Sussurros na Escuridão | RadioApple

Capítulo 14: À Beira da Escuridão

Nos dias que se seguiram, Lúcifer tentou retomar a rotina, mesmo com a mente e o coração pesados. A cidade ao seu redor parecia continuar em seu ritmo normal, indiferente ao tumulto interno que ele enfrentava. Cada passo que ele dava em direção à emissora era um esforço consciente para manter a fachada de normalidade. O prédio familiar da emissora, com suas paredes acolhedoras e o som constante de vozes e música, oferecia um breve alívio.

Ao entrar, ele foi imediatamente recebido por Stolas, cujo olhar agudo captou as sombras no semblante de Lúcifer. Stolas, sempre atento aos detalhes, estendeu a mão em um gesto de boas-vindas, seu rosto refletindo uma preocupação genuína.

⎯ Como você está, meu caro? ⎯ perguntou Stolas, sua voz carregada de preocupação e suavidade, enquanto colocava uma mão reconfortante no ombro do amigo.

Lúcifer forçou um sorriso, tentando esconder a turbulência que o consumia por dentro.

⎯ Estou bem, na medida do possível, meu amigo. ⎯ respondeu ele, tentando soar convincente. A verdade em suas palavras mascarava a dor mais profunda que o afligia, uma dor que ele não podia compartilhar completamente.

Stolas, percebendo a luta interna de Lúcifer, ofereceu um abraço breve e reconfortante.

⎯ Se precisar conversar, estarei aqui. ⎯ disse ele, sua voz baixa e cheia de empatia.

O estúdio da emissora estava imerso na atividade de sempre, com técnicos ajustando equipamentos, locutores revisando roteiros e o som constante de música e vozes ecoando pelos corredores. No entanto, para Lúcifer, tudo parecia um borrão distante. Ele se dirigiu à sua sala, tentando encontrar conforto na familiaridade do trabalho.

Sentado em sua cadeira, Lúcifer tentou se concentrar nas tarefas diárias, mas as memórias da noite fatídica continuavam a invadir seus pensamentos. A brutalidade das mortes de Vox e Valentino estava gravada em sua mente, cada detalhe vívido e perturbador. As imagens vinham à tona nos momentos mais inoportunos, transformando seus dias em uma luta constante para manter a compostura.

Lúcifer respirou fundo, tentando focar-se no presente. Ele sabia que, de alguma forma, precisava encontrar uma maneira de lidar com seus demônios internos.

Ele olhou para a mesa de trabalho, onde fotos de sua filha sorriam para ele. A saudade de sua pequena era um peso constante em seu peito, exacerbado pelas dificuldades no relacionamento com Lilith, sua ex, que há tempos o impedia de ver a menina. Essa dor, pelo menos, ele podia compartilhar com Stolas, que sabia do sofrimento causado por essa distância forçada.

O projeto em parceria com Stolas estava se revelando uma válvula de escape para Lúcifer em meio ao turbilhão emocional que enfrentava. Ele se entregava de corpo e alma ao desenvolvimento das novas ferramentas para a rádio, mergulhando nos detalhes técnicos com uma determinação incansável. Cada peça, cada ajuste era meticulosamente planejado por sua mente perspicaz, enquanto visualizava como poderiam revolucionar as transmissões.

Lúcifer, sempre tão perspicaz e engenhoso, havia projetado novos equipamentos que prometiam revolucionar a qualidade das transmissões. Com sua habilidade técnica, trabalhava incansavelmente para trazer essas ideias à vida.

Nos momentos de teste, Lúcifer não podia deixar de sentir uma mistura de ansiedade e expectativa ao ver Alastor se preparar para usar os equipamentos. O rádio era o meio pelo qual Alastor expressava sua arte, sua voz ressoando pelos estúdios de forma envolvente e magnética. Lúcifer observava com admiração e orgulho o profissionalismo com que o radialista se dedicava ao trabalho, absorvendo cada nota, cada inflexão vocal que saía dos alto-falantes.

Havia uma conexão especial nesses momentos, uma troca silenciosa de entendimento e apoio mútuo entre eles. Para Lúcifer, essas interações não eram apenas sobre testar equipamentos; eram uma âncora na sua realidade tumultuada, um lembrete de que ainda havia beleza e propósito em seu mundo.