornando o cenário ainda mais macabro. Ele podia ouvir o gotejar constante do sangue, cada gota caindo no chão parecia ecoar em sua mente, um som que martelava sua sanidade. Sua mente estava inundada por um turbilhão de pensamentos caóticos, cada um mais sombrio que o outro, enquanto ele tentava processar a enormidade do que havia feito.

Ele viu novamente o momento em que golpeou Vox, cada detalhe vívido em sua memória. Sentiu o impacto vibrar por seu corpo, o choque reverberando através de seus ossos. Suas mãos tremiam violentamente, cada músculo tenso com o nervosismo e o horror do ato cometido. O sangue, quente e viscoso, escorria entre seus dedos, manchando a terra abaixo dele. Ele olhou para baixo, vendo o sangue vivo em suas mãos, uma visão que jamais esqueceria. A cor vermelha parecia mais intensa, mais viva, como se o próprio sangue o estivesse acusando, gritando sua culpa aos céus.

O rosto de Vox, congelado em uma expressão de choque e dor, assombrava sua visão periférica. Lúcifer podia sentir o peso da responsabilidade esmagando seu peito, dificultando cada respiração. O ar parecia denso e pesado, cada inspiração um esforço monumental. A realidade do que havia feito era um fardo insuportável, e ele se afogava em um mar de arrependimento e desespero. Cada detalhe, cada cheiro, cada som, estava gravado em sua mente, uma lembrança permanente em si.

Lúcifer sentiu o desespero crescer dentro de si, uma espiral interminável de agonia emocional. Ele queria gritar, queria fugir, mas estava preso na cena, condenado a reviver aquele momento repetidamente.

E então, ele fez o que parecia ser a única solução: arrastou o corpo de Vox até a beira de um rio de águas escuras. A correnteza era lenta, as águas pareciam pesar com a mesma carga emocional que Lúcifer carregava. Com um esforço tremendo, ele empurrou o corpo para dentro do rio, observando enquanto Vox afundava lentamente, desaparecendo nas profundezas sombrias. A superfície da água se agitou brevemente antes de voltar à sua quietude sinistra.

Lúcifer se inclinou sobre a água, seus olhos fixos na superfície turva. O rio refletia uma lua pálida, que parecia amplificar a escuridão ao seu redor. Ele estava hipnotizado pelo movimento suave das águas, como se esperasse que a correnteza levasse embora não apenas o corpo de Vox, mas também o peso da culpa e do horror que carregava. Mas ao invés de encontrar paz, ele encontrou algo ainda mais perturbador.

Ao se aproximar da água, Lúcifer viu seu reflexo emergir lentamente na superfície. No início, era apenas uma sombra, mas à medida que a imagem se tornava mais clara, ele percebeu que não era ele mesmo que o encarava de volta. Era uma versão distorcida, um reflexo grotesco com um sorriso sádico que não pertencia ao seu rosto. Os olhos, normalmente azuis, agora brilhavam em um vermelho intenso e ameaçador, cheios de uma malícia perturbadora.

A figura no reflexo parecia viva, como se tivesse sua própria consciência. O sorriso sádico se alargou, mostrando dentes afiados e cruéis. A expressão no rosto do reflexo era de pura satisfação, como se ele estivesse deleitando-se na dor e no desespero de Lúcifer. A figura zombava dele, os olhos vermelhos brilhando com uma luz sinistra que parecia penetrar em sua alma. Era como se o próprio mal estivesse olhando para ele, desnudando todos os seus medos e inseguranças.

Sussurros na Escuridão | RadioAppleOnde histórias criam vida. Descubra agora