Capítulo 16: Laços Ocultos

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A neblina densa de Londres pairava sobre o prédio elegante onde Lilith e Charlie residiam, envolvendo a estrutura em um véu quase sobrenatural. As sombras suavemente espalhadas pela névoa davam um ar misterioso e quase poético ao encontro que Lúcifer esperava há meses.

Ele subiu os degraus de mármore devagar, os sapatos impecavelmente polidos ecoando no silêncio do pátio. Ao seu lado, Alastor caminhava em passos firmes, sua expressão serena, mas os olhos observadores não deixavam escapar um detalhe sequer. Lúcifer sabia o quanto Alastor era atento, especialmente agora que se aproximavam da entrada e de uma possível interação com Lilith.

Ao alcançar a porta, Lúcifer ajeitou o colarinho do paletó, respirando fundo, enquanto Alastor, por um breve segundo, lançou-lhe um olhar tranquilizador. Lúcifer esboçou um leve sorriso em resposta; a presença de Alastor era como um ponto de equilíbrio. Antes que pudesse bater, a porta se abriu, e uma menininha de cabelos dourados surgiu, vestindo um delicado vestido de renda que contrastava com o clima sombrio de Londres. Era Charlie, sua filha, a própria personificação da luz e da alegria. Ela estendeu os braços assim que viu o pai, e o sorriso em seu rosto era tão puro que fez o coração de Lúcifer se aquecer instantaneamente.

Charlie disparou na direção dele com os passos rápidos de uma criança que não via o pai há tempos.

- Papai! Você voltou! - Ela exclamou, a voz leve e cheia de entusiasmo, antes de se jogar em seus braços.

Lúcifer a ergueu do chão em um abraço apertado, seus braços ao redor da filha, sentindo o quanto ela havia crescido desde a última vez que a vira. Ele fechou os olhos por um breve instante, aproveitando aquele momento, como se o mundo lá fora pudesse desaparecer.

- Voltei, minha pequena. - Sussurrou com carinho, baixando-a novamente até que seus olhos ficassem na mesma altura. Ele segurou o rosto de Charlie com delicadeza, acariciando a pele macia dela com o polegar, antes de lhe dar um beijo suave na testa. - E hoje trouxe alguém para você conhecer. O nome dele é Alastor, ele é... Um amigo do papai.

Ele se virou um pouco para Alastor, que até então observava a cena com um sorriso leve, mantendo-se discreto. Agora, Alastor deu um passo à frente, abaixando-se até a altura da pequena, o terno escuro e impecável contrastando com o ar um pouco travesso em seu rosto.

- É um prazer conhecê-la, senhorita. - Ele estendeu a mão em um gesto educado, mas seu sorriso tinha uma suavidade incomum, quase cativante, mostrando uma gentileza que poucas vezes ele exibia com tamanha transparência.

Charlie o observou por um segundo com a curiosidade intensa de uma criança. Ela analisou a expressão de Alastor e o modo como ele falava, um tanto desconfiada, mas interessada. Finalmente, abriu um sorriso tímido e apertou a mão dele com determinação, o tipo de gesto que Lúcifer havia lhe ensinado.

- Você gosta de histórias, senhor Alastor? - Ela perguntou, inclinando a cabeça levemente, avaliando-o como se decidisse se ele era alguém com quem valeria a pena compartilhar suas aventuras.

Alastor sorriu ainda mais, como se fosse cativado por sua atitude, e respondeu com um ar de confidência.

- Oh, sou fascinado por histórias, minha querida. - Disse, mantendo o tom divertido. - E eu certamente adoraria ouvir as suas, se você me contar, é claro.

O rosto de Charlie iluminou-se com a resposta, como se tivesse encontrado alguém que compartilhava de seu gosto pela imaginação.

Eles trocaram um olhar de cumplicidade, um entendimento tácito que parecia transcender as palavras. Era como se, em um piscar de olhos, uma conexão já estivesse se formando entre Charlie e Alastor, baseada na inocência da menina e na curiosidade genuína do homem.

Sussurros na Escuridão | RadioAppleOnde histórias criam vida. Descubra agora