DESPERTOS - A ESCOLHA

V - O DESPERTAR DA VISÃO

Pois, embora vivamos como homens, 

não lutamos segundo os padrões humanos

           Ao despertar em um lugar que parecia ter sido esculpido pela própria magia, me vi envolta por uma sensação de admiração e perplexidade. A vastidão do quarto era quase avassaladora, com sua cama majestosa adornada por cortinas de seda que tremulavam suavemente ao vento. À minha volta, as paredes de mármore branco refletiam a luz suave que emanava da janela. Cada detalhe, desde os móveis finamente esculpidos até os tapetes macios que adornavam o chão, parecia ter sido meticulosamente planejado para inspirar reverência. A sensação de leveza que me envolvia era quase tangível, como se as preocupações do mundo exterior tivessem sido dissipadas pela atmosfera serena daquele lugar encantado.

           Minha atenção foi então capturada por uma mesinha ao lado da cama, onde repousava uma roupa escura e elegante, feita de couro fino e adornada com intrincados desenhos dourados. Ao examiná-la mais de perto, pude sentir a textura suave do tecido e admirar os detalhes meticulosos da costura. Um leve sorriso brincou em meus lábios enquanto eu contemplava a vestimenta, sentindo uma estranha sensação de destino iminente pairando no ar. Com um suspiro de resignação e uma pitada de excitação, vesti as roupas que pareciam ter sido feitas sob medida para mim. Ouvi as batidas na porta e arrumei minha postura, já sabia quem era.

— Entre.

           Ian adentrou o quarto com uma presença magnética, vestindo roupas que refletiam uma aura de mistério e elegância. Seu traje, semelhante ao meu, ostentava um brilho verde que ecoava a tonalidade hipnotizante de seus olhos. Os cabelos rebeldes adicionavam um ar de desalinho calculado ao seu rosto impassível. Ao estender a mão para mim, como um convite para adentrar o desconhecido, senti um arrepio percorrer minha espinha. Seu toque carregava uma energia intensa que fazia meu coração bater mais rápido. Aceitei o convite sem hesitação, alimentando uma sensação de excitação misturada com um leve nervosismo. Antes de começarmos a caminhar, Ian se virou para mim, seus olhos transmitindo uma gratidão genuína.

— Você verá que fez a escolha certa, agora vai aprender o ofício. — Ele então largou a minha mão e senti falta da dele. — Vamos.

           Ian avançava com determinação pelo estreito corredor, seus passos rápidos. Eu me encontrava em um estado de completa desorientação, sem ter ideia de nossa localização. No entanto, em meio à incerteza, uma confiança silenciosa se estabelecia entre nós. A verdade, pensei enquanto andava, é que eu sempre quis fugir da minha vida, pois meu lugar não parecia aquele.

— Então, são essas roupas que você costuma usar?

— Vizinha, vai ter algo que você logo vai perceber, o mundo como nós o vemos, não é somente isso, existe outro que não é visível para os seres humanos, mas nós, conseguimos ver muito bem, e essas roupas são essenciais para que sobrevivamos nele.

— Acho que não sou mais sua vizinha.

— Acharei outro apelido para você. — Ele parou em frente a uma grande e pesada porta de madeira.

            Entramos em uma sala ampla, banhada pela luz do sol, mas ao mesmo tempo aberta ao ar livre. Pessoas transitavam livremente, todas vestindo roupas semelhantes às nossas, imersas em suas próprias ocupações. O ambiente estava impregnado de uma atmosfera de atividade constante, como se cada indivíduo estivesse mergulhado em sua própria jornada.

           No meio dessa multidão, uma figura se destacava. Uma mulher com cabelos enrolados e pele escura radiante, que parecia emitir um brilho próprio. Seu olhar era penetrante e determinado, e sua altura rivalizava com a de Ian, emanando uma presença imponente e poderosa. À medida que se aproximava, uma sensação de impotência se apoderava de mim, como se estivesse diante de algo além do meu controle. Ela finalmente parou perto de nós, fixando seu olhar em Ian com uma intensidade que enviava arrepios pela minha espinha.