Capítulo 01 - Demônio de Nova Orleans

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Nova Orleans, 1932. Era uma cidade que pulsava ao ritmo do jazz, mas cujas ruas também ecoavam o desespero da Grande Depressão. Os efeitos econômicos devastadores estavam em todos os lugares: homens e mulheres perambulavam pelas ruas em busca de trabalho, lojas fechavam suas portas uma a uma, e a fome era uma companheira constante para muitos.

No coração do French Quarter, o bar de jazz "Lágrimas de Bourbon" era um refúgio para aqueles que ainda buscavam um pouco de consolo na música. O som dos trompetes, saxofones e pianos ecoava nas noites úmidas, oferecendo um breve alívio das preocupações diárias.

Alastor, um jovem charmoso de cabelos castanhos e olhos âmbares, adentrou no bar. Ele era conhecido tanto por seu charme quanto por seu mistério. Com seus cabelos castanhos sempre bem penteados, ligeiramente ondulados, caindo suavemente sobre a testa, ele tinha uma aparência impecável que exalava elegância e atenção aos detalhes. Sua pele morena era um testemunho de sua herança mestiça, filho de uma mãe negra e um pai francês. Ele usava óculos de armação fina, que acrescentavam um toque intelectual à sua presença marcante, e suas roupas eram sempre elegantes, milimetricamente arrumadas, cada detalhe cuidadosamente escolhido para transmitir uma imagem de sofisticação e controle.

O rapaz era órfão desde os seus quinze anos de idade. Seus pais ⎯  uma talentosa cantora de jazz e um imigrante francês, foram assassinados cruelmente em um ataque violento que nunca foi resolvido ⎯  ou, pelo menos, era o que as autoridades haviam concluído na época. A lembrança da noite em que se deparou com os corpos de seus pais sem vida ainda o assombrava, o modo que haviam sido cruelmente assassinados alimentava a escuridão que crescia dentro dele. Sem parentes próximos e sem ninguém para cuidar dele, Alastor foi forçado a se virar sozinho nas ruas de Nova Orleans. Trabalhou em diversos empregos para sobreviver, mas foi sua voz hipnótica que finalmente lhe abriu portas.

Ele conseguiu um emprego como locutor em uma rádio famosa e infame, onde sua voz atraía uma legião de ouvintes. Com o tempo, ele economizou o suficiente para alugar um pequeno apartamento no centro da cidade. O apartamento, localizado em um prédio antigo, refletia sua vida simples. Consistia em um quarto modesto, uma cozinha minúscula, e uma sala de estar que também servia como seu estúdio pessoal. As paredes eram decoradas com pôsteres de músicos de jazz e discos antigos, criando um ambiente aconchegante que contrastava com o luxo do French Quarter.

A mobília era básica: uma cama de ferro com um colchão firme, uma poltrona desgastada que ele usava para ler e um rádio antigo, seu bem mais precioso, onde ele passava horas ouvindo e aprimorando suas transmissões. Uma estante de madeira cheia de livros sobre música e mistério preenchia um canto da sala, e na cozinha, os utensílios eram poucos, mas sempre organizados.

Nas horas vagas, ele também se apresentava como cantor no "Lágrimas de Bourbon", sua paixão pelo jazz sendo o fio condutor que unia sua vida pública e privada.

O "Lágrimas de Bourbon" era mais do que apenas um bar de jazz. Era um santuário de notas melódicas e vibrações emocionais que ecoavam pelas paredes de madeira desgastadas. À noite, quando as luzes se abaixavam e a fumaça de cigarro pairava no ar, o lugar se transformava em um palco para os sonhos e as dores da alma.

Era lá que Alastor encontrava sua verdadeira essência. Longe dos microfones da rádio e dos corredores sombrios de sua mente, ele se entregava completamente à sua paixão pelo jazz. O palco do "Lágrimas de Bourbon" era seu refúgio, onde sua voz profunda e cativante encontrava liberdade para expressar as emoções mais profundas.

Alastor não era apenas um cantor; ele era um conto de fadas moderno, um feiticeiro das palavras e das melodias que encantava e hipnotizava sua plateia. Seus movimentos eram uma dança entre as notas, fluídos e graciosos, como os de um dançarino no auge de sua arte. Ele navegava pelas canções com uma maestria que era ao mesmo tempo impressionante e envolvente, cativando os corações dos espectadores com cada palavra cantada.

Sussurros na Escuridão | RadioAppleOnde histórias criam vida. Descubra agora