X - A VISÃO DESPERTA

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Cuidado para que a luz que está em seu interior não sejam trevas.

           Quando vi Ian na sala do conselho, meu coração disparou. Sem pensar duas vezes, corri em sua direção e o envolvi em um abraço apertado. Ele estava vivo, bem ali na minha frente, mesmo que a visão que eu tivera tivesse mostrado algo diferente. Seus braços envolveram-me de forma hesitante. A sala do conselho estava silenciosa, o ar carregado de tensão. As paredes de pedra, adornadas com tapeçarias antigas, absorviam o murmúrio inquieto dos presentes. Estela, com sua presença imponente, deu um passo à frente e pediu, com a voz firme, que eu contasse o que tinha acontecido.

           Engoli em seco e comecei a relatar minha visão. Cada palavra parecia pesar no ar, e à medida que eu falava, via as expressões de nervosismo se intensificarem nos rostos ao meu redor. Os olhos de Ian se arregalaram, refletindo uma mistura de medo e confusão. Estela franziu a testa, seus dedos tamborilando no braço da cadeira em que estava sentada.

— Não sabemos se os neshers sabem a localização do nosso esconderijo, ou se conhecem a casa de Ian — Eu disse, a voz tremendo um pouco. Tentei acessar minha visão novamente, mas uma dor aguda atravessou minha cabeça, fazendo-me ofegar. — Minha cabeça dói demais. Não consigo mais usar meu dom e não faço ideia do porquê.

           Estela respirou fundo, olhando ao redor da sala antes de falar.

— Precisamos nos preparar, caso eles realmente cheguem.

           Laura, Eduardo e Arthur – o homem cujo nome eu acabara de aprender – concordaram de imediato.

— Vamos lançar um alerta, — Disse Eduardo, sua voz cheia de determinação. — todos devem estar prontos.

           Ian olhou para mim, preocupação evidente em seus olhos.

— Também precisamos esvaziar a casa e encontrar outro lugar para ficar. — Disse ele, seu tom firme mas gentil.

           Eu assenti, sentindo um nó se formar em meu estômago. Quem quer que fossem os neshers, o medo de que nos encontrassem era palpável. Os vulpes ao nosso redor pareciam compartilhar esse temor, suas expressões revelando o mesmo pavor que eu sentia.

           O conselho se dispersou rapidamente, cada um assumindo suas responsabilidades com uma eficiência silenciosa. Ian e eu trocamos um olhar preocupado antes de nos dirigirmos para a saída. O medo estava lá, mas também havia uma determinação silenciosa. Precisávamos nos manter seguros, encontrar um novo refúgio e, acima de tudo, estar preparados para o que viesse. Ao chegarmos na casa, meu coração apertou ao ver a porta escancarada. O interior estava completamente revirado, como se um vendaval tivesse passado por ali. Livros e objetos estavam espalhados pelo chão, mas algo ainda mais perturbador chamou nossa atenção: muitos dos livros haviam desaparecido. Ian olhou ao redor com olhos ardentes de raiva, a mandíbula cerrada com tanta força que os músculos do pescoço se destacavam. Nunca o tinha visto assim, tão furioso e descontrolado.

— Alguém nos seguiu, — Ele disse, a voz grave e cortante. — provavelmente desde que enfrentamos o celeste. Devem ter nos vigiado o tempo todo. — Seus olhos encontraram os meus, e eu sabia que ele tinha razão, pois eu havia sentido a presença de alguém nos vigiando, e a culpa só podia ser toda minha. — Precisamos sair daqui, agora.

           Antes de partir, olhei para a casa ao lado – a casa daqueles que um dia foram meus pais. As janelas estavam escuras e a fachada parecia desolada. Fiz uma despedida silenciosa, sabendo que talvez nunca mais os visse. Um turbilhão de memórias invadiu minha mente, mas não havia tempo para nostalgia ou arrependimentos. Juntei-me a Ian e ao grupo de vulpes, um pequeno grupo de dez pessoas, e seguimos em silêncio pela noite.

DESPERTOS - A ESCOLHAOnde histórias criam vida. Descubra agora